segunda-feira, 19 de maio de 2008

O pensamento de Paul Klee

Pintura de Paul Klee, Revolving House (1921, Museu Thyssen-Bornemisza, Madrid).
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O pensamento de Klee inscreve-se na filosofia da Europa central, onde proliferam teorias de pensamento estético em que há uma analogia entre a criação artística e a natureza. Klee foi também formado num contexto do Simbolismo alemão e suíço, interessado no enigma do destino humano. Para ele, a expressão do "eu" unia-se ao conceber a obra de arte, com a expressão da totalidade da natureza.
Klee considerava que a pintura era uma arte temporal, tal como a música. Mas para ele tempo não não se tratava de uma representação de movimento. O tempo é o da génese, a obra é em si movimento e está inscrita na duração, no crescimento, na mutação e na metamorfose. Tempo é o que se leva a conceber a obra e a observá-la. Os seus «quadros-poema» introduzem explicitamente o carácter temporal no processo de observar, mas mesmo outros trabalhos foram construídos de modo a que o olhar do observador levasse tempo a percorrê-los.
O diálogo do artista com a natureza era para Klee condição sine qua non. Mas esse diálogo não era necesariamente uma impressão do exterior, mas antes uma expressão interiorizada do mundo. Nos «Estudos da natureza» Klee traçou um diagrama que integrava o artista, o objecto, a terra e o mundo. O artista sintetizava a visão interior e exterior, numa relação total entre o "eu" e a natureza. Na conferência de Iena, Klee comparou o artista com uma árvore: assim como as raízes transmitem seiva ao tronco, a partir da qual se desenvolve a copa da árvore, o artista parte da natureza e molda a sua experiência na obra. Ninguém espera que a copa de uma árvore seja idêntica às raízes, assim também uma obra não deverá ser meramente uma representação da aparência do objecto. As realidades da arte «não reproduzem o visível com mais ou menos temperamento, mas tornam visível um a visão secreta». A arte é uma imagem da criação, assim como o mundo terrestre é um símbolo dos cosmos.
A noção de interioridade da representação torna-se ainda mais explícita quando Klee fala do auto-retrato. Segundo ele deve-se ter em mente «que não estou aqui para reflectir a superfície (uma fotografia pode fazer isso), mas deve-se olhar para dentro. Eu reflicto o mundo do coração. Escrevo as palavras na testa e em torno dos cantos da boca. As minhas caras humanas são mais verdadeiras do que as reais». Para ele o acto de ver é mais do que a percepção óptica imediata, inclui também associações e sentimentos, coisas e acontecimentos há muito armazenados na memória.
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Texto de Margarida Elias.

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