segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Com um tempo assim, só apetece estar em casa... I

Alberto Sousa, Lareira (Colecção de postais com motivos de Estremoz).
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Cada Coisa a seu Tempo Tem seu Tempo
Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos.

À noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida.

À lareira, cansados não da obra
Mas porque a hora é a hora dos cansaços,
Não puxemos a voz
Acima de um segredo,

E casuais, interrompidas, sejam
Nossas palavras de reminiscência
(Não para mais nos serve
A negra ida do Sol) —

Pouco a pouco o passado recordemos
E as histórias contadas no passado
Agora duas vezes
Histórias, que nos falem

Das flores que na nossa infância ida
Com outra consciência nós colhíamos
E sob uma outra espécie
De olhar lançado ao mundo.

E assim, Lídia, à lareira, como estando,
Deuses lares, ali na eternidade,
Como quem compõe roupas
O outrora compúnhamos

Nesse desassossego que o descanso
Nos traz às vidas quando só pensamos
Naquilo que já fomos,
E há só noite lá fora.
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Ricardo Reis.

6 comentários:

Presépio no Canal disse...

So agora ouvi a musica do post anterior. Gostei muito! A ver se encontro esse cd quando ai for. E muito relaxante.
O postal de Estremoz e um encanto! Eu gosto muito de lareiras. Este postal e muito inspirador e faz-nos imaginar o crepitar das chamas, as conversas, a comida feita a lareira. Deve ser muito bom.
Fizeste-me lembrar tambem que gosto muito
das lareiras das casas Holandesas e Flamengas dos seculos XVI/ XVII. Gosto muito dos azulejos, sobretudo daqueles com os jogos infantis. As mais bonitas, para mim, sao as da Casa de Rubens em Antuerpia.

ana disse...

O poema é lindíssimo!
A lareira, o quotidiano calmo e tranquilo que o crepitar do fogo proporciona criam uma atmosfera serena para olhar melhor este dia.

Partilho do gosto por lareiras e azulejos como foca a Sandra.
Beijinhos, Margarida!:)

Margarida Elias disse...

Sandra: Também gosto muito de lareiras. Na quinta da minha avó (Redondo), ficava horas sentada ao pé da lareira, a olhar para o fogo.
Ontem vi o filme "Christmas Carol" e aparece uma lareira dessas com azulejos, lindíssima. Gostava de ver essa do Rubens. Eu tenho lareira cá em casa, mas sem azulejos. Está sem funcionar até os meus filhos serem mais crescidos. Talvez ainda me atreva a acendê-la este ano.
Bj e boa terça-feira!

Ana: Tem razão, as lareiras proporcionam uma atmosfera serena. Dão conforto. Bj e boa terça-feira!

LUIS BARATA disse...

Aqui na capital, a manhã foi de chuva mas agora o sol brilha.

Margarida Elias disse...

Luís Barata: Aqui, em Torres, também parece estar a melhorar, mas os meteorologistas já andam a ameaçar com mais vento...

Presépio no Canal disse...

Gosto muito quando partilhas as tuas memorias do Redondo :-) Tambem imagino como seria na Quinta do Alperce, ja em Lisboa. :-)
Um dia que venhas a Holanda, se quiseres, podemos ir a Antuerpia para ver a Casa de Rubens. De carro e rapido. Nao e minha cidade Belga favorita, mas gosto da Casa de Rubens, do Centro historico e de um bar cheio de Santos, muito pitoresco. Tambem e muito interessante ver os Judeus Ortodoxos com as roupas tradicionais. Eu ia com outra ideia do bairro onde eles vivem e fiquei um bocado desiludida (talvez por influencia do Marais em Paris, que eu adoro, fui com uma ideia preconcebida).
Pelo Rubens, vamos la! :-)
Beijinhos!!
Podes ver fotos da cidade aqui:
http://presepiocomvistaparaocanal.blogspot.com/search/label/Antwerp