quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Das Palavras

Joseph Kosuth, Ex-libris, J. F. Champollion (1991)*
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“Eu tinha vontade de fazer como os dois homens que vi sentados na terra escovando osso. No começo achei que aqueles homens não batiam bem. Porque ficavam ali sentados na terra o dia inteiro escovando osso. Depois aprendi que aqueles homens eram arqueólogos. E que eles faziam o serviço de escovar osso por amor. E que eles queriam encontrar nos ossos vestígios de antigas civilizações que estariam enterrados por séculos naquele chão. Logo pensei de escovar palavras. Porque eu havia lido em algum lugar que as palavras eram conchas de clamores antigos. Eu queria ir atrás dos clamores antigos que estariam guardados dentro das palavras. Eu já sabia também que as palavras possuem no corpo muitas oralidades remontadas e muitas significâncias remontadas [...].” 
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Manoel de Barros (2003), Memórias inventadas: a infância, p. 21, in Helena Barranha, Património cultural: conceitos e critérios fundamentais, Lisboa, IST Press, ICOMOS-Portugal, 2016, p. 109.
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5 comentários:

Presépio no Canal disse...

Gostei muito do texto, que não conhecia e da ideia das palavras terem clamores antigos.
Beijinho! :-)

APS disse...

Mais umas palavras vibrantes de Manoel de Barros..:-)
De fascinante leitura.
Boa noite!

Margarida Elias disse...

Sandra - Gosto muito de saber a história das palavras e dos seus significados. Beijinhos!

APS - O texto é fantástico. Bom dia!

ana disse...

Muito interessante!
Beijinho. :))

Margarida Elias disse...

Ana - Obrigada!