terça-feira, 13 de agosto de 2013

Bibliotecas

«- É verdade - disse admirado. Até então tinha pensado que cada livro falava das coisas, humanas ou divinas, que estão fora dos livros. Agora apercebia-me que, não raro, os livros falam dos livros, ou melhor, é como se falassem entre si. À luz desta reflexão, a biblioteca pareceu-me ainda mais inquietante. Era portanto o lugar de um longo e secular sussurro, de um diálogo imperceptível entre pergaminhos e pergaminhos, uma coisa viva, um receptáculo de poderes que uma mente humana não podia dominar, tesouro de segredos emanados de tantas mentes, e sobrevivendo à morte daqueles que os tinham produzido ou deles se tinham feito mensageiros (...).»
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Umberto Eco, O Nome da Rosa, p. 269.

5 comentários:

MR disse...

Não sei se conhece um livrinho de Umberto Eco, que foi bibliotecário, chamado A biblioteca. É uma delícia.

Margarida Elias disse...

Tenho de procurar.

ana disse...

O Nome da Rosa encanta.
Também não conheço o livro que MR indica.
:))

LuisY disse...

Este texto é muito curioso para mim, já que sou bibliotecário, e tenho que catalogar, classificar, cotar e arrumar todas essas vozes, todos esses pensamentos de gente morta há muito e que escrevem acerca uns dos outros. Muitas das vezes trato deles com frieza e distância e até com mau humor, como um médico trata os doentes num banco do hospital. Por vezes, deixo-me dominar pelo silêncio da biblioteca e começo a ler aqui e ali, quase como quem foge a um dever profissional.

Também é interessante conduzir ou ajudar os outros nas pesquisas bibliográficas, como se de uma caça ao tesouro se tratasse e nessa altura conseguimos que os autores mortos há muito voltem a falar.

Margarida Elias disse...

Ana - Reler o «Nome da Rosa» ao fim de uns vinte anos é uma bela experiência porque não só relembro a história, como dou maior atenção aos detalhes históricos. Umberto Eco é um escritor muito culto, inteligente e cria personagens muito interessantes. Bjns!

Luís - A biblioteca em que trabalha é uma maravilha e deve estar cheia de preciosidades. E quanto a fazer de detective a procurar informação em livros, fazendo falar gente de outros tempos, também adoro.