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sexta-feira, 8 de julho de 2016

Das Caldas da Rainha




«De aquele que não admira
Já nada de bom se tira.
Pois quem não sabe admirar,
Não sabe amar.»
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Afonso Lopes Vieira
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Rafael Bordalo Pinheiro, «Les murs ont des oreilles»
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Fábrica faianças das Caldas da Rainha, Prato Ananás (1899)
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Rafael Bordalo Pinheiro, Jarrão Plátanos (1901)
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José Francisco de Sousa, Pratp "Bolacha Maria"
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José da Silva Pedro, Alegria das crianças e Joaquina Maria (c. 1970)
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Francisco Elias
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Ferreira da Silva (Secla) (década de 1960)
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Carlos Enxuto, Cascata
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terça-feira, 23 de setembro de 2014

Dança do Vento

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Dança do Vento 
-
O vento é bom bailador, 
Baila, baila e assobia. 
Baila, baila e rodopia 
E tudo baila em redor. 
E diz às flores, bailando: 
- Bailai comigo, bailai! 
E elas, curvadas, arfando, 
Começam, débeis, bailando. 
E suas folhas, tombando, 
Uma se esfolha, outra cai. 
E o vento as deixa, abalando, 
- E lá vai!... 

O vento é bom bailador, 
Baila, baila e assobia, 
Baila, baila e rodopia, 
E tudo baila em redor. 
E diz às altas ramadas: 
Bailai comigo, bailai! 
E elas sentem-se agarradas 
Bailam no ar desgrenhadas, 
Bailam com ele assustadas, 
Já cansadas, suspirando; 
E o vento as deixa, abalando, 
E lá vai!... 

O vento é bom bailador, 
Baila, baila e assobia 
Baila, baila e rodopia, 
E tudo baila em redor! 
E diz às folhas caídas: 
Bailai comigo, bailai! 
No quieto chão remexidas, 
As folhas, por ele erguidas, 
Pobres velhas ressequidas 
E pendidas como um ai, 
Bailam, doidas e chorando, 
E o vento as deixa abalando 
- E lá vai! 

O vento é bom bailador, 
Baila, baila e assobia, 
Baila, baila e rodopia, 
E tudo baila em redor! 
E diz às ondas que rolam: 
- Bailai comigo, bailai! 
e as ondas no ar se empolam, 
Em seus braços nus o enrolam, 
E batalham, 
E seus cabelos se espalham 
Nas mãos do vento, flutuando 
E o vento as deixa, abalando, 
E lá vai!... 

O vento é bom bailador, 
Baila, baila e assobia, 
Baila, baila e rodopia, 
E tudo baila em redor! 
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Afonso Lopes Vieira, in Antologia Poética.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Nocturnos

Alphonse Osbert, Les chants de la nuit (1896, Musée d'Orsay, Paris).
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A lua vem toda nua
deitar-se à noite com mar,
e o mar canta a loa à lua
na maré-cheia do luar.

Ao corpo do mar ansioso
cola o dela a lua clara,
e deste beijo amoroso
só a manhã os separa.
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Afonso Lopes Vieira,
no Prosimetron (lembrado por MR).

sexta-feira, 15 de abril de 2011

No Museu de Cerâmica em Caldas da Rainha

 Desde a Quinta do Visconde de Sacavém.


 Entre poemas.

 Até à cerâmica e a Rafael Bordalo Pinheiro.



Da Wikipedia:

José Joaquim Pinto da Silva (1863-1928), que também assinava José Joaquim Pinto da Silva Sacavém (para se distinguir do seu pai e do seu avô, e passando doravante a integrar o nome Sacavém como apelido de família), foi o 2.º Visconde de Sacavém.
(Aqui fica uma caricatura em cerâmica do Visconde, feita por Rafael Bordalo Pinheiro)

Era filho primogénito de José Joaquim Pinto da Silva e de Miquelina Francisca de Oliveira, tendo casado em 1 de Fevereiro de 1890 com Matilde Adelaide da Silva Amado (a qual foi retratada por Columbano).
Dedicou grande parte da sua vida ao trabalho de ceramista. Os seus trabalhos de cerâmica decorativa inscrevem-se, por exemplo, na linha de Bordalo Pinheiro, representando temáticas naturalistas. Também se distinguiu no esmaltar, vidrar e colorir da cerâmica, produzindo uma pasta de grande qualidade. Entregava-se a esta actividade, como mero amador, quer em pequenas instalações fabris situadas nas Caldas da Rainha, quer nas muflas que possuía no estúdio do seu palacete.
Possuiu uma quinta nas Caldas da Rainha (hoje chamada Quinta Visconde de Sacavém), cujo palacete romântico, rodeado de jardins, acolhe desde 1983, o Museu de Cerâmica em Caldas da Rainha.

sábado, 3 de outubro de 2009

O Lobo de São Francisco de Assis

Ilustração de Raul Lino (1911).
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Andava o povo, assustado,
a fazer a montaria
ao grande lobo esfaimado
que tanto mal lhe fazia.
-
Elle levava nos dentes
agudos e carniceiros,
os meninos inocentes
que são os alvos cordeiros.
-
E as pessoas assaltando,
vinha de noite, em segredo,
com seus olhos clamejando,
encher a gente de medo!
-
Ora, San Francisco era
incapaz de querer mal
mesmo que fôsse a uma fera,
até ao tigre real.
-
Tinha tão bom coração
que homens e bichos o amavam
e as andorinhas poisavam
na palma da sua mão...
-
E como elle desejava
que tudo vivesse em paz,
enquanto o povo caçava,
o Santo, o Poeta, que faz?
-
Procura o lobo cruel,
e tendo-o encontrado enfm,
chamou-o, foi para elle,
sorriu-lhe e falou assim:
-
- «Ó lobo, muito mal fazes
em levar vida tão má!
Mas eu proponho-te as pazes,
e tudo esqueço... Ouve lá:
-
«Eu sei porque fazes mal,
eu sei o que te consome:
tu és tão mau, afinal,
tu és mau - porque tens fome...
-
«Pois bons amigos seremos,
para nosso e teu descanso;
e de comer te daremos
para poderes ser manso.
-
«Promete que has de mudar
de vida, neste momento:
e em sinal de juramento,
alevanta a pata ao ar
e põe-na na minha mão!»
-
Jurou o lobo. E cumpriu...
Depois, toda a gente o viu
tão mansinho como um cão.
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Afonso Lopes Vieira, in Animaes nossos Amigos (1911).

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Os Passarinhos

Fotografia de Margarida Elias, um ninho de andorinhas na nossa varanda (Maio de 2009).
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Que bonitos, que engraçados,
que piquenos, coitadinhos,
os estouvados
dos passarinhos!
-
A sua vida é cantar,
voar,
brincar pelo ar,
e alegrar
com seus chilreos
tão cheios
de graça e boa alegria,
a luz do dia!
-
Que bonitos, que contentes,
e que espertos, coitadinhos,
os inocentes
dos passarinhos!
-
A sua vida é voar,
cantar,
brincar pelo ar,
e alegrar
em ranchos alegres e mui divertidos,
e quando poisam nos ramos floridos
parece que as flores estão a gorgear!...
-
Que bonitos, que engraçados,
os passarinhos,
se estão casados,
dentro dos ninhos,
e vão criando, com mil cuidados,
os seus meninos.
-
E então quando os pequeninos,
já mais crescidos,
podem sair?...
Vêm com elles os seus paes,
e elles piam,
piam,
piam,
muito contentes, os atrevidos,
assim a modo que a rir
e aos ais...
-
E os paes
estão mesmo a dizer: - «Vê lá se caes!
Por aqui, por aqui, por este lado,
devagarinho,
que tu és um passarinho
muito piqueno! Cuidado!...
Sim, quando fôres grande, então voarás;
serás capaz
de subir, de subir, de subir pelo ar,
e de ir subindo,
cantando e rindo,
sempre a voar,
lá tão alto, que o Sol fique pertinho
de ti, meu pobre e lindo passarinho!...»
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Afonso Lopes Vieira, in Animaes nossos Amigos (1911).

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O cão

Ilustração de Raul Lino, O Cão (in Animais nossos Amigos, 1911).
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O cão
Que faz – ão, ão, ão
É bom amigo como os que o são!

É bom amigo, bom companheiro,
É valente, fiel, verdadeiro,
Leal, serviçal,
E tem bom coração.
Que o diga o dono, se elle o tem ou não!

Quando vem de fóra, a gente,
E chega a casa, é o cão
Quem diz primeiro, todo prazenteiro,
Saltando e rindo
Contente,
E com os olhos a brilhar de amor:
- «Ora seja bemvindo
O meu senhor!»

O cão
Que faz – ão, ão, ão
É bom amigo como os que o são!

Que o diga o ceguinho, se elle o é ou não!

Nunca viram passar, pelo caminho,
Um ceguinho
Levando pela mão
O seu cão?
Que seria do cego, coitadinho,
Sem o seu guia, sem o carinho
D’aquela dedicação?

E o ceguinho caminha, e não tropeça,
Porque os seus olhos vão
Abertos na cabeça
Do seu cão...

O cão
Que faz – ão, ão, ão
É bom amigo como os que o são!

O pastor que o diga, se elle o é ou não!

O pastor vai para a serra,
Vai para a serra sózinha,
Que, lá do céu tão vizinha,
Parece longe da Terra...

O pastor leva o rebanho,
As ovelhas e os carneiros,
E os meigos cordeirinhos,
As cabras e os cabritinhos
Que saltam muito ligeiros.

O pastor leva o rebanho,
E vai-se ouvindo
O som lindo
Dos chocalhos muito finos
No ar tinindo
Como pequeninos
Sinos...

O pastor leva o rebanho,
E quem guarda os cordeirinhos
E as mães
Dos lobos maus e vorazes?
- São os cães!

São os cães, guardas valentes,
Que aos lobos dizem assim:
- «Ó lobos maus e vorazes,
Sim,
Andem, toquem-lhe lá, se são capazes!...»

E, de longe, os lobos miram
Os cordeirinhos contentes,
Mas não se atiram,
Com medo dos cães valentes
E dos seus dentes!

O cão
Que faz – ão, ão, ão
É bom amigo como os que o são!

Os pobres que o digam, se elle o é ou não!

O cavador passou a trabalhar
O dia inteiro, a cavar,
A terra do seu patrão;
E cava, cava a terra alheia,
Que era brava e pedregosa,
E elle a semeia
E elle a põe florida
Para o dono, que enfim depois goza
Ao cabo d’aquela lida...

E o cavador, o bom trabalhador,
Tem um amigo só, cheio de amor!

Tem um amigo, tem,
Que o ama a elle como a mais ninguem!

E que enquanto elle cava
A terra brava
Que ha de ser florida,
Com seu olhar o segue, tão fiel,
Com seu olhar de amor,
Que está dizendo, com carinho e dôr:
- «Como o meu dono sofre nesta vida!
Pudesse eu antes trabalhar por elle!...
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Afonso Lopes Vieira.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O Gato


Fotografia de Margarida Elias.
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O gato, à sua janela,
ao Sol, que brilha fulgindo,
vai dormindo
vai pensando
e vai sonhando:
- «Ó minha linda casinha,
tu és minha, muito minha,
nem há outra melhor que ela ...»
O gato, à sua janela,
ao Sol, que brilha fulgindo,
vai dormindo,
vai pensando e
vai sonhando:
- «Pelas noites de invernia,
quando o vento,
num lamento
muito lento, muito longo,
muito fundo, de agonia,
ruge e muge,
e a chuva bate à janela, nos vidros fina a tinir...,
ai com é bom,
ai como é bom dormir
ao serão,
todo enroscado
ao pé do lume doirado,
fazendo ron-ron, ron-ron..."
-«Ó minha linda casinha,
tu és minha, muito minha,
nem há outra melhor que ela ...»
O gato, à sua janela,
ao Sol, que brilha fulgindo,
vai pensando,
vai dormindo
e vai sonhando:
- «Não tenho inveja a ninguém:
nem aos pássaros no ar
a voar,
nem aos cavalos saltando,
galopando,
nem as peixinhos no mar
a nadar;
não tenho inveja a ninguém,
aqui da minha janela
onde me sinto tão bem ...»
- «Ó minha linda casinha,
tu és minha, muito minha,
nem há outra melhor que ela ...» "
---
Afonso Lopes Vieira