sexta-feira, 13 de junho de 2008

O Santo António de Columbano


Pintura de Columbano Bordalo Pinheiro, Santo António (1898, Museu do Chiado, Lisboa).
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Em 1895, em Lisboa, festejou-se o Centenário de Santo António, sendo Columbano convidado por João Vaz a colaborar nessa celebração. João Vaz fazia parte da organização das comemorações e pediu a Columbano uma pintura com um dos milagres para o pendão que iria figurar na procissão. O artista não chegou a fazer essa obra, talvez por se sentir sem possibilidade de a conceber num espaço de tempo tão reduzido. No entanto, o convite tê-lo-á inspirado, pois três anos mais tarde pintou o mesmo tema numa tela que está hoje no Museu do Chiado.
O quadro de Murillo representando Santo António que se encontra no Museu de Sevilha foi reproduzido n' O Occidente, a 25 de Junho de 1895. Nesse número da revista, Caetano Alberto lamentava: «É para notar a quantidade de télas que os pintores hespanhoes dedicaram ao nosso santo portuguez (...): enquanto que de pintores portuguezes não se conhece obra de mais vulto em que figure o Thaumaturgo». Esta afirmação não é verdadeira, mas não deixa de sucitar um estado de espírito que possivelmente influenciou Columbano, ao experientar dedicar-se a este assunto. Na Histoire de l’Art dirigida por André Michel, em 1926, notava-se que Columbano lutara com armas semelhantes às de Murillo, esforçando-se por «banhar numa luz divina, emanada do menino Jesus, o encantamento místico de um pobre monge vulgar, Santo António de Lisboa».
Em 1898, o artista já trabalhava no quadro e fez um estudo para o Menino Jesus, um desenho a lápis que hoje faz parte da colecção do Museu do Chiado. Não encontrámos um estudo completo da obra, mas é de notar que, talvez por não se conhecer qualquer retrato autêntico de Santo António, Columbano se tenha sentido na liberdade de tomar como referência o rosto de sua mulher, masculinizando-o numa atitude não tendente a escandalizar e que dá ao santo um aspecto mais idealizado. O quadro traz à memória os de Murillo, mas simplificando-os, ao reduzir o número de intervenientes às figura do Santo e do Menino. Parecendo surpreendido, ao deixar cair no chão o livro sobre o qual meditava, o Santo é iluminado pelo Menino, que surge envolto numa nuvem, deixando o restante quadro numa indefinição obscurecida e transpondo o acontecimento para um espaço místico não definido.
A tela foi apresentada na Exposição Universal de Paris de 1900, tendo sido uma das poucas que sobreviveu à viagem de retorno para Lisboa. Muitos quadros seriam perdidos, por terem sido transportadas no navio Santo André, o qual naufragou no caminho. Como o pintor escreveu mais tarde, «Escapou por milagre o Sto. António que não veio num navio».
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Texto de Margarida Elias.

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