quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Dos perus

Branco e Negro, n.º 39, Dezembro de 1896.
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Em leituras que tenho feito ultimamente, notei que a tradição em Lisboa, no Natal, no final do século XIX, era comer peru. Diz Madame Ratazzi (1831-1902):

«Da Inglaterra importou Portugal o costume de solemnisar o Natal do Redemptor, como o maior dia do anno, aquelle em que se trocam parabens e saudações risonhas e festivaes. (…) E para em tudo imitarem o Christmas dos seus fieis aliados não há familia portugueza que não compre, para celebrar a solemnidade, um peru (…)». E acrescentava que: 
«Os vendilhões annunciam a sua mercadoria gritando descompassadamente: perus! quem compra perus! De resto, a mercadoria annuncia-se por si mesma, visto que ninguem ignora que os perus são de uma eloquencia rara (...). Em plena rua o comprador apanha a victima, analysa-a no intuito de saber se ella dará um bom jantar, discute o preço, paga e leva o peru. (…) A localidade escolhida para a reunião do exercito de perus é o largo que defronta com uma das arcadas lateraes do theatro de D. Maria II. Nas vesperas de Natal é uma invasão! No dia seguinte, ao anoitecer, não existe um unico peru (…). / Pobres perus!... (...)».
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Marie Letizia Rattazzi, Portugal de Relance, Lisboa, Livraria Editora de Henrique Zeferino, 1881, pp. 25 e 26.

2 comentários:

Portuguesinha disse...

Não é maravilhoso quando nos presenteiam com uma história quotidiana assim?
Uma que foi e já não é?
Que ainda podia ter sido e em que os lugares ainda existem?

Fiquei a imaginar Lisboa e aquele Largo junto ao teatro D. Maria II cheio de perus!

Margarida Elias disse...

Não sei se não seria um bocado assustador :-) Bom dia!