quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Pão por Deus

Gabriël Metsu, A Baker Blowing his Horn (c.1660).
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Antigamente, os vendedores costumavam tocar uma corneta para chamar a clientela. A loja do padeiro, nos séculos XV-XVIII, tinha uma abertura em arco, sendo fechada em baixo por um murete que servia para colocar as mercadorias. Nesta pinturas, vemos também as etapas da panificação, figuradas em segundo plano, para aludir às dificuldades da vida e às provas que têm de ser vencidas em cada dia.
O pão é a base da alimentação, o meio essencial da subsistência. Desde a Antiguidade, pelo menos, que o pão era um dom dos deuses. Os gregos associavam o pão a Deméter (Ceres para os romanos), que era a deusa que teria ensinado aos homens a arte da agricultura e em particular da cultura dos cereais.
No Antigo Testamento o pão é simbolo da Providência Divina e, no Novo Testamento, torna-se no alimento divino por excelência, simbolizando a caridade e a consolação, tanto no sentido físico como no espiritual. O pão liga-se à Eucaristia, onde se transfigura, pela fé, no Corpo de Cristo.
Segundo a Wikipedia, em Portugal, especialmente na zona centro e estremadura, no dia 1 de novembro, dia de Todos-os-Santos, as crianças saem à rua e juntam-se em pequenos bandos para pedir o pão-por-deus (ou o bolinho) de porta em porta. As crianças quando pedem o pão-por-deus recitam versos e recebem como oferenda: pão, broas, bolos, romãs e frutos secos, nozes, tremoços amêndoas,ou castanhas que colocam dentro dos seus sacos de pano, de retalhos ou de borlas. É também costume em algumas regiões os padrinhos oferecerem um bolo, o Santoro. Em algumas povoações chama-se a este dia o "Dia dos Bolinhos" ou "Dia do Bolinho". Os bolinhos típicos são especialmente confecionados para este dia, sendo à base de farinha e erva doce com mel (noutros locais leva batata doce e abóbora) e frutos secos como passas e nozes. 
Esta atividade é principalmente realizada nos arredores de Lisboa, relembrando o dia 1 de Novembro de 1755, quando do terramoto de Lisboa, em que as pessoas, que viram todos os seus bens serem destruídos na catástrofe, tiveram que pedir "pão-por-deus" nas localidades que não tinham sofrido danos.

No livro Canta o Galo Gordo, lembra-se esta tradição:


Pão-por-Deus,
Ou um bolinho,
P`ra levar neste saquinho.
Bolinhos
Ou bolinhós,
P`ra levarmos aos avós. 

Se nos der
Algum Bolinho,
É porque é um bom vizinho.
Se não der
Mesmo nadinha,
Cheira mal esta cozinha!

Não é preciso dar muito,
O que conta é a intenção!
Pão-por-Dues, é hoje o dia...
Abra a porta e o coração!

link
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Bibl.: Silvia Malaguizzi, Boire et manger, traditions et symboles, repères iconographiques, Paris, Éditions Hazan, 2006.

6 comentários:

Presépio no Canal disse...

Tão interessante esta tradição! A primeira vez que ouvi falar dela foi através de ti! :-)
Gostei muito deste post!
Bjs!

ié-ié disse...

http://www.guedelhudos.blogspot.pt/2012/10/halloween-portugues.html

lt

Margarida Elias disse...

Obrigada Sandra! Bjs!

www.amsk.org.br disse...

Lindo Margarida,

adorei saber da história e a tela é bem bonita. Deve ter sido uma época difícil.

bjs nossos e bom final de semana.

Margarida Elias disse...

É bem verdade. Bjs!

MR disse...

Gostei muito deste post.