sexta-feira, 8 de abril de 2016

Ecologia e Ambiente

-
Jean-Paul Deléage afirmou que a ecologia começou «formalmente, em 1866, com a invenção do termo por Ernst Haeckel», sendo interpretada como «a ciência da totalidade das relações do organismo com o ambiente» (Deléage 1993, 13). 
Etimologicamente, a palavra “ecologia” vem do grego oikos, que tem o significado de “casa” e “habitat”. Em termos filosóficos, a ecologia é uma «teoria ou doutrina que tem como objectivo uma melhor adaptação do Homem ao seu ambiente natural» (Clément et al. 1999, 109). 
Coloca-se então a questão sobre qual a diferença entre ecologia e ambiente. No livro Ecologia e ambiente (1993), de João Joanaz de Melo e Carlos Pimenta, foi afirmado que: 
«a ecologia é uma disciplina científica, um ramo das ciências da vida, enquanto o ambiente pode ser definido como o conjunto dos sistemas físicos, ecológicos, económicos e socioculturais com efeito directo ou indirecto sobre a qualidade de vida do Homem». (Teixeira 2011, 29) 
Os mesmos autores também referem que «existe uma ideologia, o ecologismo, que defende um estilo de sociedade no qual é dada uma importância crucial ao equilíbrio ecológico.» (Teixeira 2011, 29) 
Em 1992, Luc Ferry afirmou que existem duas doutrinas ecológicas: os fundamentalistas (ecologistas), para quem a Natureza tem um valor intrínseco e independente dos seres humanos; e os ambientalistas, para quem a Natureza deve ser protegida na medida em que é necessária à vida humana (Clément et al. 1999, 109). Estas definições são partilhadas por Andrew Dobson (1995), que separa o ambientalismo, mais antropocêntrico, do ecologismo, mais biocêntrico.

Samuel Hieronymus Grimm (ilustração) in Gilbert White, Natural History of Selborne (1789, ed. 1813).


A ecologia está relacionada com o desenvolvimento das ciências naturais, sobretudo da botânica e da zoologia, bem como da criação da noção de “ecossistema” (cf. Deléage 1993). Jean-Paul Deléage, na sua história da ecologia afirma: «O século XVIII, sobretudo no seu final, marca o apogeu dum manifesto interesse pela natureza, pois, se bem que a ligação a Deus não esteja ainda rompida, a pouco e pouco a natureza torna-se objecto apenas da ciência.» (Deléage 1993, 34) Tal como afirmou Jorge Calado, foi então que o homem encontrou a Natureza: «Ela é, a um tempo, o novo deus e o novo interlocutor. Cientistas e artistas passam a observá-la e a investigá-la de modo sistemático. Cultiva-se um novo comportamento e constrói-se uma nova ética» (Henriques, Castro 1993, 31). Trata-se de uma pré-ecologia, que Iria Vaz apelidou de “ecologia arcadiana”, e que foi representada, na segunda metade do século XVIII, por Gilbert White (1720-1793), um pastor protestante da aldeia inglesa de Selborne, autor de Natural History of Selborne, publicado em 1789. Iria Vaz liga a história do ambientalismo à história da conservação da natureza, pois afirma que o ambientalismo começou com os movimentos de conservação iniciados em meados do séc. XIX, na América do Norte, que precederam o actual movimento ambientalista (Vaz 2000, 14-15).

Casa de William Wordsworth, Rydal Mount (c. 1897)


Como é referido na frase supracitada de Jorge Calado, não foram somente os cientistas, mas também os artistas e outros intelectuais que passaram a encarar a natureza com outro respeito e atenção. A cultura do Romantismo ajudou a difundir a afeição pelo mundo natural, opondo-se aos excessos da industrialização. Conta-se que o poeta romântico William Wordsworth (1770-1850) apreciava fazer longas deambulações a pé. Henry David Thoreau (1817-1862), que era naturalista e poeta, afirmou, em 1851, no livro Birds of America: «A grande natureza preservará o mundo.» (Vaz, 2000, 18-19 e 38). 
Ao longo do século XIX, com o crescente progresso da ciência, a natureza ganhou maior impacto na cultura vigente. Auguste Comte (1798-1857), pai do Positivismo, no Curso de Filosofia Positiva, referiu-se à necessidade de harmonia entre os seres vivos e o seu meio. Em 1854, foi criada em França a Societé de Aclimation (actual Societé Nationale de Protection de la Nature). A primeira sociedade de ecologia, a British Ecological Society, foi fundada em Londres no ano de 1913, ano em que se deu o primeiro Congresso Internacional de Protecção da Natureza (Basileia, Suiça). Contudo, segundo Donald Worster, a «idade da ecologia» só teve início em 1942. Foi com o incremento da industrialização que o tema se tornou mais debatido. Durante bastante tempo, o «aparente sucesso» da industrialização, aliada a uma melhoria das condições de vida das populações nos países desenvolvidos, fizeram crer, para a maioria das pessoas, que o caminho da modernização era o mais racional – o que colocava aqueles que se opunham a esse progresso num papel de nostálgicos defensores de um «Éden pré-industrial que nunca existiu» (Teixeira 2011, 29).
-
Bibliografia:
Clément, Élisabeth, Demonque, Chantal, Hansel-Love, Laurence, Kahn, Pierre. 1999. Dicionário Prático de Filosofia. Lisboa: Terramar.
Deléage, Jean-Paul. 1993. História da Ecologia, Uma Ciência do Homem e da Natureza. Lisboa: Publicações Dom Quixote.
Henriques, Ana de Castro, Castro, Catarina Maia e (coord.). 1993. Silva Porto 1850-1893: exposição comemorativa do centenário da sua morte. Lisboa: I.P.M..
Teixeira, Luís Humberto. 2011. Verdes anos: História do Ecologismo em Portugal, 1947-2011. Lisboa: Esfera do Caos.
Vaz, Iria de Fátima Rodrigues Amado. 2000. As origens do ambientalismo em Portugal: a liga para a protecção da natureza 1948-1974. Tese de Mestrado, Universidade Nova de Lisboa. 

2 comentários:

ana disse...

Interessante.
Beijinho.:))

Margarida Elias disse...

Obrigada Ana! Beijinhos!