«Em 1829 um comerciante probo, o sr. Balthazar Rodrigues Castanheiro, fundou esta confeitaria (…); já nessa época este estabelecimento era dos primeiros, dos mais bem sortidos, e dos mais acreditados do seu género.
Não estava n’esse tempo, entre nós, tão aperfeiçoado o fabrico das gulodices, ou antes os conventos das freiras quasi monopolizavam as receitas mais especiaes, o que dava em resultado uma concorrência desvantajosa para a arte de confeiteiro. Ainda hoje há o prejuízo de mandar fazer lampreias ás freiras da Esperança, e pasteis ás de Santa Clara, na supposição de que as conservarias mais afamadas não poderão competir com ellas na confecção d’aquellas especialidades (…).
Em Lisboa póde dizer-se que a industria da confeitaria tem atingido um muito elevado grau de perfeição.
Em 1869 falleceu o fundador do estabelecimento de que nos estamos occupando, e sucedeu-lhe o seu filho, de egual nome (…). Dotado d’aquella perspicacia, que sabe segredar ao commerciante intelligente as suas verdadeiras conveniencias, o sr. Castanheiro emprehendeu e realisou n’esse mesmo anno importantes melhoramentos no seu estabelecimento, que ocupa hoje, além das lojas desde n.º 57 a 63, uma grande parte do 1.º andar (…). N’este pavimento vende no verão, além de todos os refrescos, vinhos especiaes e pastelaria que ali se encontram durante todo o anno, sorvettes de variadas especies, carapinhadas, soda nevada, e a deliciosa bebida gelada a que os hespanhoes chamam chufas.
A decoração d’este pavimento revela a quem n’elle entra, um bom gosto não vulgar (…).
É n’este pavimento que o sr. Castanheiro faz hoje uma bonita exhibição de bollos de fantasia, gelados, lampreias (…); e, como se isto fosse pouco para revellar o quanto procura fazer realçar o seu estabellecimento, uma linda ARVORE DO NATAL, ricamente enfeitada, se ostenta entre aquelles primores de uma arte, que tem por principal missão adoçar a boca á humanidade.
(…)».
-