domingo, 6 de março de 2011

Caminhos II

José Malhoa, Paisagem - Figueiró dos Vinhos - Abel Manta, Vista de Folgosinho (1925, Museu de Grão Vasco).
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Canto para uma voz II

Fui eu quem desceu à praia.
São de areia as minhas mãos
e são de mar os meus olhos.

(Vou pela vida cantando;
canto triste ou canto alegre
conforme chove ou faz vento)

Fui eu quem desceu ao vale.
São de pedras os meus olhos
e é transparente o olhar.

(Pelo mar vou navegando;
se há vento vou singrando
se não há fico a cismar)

Fui eu quem subiu à serra.
Os plátanos são meus desejos
e os matagais meus caminhos.

(Pelos montes vou consagrando;
tudo o que tenho e não tenho
seja feliz ou não seja).

Fui eu quem deixou a terra,
e pelo mar-oceano
deixou pedaços de olhar.

(Crescem urzes na planície,
sobem ciprestes nos vales
e eu canto triste ou alegre
conforme posso cantar.)
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João Mattos e Silva (1972).

4 comentários:

Presépio no Canal disse...

O teu tio tem poemas lindissimos!
Tenho de ver se encontro um livro dele quando for a Portugal.
Beijinhos e uma excelente semana! :-)

Margarida Elias disse...

Sandra: É verdade, ele e um grande poeta! Bj!

ana disse...

Margarida,
É muito bonito este poema. Tenho o privilégio de conhecer dois livros de poesia, "Intemporal" e "Sem Contorno".
Um lindo poema para começar bem o dia!
Beijinhos. :)

Margarida Elias disse...

Ana: Ainda bem que gostou. Bj!