quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Júlio Maria dos Reis Pereira

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Todos os Dias
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Todos os dias
nascem pequeninas nuvens,
róseas umas,
aniladas outras,
nacaradas espumas...

Todos os dias
nascem rosas,
também róseas
ou cor de chá, de veludo...

Todos os dias
nascem violetas,
as eleitas
dos pobres corações...

Todos os dias
nascem risos, canções...

Todos os dias
os pássaros acordam
nos seus ninhos de lãs...

Todos os dias
nascem novos dias,
nascem novas manhãs...
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Saúl Dias, in Essência (1973).
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Sempre tive uma certa admiração por pessoas versáteis e há pouco tempo descobri mais uma: Júlio Maria dos Reis Pereira (1902-1983), que foi engenheiro, pintor, poeta e coleccionador. 
Irmão de José Régio (1901-1969), nasceu em Vila do Conde, em 1902. Formou-se em Engenharia Civil pela Faculdade de Ciências do Porto (1919-1928) e ingressou também na Escola de Belas-Artes dessa cidade para adquirir formação artística. Como artista plástico colaborou nas obras de José Régio e na revista Presença. Realizou uma exposição individual em 1935, mas já três anos antes, em 1932, publicara, sob o pseudónimo de Saul Dias, um livro de poesia. No ano de 1936 participou na Exposição dos Artistas Modernos Independentes (sob o pseudónimo "Júlio"), figurando ao lado de pintores como Almada Negreiros e Vieira da Silva. No mesmo ano de 1936, entrou ao serviço da Direcção-Geral dos Edifícios e dos Monumentos Nacionais, primeiro em Coimbra e um ano depois em Évora, onde assumiu o cargo de Director dos Edifícios do Sul. Na cidade Alentejana viveu e trabalhou até 1972, quando, já reformado, regressou a Vila do Conde. Começou a coleccionar, desde 1942, «Bonecos de Estremoz», constituindo uma fabulosa Colecção de 375 peças, que juntou ao longo de 28 anos. Vendeu as peças à Câmara Municipal de Estremoz em 1971, sendo estas expostas no Museu Municipal de Estremoz em 1975. Como artista, expôs também em São Paulo (Brasil) (1953) e venceu o primeiro prémio de desenho no IV Salão de Outono do Estoril (1958). Escreveu numrosos livros de poesia, destacando-se A Obra poética de Saul Dias, publicada em 1962.
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5 comentários:

Presépio no Canal disse...

Que interessante! Desconhecia.
Gostei imenso do poema! Transmite muita positividade!
Obrigada pela partilha, Margarida!
Bjs!

ana disse...

Margarida,
Já conhecia mas não esta tela.
Muito bonito o conjunto cromático com o poema.
Beijinhos! :)

APS disse...

Há no seu poste, Margarida, muitas coisas de que gosto. Das menores: os bonecos de Estremoz, referidos. Depois, Júlio que, embora influenciado por Chagal, tem pinturas e aguarelas muito bonitas. E, "last but not the least", a discreta, muito simples e bela poesia de Saul Dias.
Ah! já me esquecia, Júlio era nativo do Escorpião..:-)

www.amsk.org.br disse...

Não conhecia nada, amei a tela e a poesia.

obrigada Margarida

Margarida Elias disse...

Sandra: Eu também achei que o poema transmitia uma noção de positividade. Obrigada e bjns!

Ana: Conhecia o pintor e o director dos edifícios do Sul, mas não sabia que eram a mesma pessoa e que (ainda por cima) também era poeta e irmão do José Régio... Bjs!

APS: Concordo com as suas opiniões. E também notei que ele era escorpião...:)

Cozinha dos Vurdóns: Obrigada e bjs a todas!