Filipe Rocha da Silva, Europa N.º 2 (1988, © Rocha da Silva)
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O meu desabafo não tem a ver com a Europa - mas até poderá ter, simplesmente porque sou e sempre me lembro de ter sido europeísta; talvez também porque me identifico com a frase de Sócrates: «Não sou ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo» - que se lê num dos azulejos da Cidade Universitária (de Maria Helena Vieira da Silva). Tenho, contudo, uma preferência sincera pela cultura ocidental.
Mas o meu desabafo é outro - é o facto de estar cada vez mais convencida que, devido ao meu percurso muito pessoal, cresci de uma forma diferente. Passei a minha infância muito tempo a ler, com preferência pelos livros de banda desenhada (Tintim, Astérix, Mafalda) e pelos livros de "capa e espada" - Rei Artur e cavaleiros da Távola Redonda, Robin Hood, Três Mosqueteiros, mais tarde, Tolkien, etc. Na televisão, via os desenhos animados e filmes onde surgiam histórias semelhantes (e ainda acho que a melhor adaptação que vi dos Três Mosqueteiros é a do Dartacão). É claro que também li e vi outras coisas, mas onde eu quero chegar é que, talvez devido a esta minha educação (em grande medida, com muito tempo passado com os meus avós), dou muita importância a valores que acho que estão fora de moda: honestidade, honra, dignidade, lealdade, humildade, sentido do dever, justiça - e também a coragem (embora eu não seja tão corajosa, como acho que deveria ser). E era este o meu desabafo, porque às vezes sinto-me um bocado um peixe fora de água.
