quarta-feira, 29 de junho de 2016

Da(s) cidade(s)

Arroios, Lisboa, in Brasil-Portugal, n.º 190, 1906.
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«A cidade é um ser vivo. Tem alma. Mas se avançarem desprevenidos, correm o risco de não a encontrar.»
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Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, Uma Aventura Fantástica, Lisboa, Caminho, 1991, p. 36

terça-feira, 28 de junho de 2016

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Os sons do Verão

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Caixinha de Música

Grilo, grilarim,
Tens um canto azul
Na noite de cetim!

Cigarra, cigarraia,
Tens um canto branco
No dia de cambraia!

Formiga, miga, miga,
Só tu cantas os nadas
Do silêncio do sol,
Das estrelas caladas...
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sexta-feira, 24 de junho de 2016

E as tílias

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«Árvore sagrada das antigas civilizações germânicas, dotada de uma longevidade pouco vulgar, a tília, como o carvalho, é uma árvore histórica e lendária.» - in Segredos e Virtudes das Plantas Medicinais, Lisboa, Seleções do Reader' s Digest, 1983, no blogue Dias com árvores.

 
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«A maior tília existente em Portugal (em Paredes) tem 22 metros de altura e 24 metros de diâmetro de copa e, segundo o seu proprietário a colheita da sua flor ocupa 20 homens durante 3 dias.» - in Wikipédia.
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«In Europe, some linden trees reached considerable ages. A coppice of T. cordata in Westonbirt Arboretum in Gloucestershire is estimated to be 2,000 years old.» - in Wikipédia.
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Sobre as tílias, ver também Tílias em flor - 2 do blogue Imagens com Texto que tem belíssimas fotografias destas árvores e suas flores, entre elas, a seguinte:
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A Voz da Tília

Diz-me a tília a cantar: "Eu sou sincera, 
Eu sou isto que vês: o sonho, a graça, 
Deu ao meu corpo, o vento, quando passa, 
Este ar escultural de bayadera... 

E de manhã o sol é uma cratera, 
Uma serpente de oiro que me enlaça... 
Trago nas mãos as mãos da Primavera... 
E é para mim que em noites de desgraça 

Toca o vento Mozart, triste e solene, 
E à minha alma vibrante, posta a nu, 
Diz a chuva sonetos de Verlaine..." 

E, ao ver-me triste, a tília murmurou: 
"Já fui um dia poeta como tu... 
Ainda hás de ser tília como eu sou..." 
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Florbela Espanca, Charneca em Flor
in Citador.
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Albrecht Durer, Linden Tree On A Bastion (1494)
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Postscriptum - Nestas alturas, tenho pena que as máquinas fotográficas não captem o maravilhoso aroma das tílias.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Neve de flores amarelas

(fotografia daqui)
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Acho graça às tipuanas, sobretudo porque têm uma flor amarela muito bonita, que costuma cair no verão e fazer verdadeiros tapetes amarelos no chão - ou cobrir tudo o que está por baixo delas, parecendo neve amarela.
Descobri ontem como se chamam estas árvores no site do Pavilhão do Conhecimento, onde se lê que elas são, como os jacarandás, espécies exóticas sul-americanas que foram introduzidas em Portugal por Félix de Avelar Brotero (1744-1828), director do Jardim Botânico da Ajuda (1811-1828):
«Mas há outras árvores em Lisboa que, pelo seu porte ou pelo colorido, merecem também a sua atenção. (...)»
A tipuana (Tipuana tipu), com flores de um amarelo alaranjado vivo, pode apreciar-se na Rua do Arsenal, na Avenida Elias Garcia, no Saldanha, junto à Basílica da Estrela, no Cais do Sodré.»
Pelo que depreendo do blogue Divagar sobre tudo um pouco, de onde trouxe a fotografia abaixo (e há lá outras fotografias bem bonitas), também existem tipuanas noutros lugares da capital e, nomeadamente, no Parque das Nações:

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Adenda aos jacarandás

Fotografia daqui
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O jacarandá florido
Brando cantar trazia
Branda a viola da noite
Branda a flauta do dia

O Jacarandá florido
Brando cantar trazia
O vinho doce da noite
A água clara do dia

Quem o olhava bebia
Quem o olhava escutava
O jacarandá florido
Que o silêncio cantava
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(Obrigada Luís)

Lilás sobre azul

(fotografia do site do Pavilhão do Conhecimento - daqui)
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Aos Jacarandás de Lisboa

São eles que anunciam o verão. 
Não sei doutra glória, doutro 
paraíso: à sua entrada os jacarandás 
estão em flor, um de cada lado. 
E um sorriso, tranquila morada, 
à minha espera. 
O espaço a toda a roda 
multiplica os seus espelhos, abre 
varandas para o mar. 
É como nos sonhos mais pueris: 
posso voar quase rente 
às nuvens altas – irmão dos pássaros –, 
perder-me no ar.
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in Os Sulcos da Sede, 2001.

terça-feira, 21 de junho de 2016

O meu pai completa hoje 70 voltas ao Sol :-)

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Lisboa era assim...
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Mas o meu pai nasceu em Cabeção (Mora)
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E, como o meu avô trabalhava nas finanças e a minha avó era professora primária, o meu pai andou um pouco por todo o lado em Portugal (Fundão, Leiria, ...). Creio que os meus avós vieram viver para Lisboa só na década de 60 (tenho de perguntar ao meu pai).
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No livro Castanhas da Gardunha (1950), o meu avô dedicou-lhe um poema, que começa deste modo:

Eu tenho um filho pequenino,
Muito ratão, muito ladino,
Corpo gorducho, loiras estrigas,
Que ainda gatinha pelo chão,
Mas o maroto - ai que ladrão ! -
Já pisca o olho ás raparigas.
(...)
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Sporting era assim:
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Nesse ano (1946), Sartre, nascido também a 21 de Junho, mas de 1905, publicou o livro L'existentialisme est un humanisme onde afirmou:

«Le choix est possible dans un sens, mais ce qui n'est pas possible, c'est de ne pas choisir. Je peux toujours choisir, mais je dois savoir que si je ne choisis pas, je choisis encore.»
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Entre outras canções, ouvia-se esta:

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Do fim-de-semana antes de começar o Verrão

Na Quinta Pedagógica dos Olivais

(fotografia tirada pelo meu filho)

(fotografia tirada pelo meu filho)

(fotografia tirada pelo meu filho)

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Na Casa da Cerca, em Almada



...
Na Feira Seiscentista do Beato


sexta-feira, 17 de junho de 2016

Braque

Georges Braque, Le Portugais (1911, Kunstmuseum Basel)
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“J’aime la règle qui corrige l’émotion. J’aime l’émotion qui corrige la règle.”
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quinta-feira, 16 de junho de 2016

Almourol

José Barata Moura, O Tejo em Almourol (1979, Museu Francisco Tavares Proença Júnior)
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«-Estar nesta ilha é uma aventura!!
De facto, ali a natureza dera provas de grande imaginação, criando um cenário real muito superior a todos os que já foram inventados! Havia rochas, línguas de areia finíssima, plantas silvestres emaranhadas formando barreiras quase intransponíveis, cactos gigantescos cujo tronco explodia em ramos, picos, flores risonhas e frutos carnudos de sabor exótico. (...)
Escalaram os caminhos íngremes que conduzem à muralha e, oh, maravilha!, até um coelho bravo fez a sua aparição. (...)
Dentro do castelo percorreram as ruelas mínimas num ápice, (...)»
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Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, Uma Aventura Fantástica, Lisboa, Caminho, 1991, p. 136.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Poemas II


Aquela Nuvem

– É tão bom ser nuvem,
ter um corpo leve,
e passar, passar.

– Leva-me contigo.
Quero ver Granada.
Quero ver o mar.

– Granada é longe,
o mar é distante,
não podes voar.

– Para que te serve
ser nuvem, se não
me podes levar?

– Serve para te ver.
E passar, passar.
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terça-feira, 14 de junho de 2016

Poemas I

Henri de Toulouse-Lautrec, Desire Dehau Reading A Newspaper In The Garden (1890, Musee Toulouse Lautrec)
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Exageros

O Alfredo atirou o jornal ao chão,
irritadíssimo, e virou-se para mim:

- Estes jornalistas! Passam a vida a
inventar coisas, é o que te digo. Então não
afirmam que, no Sardoal, foi encontrado um frango com três pernas!
Vê lá tu! É preciso ter descaramento.

Ajeitou-se melhor no sofá e, realmente indignado, coçou a tromba
com a pata do meio.
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sábado, 11 de junho de 2016

Para o Dia de Santo António (13 de Junho)

Reino do Congo, Santo António de Pádua (sécs. XVI-XIX, Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque)
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Uma das questões que mais me intriga, e para a qual ainda não encontrei resposta, é a da história do culto dos Santos Populares, dos Feriados e outras datas festivas tradicionais, que hoje em dia são tão comuns que nos parecem ser antigas como a história. Muitas destas tradições poderão ser enquadráveis no tema da invenção da tradição já referida por Hobsbawm. Suponho que muitas respostas às minhas perguntas se encontrem no livro Feriados de Portugal de Luís Oliveira Andrade (2012) que ainda não tive oportunidade de ler.
Sei que em 1895 se realizaram grandes festas na capital por ocasião do Sétimo Centenário do nascimento de Santo António. Em 1909, ainda não existia feriado municipal e o santo não era o único venerado, como se comprova pelo artigo «Os três Santos Populares de Lisboa», publicado na Ilustração Portuguesa, em 28 de Junho desse ano, que começa dizendo: «Lisboa tem os seus tres santos populares que festeja, mas aos quaes não faz promessas.» - sendo eles Santo António, São João e São Pedro. A comemoração dos feriados municipais só iniciou com a publicação do Decreto com força de Lei de 12 de Outubro de 1910 (cf. Câmara Municipal de Montemor-o-Velho).

Tronos de Santo António, 1º prémio, 1952. Calçada do Jogo da Péla, freg. Santa Justa - Arquivo Municipal de Lisboa (foto de António Castelo Branco)

No artigo da Ilustração Portuguesa fala-se nos tronos de Santo António: 
«Não ha imagem com mais altares na cidade do que Santo António (...). Em cada vão de portal lá está o seu throno com o docel de papel de côres. as escadinhas onde se mostram os objectos do ritual, os tocheiros, as palmas, as custodias, os relicarios, os castiçaes com as suas velinhas finas (...) dizendo bem com a figura do santo cujos olhos fixos (...) nos parecem seguir e condenar-nos quando recusamos os obulos pedidos pelos pequeninos em sua intenção.» 
Eu, de facto, lembro-me de pedir «um tostãozinho para o Santo António», mas não me lembro de me terem dado. A avaliar pelo artigo de 1909, era costume dar dinheiro às crianças, supostamente para comprar «bichinhas de rabiar» e «valverdes que deviam ser queimados por sua fé», mas que eram convertidos em guloseimas. Supostamente, o Santo perdoou as crianças pela compra das gulodices, assim como perdoou ao povo o facto de o ter feito «patrocinar o amôr dos outros» - nomeadamente com a tradição dos casamentos de Santo António, desde 1958 (cf. Câmara Municipal de Lisboa).
De acordo com outro texto - «Santo António de Lisboa e de Pádua (Antonius Lusitanus), 13 de Junho» -, o culto popular ao santo começou ainda em vida: «O culto oficial da Igreja, em menos de um ano, depois de morte, por decreto do Papa Gregório IX, com festa, no dia do seu nascimento para a vida eterna, 13 de Junho. Até meados do séc. XV o culto manteve‐se circunscrito a Pádua que em sua honra edificou uma preciosa basílica. A partir do séc. XVI, o culto antoniano estendeu‐se a Portugal que o difundiu pelo mundo.» No ano de 1934, Santo António foi declarado padroeiro de Portugal.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Teixeira Gomes

Columbano Bordalo Pinheiro, Teixeira Gomes (1925, Museu da Presidência da República)
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Na Galeria da Presidência, o último retrato pintado por Columbano é o de Teixeira Gomes. Novamente, é uma obra efectuada já no final do mandato, pouco tempo antes de ele se demitir. Tal como nos outros retratos, temos a figuração de alguém que se está a afastar da vida política. Teixeira Gomes (1860-1941) era um escritor de grande prestígio, que colaborara na Crónica Ilustrada do Grupo do Leão, no ano de 1882. Natural de Portimão, o seu pai era um dos mais antigos republicanos do Algarve. Estudou em Coimbra, mas não terminou nenhum curso, indo viver, ao fim de sete anos, para Lisboa. Tornou-se amigo de escritores e conviveu com os artistas Soares dos Reis (1847-1889) e Marques de Oliveira (1853-1927). Regressando a Portimão para trabalhar com o pai, empreendeu numerosas viagens pela Europa, Ásia Menor e Norte de África, representando o «Sindicato Exportador de Figos do Algarve». Em 1895, demorou-se por Lisboa, onde conheceu o poeta António Nobre (1867-1900) e o caricaturista Celso Hermínio (1871-1904). 
Depois da revolução de 1910 foi convidado para Ministro de Portugal em Londres (1911). Aí se manteve até ao governo de Sidónio Pais (1872-1918), findo o qual foi nomeado ministro em Madrid, voltando depois para Londres. Em 1922 foi nomeado delegado de Portugal à Sociedade das Nações e, em 6 de Agosto de 1923, foi eleito Presidente da República. Assumiu o cargo com o desejo de conseguir pacificar as várias facções republicanas, mas o descalabro político da Primeira República foi deixando-o cada vez mais desanimado. Entre outras actividades, convivia com artistas e escritores, cientistas e intelectuais. Durante o seu mandato como presidente, no tempo em que residiu em Belém (e segundo Vital Fonres), as quintas-feiras eram os dias de visita das filhas. Nesses dias ele «Entretinha-se com as meninas, almoçava com mais alegria e, à tarde, quando se iam embora para recolherem ao colégio, ficava triste, isto é, retomava aquela aparência fria que parecia apenas calma elegância».
Em 11 de Dezembro de 1925 demitiu-se do cargo de Presidente e partiu para o Norte de África. Desde 1931 que se fixou em Bougie, num exílio voluntário. Ainda enviou colaboração para a Seara Nova e publicou Cartas a Columbano (1932), testemunho da amizade e admiração mútua que existia entre ambos. 

Columbano Bordalo Pinheiro, Retrato de Teixeira Gomes (1911, Museu do Chiado – Museu Nacional 

Teixeira Gomes já fora retratado por Columbano por duas vezes, ambas antes de 1911, quando fora nomeado representante de Portugal em Londres. Um dos retratos ficou em «pochade» e ficou no poder de Viana de Carvalho, seu secretário particular; o outro, o melhor dos três, faz parte da Colecção do Museu do Chiado. O terceiro retrato de Teixeira Gomes, datado de 1925, foi o que ficou na galeria do Palácio de Belém. José-Augusto França escreveu que o de 1911 apresentava a «modesta dignidade do escritor» e o de 1925 mostrava uma «pose mais rígida». De acordo com as suas palavras, era muito melhor o primeiro que o segundo, porque «nele se apresentava o intelectual diletante e ironicamente sensual ainda não ferido pela mediocridade do poder».
Testemunhando a amizade entre Teixeira Gomes e Columbano, Urbano Rodrigues (1888-1971) escreveu que o presidente costumava organizar os «Dias do Columbano», «que eram os mais íntimos», que correspondiam a um jantar e a um serão em amena cavaqueira. Teixeira Gomes dizia que por vezes tinham divergências: «Olhe o que se passa com o Greco, que eu admiro e ele detesta... Gostamos de estar juntos, mesmo calados».
Ainda de acordo com Urbano Rodrigues, quando «começou a fazer o retrato oficial «Columbano tornou-se quase um habitante de Belém. As sessões eram demoradas; e além das horas em que tinha diante de si o modelo e daquelas em que, falando com ele, fora dali, o estudava ainda para apreender traços que melhor o pudessem revelar, outras decorriam em que, só, diante do cavalete com o seu esboço, profundamente meditava». Segundo o mesmo testemunho, «(…) aquele retrato era o retrato do seu melhor amigo! (…) Quando ia já muito adiantado e o modelo (…) o qualificava de magnífico, resolveu uma manhã raspá-lo! (…).» Mesmo na «segunda criação», o pintor continuava descontente e «murmurava: Lá ver o que quero, vejo eu… Agora executar!». Teixeira Gomes também testemunhou esta história, afirmando que no
«(...) retrato oficial, de Chefe de Estado, onde ele se esforçou em pôr tudo quanto sabia, houve um momento prodigioso: faiscavam-lhe os olhos, movia-se, falava… Compreendia-se que a arte atingira os seus inultrapassáveis limites. Ainda tentei interpor a minha autoridade para impedir que lhe tocasse mais. O artista, porém, via mais além; via o irrealizável; e tanto o procurou que, embora forte e empolgante como poucas, a obra saiu inquieta e como que atormentada; frustrada quase, ao lado da serena e larga interpretação que ele deu ao Arriaga e ao Teófilo.»
O retrato de Teixeira Gomes, de 1925, coloca o Presidente numa pose serena, sentado num cadeirão, enquadrado por dois objectos decorativos. Os objectos do mobiliário não são inocentes: a cadeira, apesar de apenas esboçada, é a mesma que surge no retrato de Manuel de Arriaga, mas aqui ganha maior relevo devido ao facto de não estar meio tapada pela secretária. Segundo o próprio Teixeira Gomes:
«Mas o que há de extremamente curioso neste quadro é o seu acentuado carácter “barroco”, para que o mestre tinha natural pendor, sempre sopeado, e que aqui se intensificou na febre de apreender a expressão, o movimento, o gesto, a vida. A talha chinesa e a floreira Império que ali figuram, reflectem o espírito do quadro; nunca se repassaram, como ali, de tanta alma, os objectos inanimados; mesmo nas suas melhores “naturezas mortas” o artista jamais os espiritualizou assim. Em suma: na sua obra tão numerosa e variada tem este trabalho importância capital, e sob certos aspectos nenhum outro se lhe compara».
Bibliografia:
José-Augusto França, «Columbano Bordalo Pinheiro: o Pintor», Público, 12/5/1991.
Manuel Teixeira GOMES, Cartas a Columbano, Lisboa, Portugália Editora, 1957.
Urbano Rodrigues, Vida Romanesca de Teixeira Gomes, Lisboa, Editorial Maritimo-Colonial, 1946.
Urbano Rodrigues, «Columbano e Teixeira Gomes», Diário de Notícias, 13/2/1957.
Vital Fontes, Servidor de Reis e de Presidentes, Lisboa, Editora Marítimo Colonial Lda., 1945.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Teófilo Braga

Columbano Bordalo Pinheiro, Teófilo Braga (1917, Museu da Presidência da República)
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Columbano já conhecia Teófilo Braga (1843-1924) pelo menos desde 1880, quando participou nos festejos do Tricentenário de Camões, em Junho de 1880, e também quando, igualmente em 1880, colaborou na revista dirigida por Teófilo e Abílio Costa Lobo intitulada À Volta do Mundo, Em 1910, quando da questão da bandeira republicana, sendo Teófilo presidente do Governo Provisório, Columbano fez parte da Comissão que desenhou a nova bandeira verde e vermelha, que Teófilo Braga defendia contra a vontade de Guerra Junqueiro, que desejava manter as cores branca e azul.
O retrato para a Galeria de Presidentes foi pintado em 1917. De acordo com Raul Brandão, o «retrato de Teófilo feito pelo Columbano é uma figura dramática. Quem lida com ele diz que Teófilo fala, fala sempre e diz mal de tudo e de todos (…).
«Sempre agarrado aos seus livros, às suas ideias, à sua obra (…), aos seus princípios, atinge o tamanho e a majestade duma árvore secular»
A maneira como Vital Fontes. mordomo do Palácio de Belém, se recordava de Teófilo Braga era também de alguém que estava mais seguro entre os seus livros. Mesmo durante o Governo Provisório, exclamou: «Se ao menos tivesse aqui os meus livros! Se pudesse trabalhar nas minhas coisas!». No segundo mandato, isto é, dois anos antes do retrato feito por Columbano, era ainda nos livros que pensava: «(…) andava cada vez mais alheado de tudo, mais simples, mais modesto, sentindo mais saüdades dos seus livros, tantas, que algumas vezes aparecia com êles debaixo do braço, e para ali ficava, a lê-los, e a tomar apontamentos».
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Bibliografia:
Raul Brandão, Memórias, Tomo II, Lisboa, Relógio d’ Água, 1999.
Vital Fontes, Servidor de Reis e de Presidentes, Lisboa, Editora Marítimo Colonial Lda., 1945.

terça-feira, 7 de junho de 2016

Manuel de Arriaga

Columbano Bordalo Pinheiro, Retrato de Manuel de Arriaga (1914, Museu da Presidência da República)
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Até 1911 fixou-se no Palácio de Belém a Secretaria-Geral da Presidência da República. Não havia residência oficial, por isso Teófilo Braga, presidente do Governo Provisório, aí se deslocava frequentemente. Em Junho de 1911, Manuel Arriaga (1840-1917), eleito presidente da República, arrendou o anexo do Palácio para residência oficial. Desde essa data que os presidentes que quiseram residir em Belém, durante a Primeira República, tiveram de pagar o aluguer. Terá sido também de Manuel de Arriaga a ideia de fazer a Galeria de Retratos, visto que esta iniciou com o seu retrato e durante o seu mandato. A ideia também poderá ter partido do governo, presidido desde Fevereiro de 1914 por Bernardino Machado.
Manuel de Arriaga era natural do Faial e formado em Direito pela Universidade de Coimbra. Filiado no Partido Republicano, fez parte do Directório em 1891. Foi eleito deputado pela Madeira e tornou-se num orador muito popular. Participou na manifestação patriótica de 11 de Fevereiro de 1890, sendo preso e conduzido a bordo de um navio de guerra. Depois da revolução foi nomeado procurador da República, e, com o apoio de António José de Almeida foi eleito para presidente, contra a vontade do Partido Democrático que escolhera Bernardino Machado. O seu papel como presidente destacou-se pela atitude pacificadora. Depois de diversas peripécias políticas, acabou por se demitir a 26 de Maio de 1915 – ficando Teófilo Braga a completar o seu mandato até Outubro desse ano. 
Entre outras obras, Arriaga escreveu o livro Na Primeira Presidência da República Portuguesa, onde procurou esclarecer as acções durante o seu mandato. Nessa obra, afirmou que: 
«(...) nunca fomos políticos de profissão. A politica como ella se pratica em Portugal deturpando a pureza do sufrágio, foi sempre aos nossos olhos uma das causas primaciaes da degradação dos costumes e da decadência do Paiz».
Arriaga estivera ligado à Geração de 70 e já fora retratado por Columbano para o António Maria de 7 de Agosto de 1884. Esse retrato de 1884, é de Arriaga com Consiglieri Pedroso, quando foram à Madeira para tentar a reeleição do deputado republicano pelo círculo do Funchal. Muito embora não esteja assinado, o estilo do desenho é idêntico ao de Columbano e, em 1884, o artista fez bastantes retratos para o jornal de Rafael Bordalo Pinheiro, seu irmão.
Em 1911, depois da eleição de Manuel de Arriaga, o escritor Raul Brandão dava-lhe uma imagem poética: 
«Na véspera fui procurá-lo à Rua da Santíssima Trindade, n.º 35. Um salão burguês com quadros de Silva Porto e Ramalho. O velho, que mantém certa aparência de vigor, com cabeleira branca, a pêra branca, e a sobrecasaca antiquada, é uma figura arrancada a um quadro romântico». 
A descrição não está longe do retrato que Columbano fez do presidente em 1914, embora o pintor lhe acrescentasse a solenidade própria de um chefe de Estado. A respeito da expressão de Arriaga neste retrato – certamente realizado pouco tempo antes da demissão – devemos lembrar as palavras de Vital Fontes, mordomo do Palácio:
«(…) E o sr. Presidente parecia abatido, triste, quási perdido aquêle seu sorriso bondoso. Não se manifestava porque era muito educado, de boas famílias, descendente de reis – dizia-se».
Das relações entre Columbano e Arriaga, há que recordar uma anedota, segundo a qual o presidente quisera adquirir uma natureza morta na exposição da Sociedade de Belas-Artes de 1914 e fora apanhado de surpresa com a nota de pagamento enviada por Columbano. De acordo com um artigo de Lopes de Oliveira, Arriaga «fôra à última Exposição; e, para animar as Artes, escolheu lá (...) uma couve, isto é, um quadro que constava da representação de uma couve.
«Não inquiriu, não reparou no preço. (...)
Mas ficou passado, quer dizer, quase em tespasse (...) quando, ao chegar a casa, lá encontrou um recibo de mil escudos, enviado por Columbano». 
Dizia que o pintor perdoou a dívida, e Arriaga ficou com o quadro. Contudo não terá sido bem assim. Uma carta, datada de 4 de Julho de 1914, enviada pela Secretaria Particular da Presidência da República Portuguesa, refere que o Presidente recebeu a natureza morta, «valioso e bello trabalho de que S. Excelencia muito gosta». A carta seria acompanhada de cem escudos referentes à primeira prestação no total de dez. Talvez a dívida tenha sido perdoada depois disso (ou apesar disso), pois Vital Fontes contou outra versão da mesma história: 
«É bem conhecido aquele caso do sr. dr. Manuel de Arriaga ter comprado um quadro do grande pintor Columbano. Foi às Belas Artes, viu o quadrinho, que representava uma couve, e enganou-se no preço. Começara-se então a usar a simplificação da escrita da nova moeda, e onde estava 1.000$00 julgou ver 100$00. Quando percebeu que eram mil escudos e não cem mil réis, não quis confessar o engano, para não ofender o pintor, que me parece que acabou por não aceitar nada. Mas ao chegar a Belém, o sr. Presidente não se conteve e disse:
- Nunca julguei que uma couve fosse tão cara!».
No retrato de Columbano, Arriaga está sentado numa cadeira que hoje faz parte do acervio do Museu da Presidência. A cadeira talvez seja uma que foi executada para D. Pedro V, por P. B. Dejante, em 1858, tendo vindo do Palácio das Necessidades, em 1912.. A dita cadeira iria ainda aparecer nos retratos de Teixeira Gomes, Bernardino Machado e Mário Soares.

P. B. Dejante (atribuído), Cadeira de secretária (1858, Museu da Presidência da República)
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Bibliografia:
Lopes de Oliveira, «De Columbano» (in Espólio de Columbano Bordalo Pinheiro, Museu do Chiado - MNAC).
Manuel de Arriaga, Na Primeira Presidência da Republica Portuguesa, Um Rapido Relatório, Lisboa, Typografia “A Editora Lda.”, 1916.
Pintura e Mobiliário do Palácio de Belém, Lisboa, Museu da Presidência da República, 2005.
Raul Brandão, Memórias, Tomo II, Lisboa, Relógio d’ Água, 1999.
Vital Fontes, Servidor de Reis e de Presidentes, Lisboa, Editora Marítimo Colonial Lda., 1945.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Borboletas, papoilas e jacarandás

Vincent van Gogh, Poppies And Butterflies (1890, Van Gogh Museum, Amsterdam)
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Canção da Leonoreta

Borboleta, borboleta,
flor do ar,
onde vais, que me não levas?
Onde vais tu, Leonoreta?

Vou ao rio, e tenho pressa,
não te ponhas no caminho.
Vou ver o jacarandá,
que já deve estar florido.

Leonoreta, Leonoreta,
que me não levas contigo.
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sexta-feira, 3 de junho de 2016

Ao mosquito (e seus congéneres)

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O MOSQUITO

O mundo é tão esquisito:
Tem mosquito.

Por que, mosquito, por que
Eu... e você?

Você é o inseto
Mais indiscreto
Da Criação
Tocando fino
Seu violino
Na escuridão.

Tudo de mau
Você reúne
Mosquito pau
Que morde e zune.

Você gostaria
De passar o dia
Numa serraria —
Gostaria?

Pois você parece uma serraria!
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John Singer Sargent, Mosquito Nets (1908, Detroit Institute of Arts, Detroit)
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Pablo Picasso, Lit avec filet pour moustiques (1906)
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Theodor Severin Kittelsen, Insects
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Data de 1936 o 1.º número da revista O Mosquito e são os primeiros "mosquitos" desenhados por Cardoso Lopes. A partir do n.º 360 passou a ser desenhado por E. T. Coelho. Cf. https://ovoodomosquito.wordpress.com/2016/02/28/as-exposicoes-do-cpbd-2-os-80-anos-do-mosquito/ Verdade seja dita que este é o único mosquito com quem simpatizo.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Das coisas que me intrigam no funcionamento da memória

Desde há uns dias ando com uma música na cabeça, que já nem me lembrava que tinha existido. A música é esta. Agora expliquem-me porquê?



E esta é a única explicação lógica que encontro:
JOY The song from the gum commercial?
MALE FORGETTER Sometimes we send that one up to headquarters for no reason.
FEMALE FORGETTER It just plays in Riley’s head over and over again. Like a million times! Ha! Let’s watch it again!
(Inside Out - http://waltdisneystudiosawards.com/downloads/inside-out-screenplay.pdf)


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E o pior é que, em contrapartida, esqueço-me de coisas de que me devia lembrar.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Feliz Dia da Criança!


Konstantin Makovsky, Portrait Of Artist's Children (1882)
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"O estudo, a busca da verdade e da beleza são domínios em que nos é consentido sermos crianças por toda a vida."
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