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Esclarecimento inicial: não gosto de touradas. Contudo, sempre apreciei o edifício da Praça de Touros do Campo Pequeno, onde assisti, há uns 30 anos, ao concerto dos
Waterboys, mas também do
Chico Buarque, entre outros.
Posto isto, por razões que não vêm ao caso, tive de investigar a história deste edifício e achei-a muito interessante. Resumidamente:
Por ordem de D. João VI e depois de D. Maria II, as touradas de Lisboa, caso não fossem gratuitas, passaram a ser organizadas pela Casa Pia, que ficava com os lucros - deste modo, revertendo os lucros para fins de caridade. Por essa razão, quando foi demolida a
Praça de touros do Campo de Santana (1888-1889), foi a Casa Pia que tratou de arranjar terreno e tratar da construção de uma nova praça.

O terreno do Campo Pequeno, onde já se haviam realizado corridas de touros no século XVIII, foi oferecido pela Câmara à Casa Pia, e esta procurou obter os planos na
Praça de Touros de Madrid, de 1874. Os planos chegaram a Lisboa e o desenho da praça do Campo Pequeno foi entregue ao arquitecto António José Dias da Silva (1848-1912). Entretanto, a Casa Pia, por falta de meios financeiros próprios e suficientes, cedeu a construção e exploração da Praça de Touros, por 90 anos (até 1982), à
Empresa Tauromáquica Lisbonense. Estando o projecto de arquitectura pronto em 1889 e tendo sido contratada uma empresa de construção, inaugurou a nova praça de touros de Lisboa a 18 de Agosto de 1892.

A praça foi desenhada em estilo neo-árabe, muito próxima estilisticamente da praça de Madrid, mas com pontos de originalidade que devem ser salientados: por um lado os quatro torreões que assinalam os quatro pontos cardeais - sendo o torreão da porta principal virado a poente. Por outro, as cúpulas bulbosas, que, de algum modo, recordam a
arquitectura indo-sarracena. Por fim, no torreão principal, mais alto (30 metros), existe um miradouro que supostamente terá uma vista magnífica sobre Lisboa (gostava de lá ir).
Destaque ainda para o uso do ferro nas cúpulas e na estrutura; salientando-se igualmente o ritmo exterior contínuo formado pelo padrão de portas e janelas com arcos de ferradura, separadas por pilastras e pelos torreões. O aspecto feérico e revivalista é ainda acrescido pelos merlões escadeados no topo da muralha; e pelos interiores neo-árabes, com decorações em arabesco sobre os arcos e a tribuna real.