quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A sombra

Gerda Graff (1914).
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Eu tenho uma amiga, a sombra,
que anda comigo e não fala.
Por mais que eu puxe conversa,
sempre a marota se cala.

Logo que corro para o sol,
estende-se a sombra no chão.
Pisam-na todos os pés
e senta-se nela o cão.

Salta para trás e para a frente,
pula para cima, para o lado,
mas parece que está presa
à sola do meu calçado.

Faz tudo aquilo que eu faço:
macaca de imitação!
Até se lhe dou um estalo
me quer dar um safanão.

Eu sou branco, ela é preta,
Ando em pé, ela deitada.
Mas nunca nos separamos
até ser noite fechada.
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Luísa Ducla Soares, Poemas da mentira e da verdade, Livros Horizonte, 1999.

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