quarta-feira, 3 de abril de 2019

Lisboa cosmopolita

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Escreveu Pedro Teixeira Albernaz (c. 1595-1662), sobre Lisboa, que esta era «una placa universal de todo el orbe frequentada de varias naciones que en ella se juntan que parese un mundo abriuiado»*. Achei interessante esta imagem, nomeadamente porque já antes tinha lido uma ideia semelhante, na Viagem em Portugal de Ruders (1761-1837)**. Em Junho de 1800, ele disse: «Uma das maiores vantagens que um homem da minha situação pode tirar de uma viagem a Lisboa é o incessante ensejo que esta cidade lhe oferece de ver à roda de si, e ao mesmo tempo, gente de tão variadas nações». Segundo ele, encontravam-se em Lisboa uma «multidão enorme de oficiais franceses emigrados, de heróis do mar ingleses, de negociantes de todos os países da Europa, da América, do Levante e das costas da Barbária; de navios de todos os portos do Mundo; dos mais notáveis actores, actrizes e cantores castrados da Itália, das melhores dançarinas de Paris (…); de monges, professores, mestres, governantes e caçadores de dotes da Irlanda; de estalajadeiros de França, da Alemanha e de outros países (…)».  Em Outubro, desse mesmo ano, acrescentou que os «franceses estabelecidos em Portugal são sensivelmente menos depois da revolução; no entanto, (…) continua a haver muitos franceses artistas – relojoeiros, operários mecânicos, estalajadeiros, cabeleireiros e criados (…)». Os italianos também eram «numerosos»: «Compõem-se, na maior parte, de homens de negócio, artistas, castrados e uma multidão de pessoas pertencentes ao teatro (…)».
Não entrando em questões sobre a maneira como o turismo está, hoje em dia, a criar problemas à população lisboeta, nomeadamente com a especulação imobiliária e a descaracterização do comércio; gosto desta imagem de Lisboa, de uma cidade aberta a outras culturas e a outras formas de pensar. E acho graça passear na Avenida Almirante Reis com toda a sua entropia cultural.
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* In CID, Pedro de Alboim Inglez (2007). A Torre de S. Sebastião de Caparica e a Arquitectura Militar do Tempo de D. João II. Lisboa: Colibri – IHA/FCSH/UNL, p. 145.
** RUDERS, Carl Israel, Viagem em Portugal 1798-1802, Vol. I, tradução de António Feijó, Lisboa, Biblioteca Nacional, 2002, pp. 110-111, 140-143.

4 comentários:

MR disse...

O quadro contestado. :)
Boa tarde!

Margarida Elias disse...

MR - O quadro serviu para ilustrar, mas já não me lembro qual era a polémica. Boa tarde!

MR disse...

É a datação. Há quem diga que o quadro é falso.
Eu percebi que estava a ilustrar o texto. :)
Boa tarde!

Margarida Elias disse...

MR - Deu-me jeito :-) Boa tarde!