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sexta-feira, 13 de maio de 2016

Nossa Senhora de Fátima, por Leopoldo de Almeida

Leopoldo de Almeida, Nossa Senhora de Fátima
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O ano de 1933 foi um «ano chave» para a carreira de Leopoldo de Almeida e para a parceria que estabeleceu com o arquitecto Pardal Monteiro. A encomenda da Igreja de Nossa Senhora de Fátima data de 15 de Agosto de 1933, sendo esta projectada em 1934 pelo referido arquitecto, com a colaboração do arquitecto Raul Rodrigues Lima e dos estudantes de arquitectura João Faria da Costa, António Martins e Fernando Batalha. A Igreja foi consagrada em 1938.
Leopoldo de Almeida foi autor da estátua de S. João Baptista que decora a pia baptismal, da estátua de Nossa Senhora de Fátima que ladeia o altar, e do baixo-relevo da capela mortuária Ressurreição de Lázaro, todas estas obras datadas de 1938.
A imagem de Nossa Senhora de Fátima é a «peça mais arrojada em termos de concepção», pois Leopoldo concebeu uma figura «despojada em que o manto, o crucifixo e a coroa são adornos que não desviam o olhar do rosto da imagem, por onde perpassa uma tranquilidade só perturbada pelo foco de luz que a ilumina na igreja». Conta-se que Pardal Monteiro ambicionava que esta fosse a «única imagem iconográfica de Nossa Senhora de Fátima».
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Texto resumido da Tese de Doutoramento de Rita Fonseca, intitulada Vida e Obra do Escultor Leopoldo de Almeida (1898-1975), FL-UL, 2011 - disponível online.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Da arte e da escultura

Leopoldo de Almeida, Vencido da vida (1922, Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea)
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Carta que Almada Negreiros escreveu ao escultor Leopoldo de Almeida:

«Entre os artistas portugueses, os escultores foram sempre os menos numerosos. Ainda que entre os poucos tivemos também dos melhores, deve haver uma causa nas condições da vida portuguesa que nos desfavoreça nas tentativas da escultura. Ignoro-a. Sei apenas que determinadas regiões favorecem o aparecimento de escultores. Porquê? Também o não sei. Não é apenas a presença da abundância ou qualidade de pedra que obriga um artista à escultura. Não me recordo de nenhum escultor da Itália que seja natural de Carrara. Deve ser, de verdade, mistério um artista ser escultor como já é um mistério um homem ser artista.
É nestas circunstâncias que me coloco, sempre, diante de uma obra de um artista: perplexo em face de um mistério. Um verdadeiro mistério, único. Há, muito mais, do que capricho ao encher uma tela, ao desbastar uma pedra, ao compor uma poesia; isto é, toda a consciência trás consigo muito mais inconsciência do que se nos afigura, e mais, creio que, quanta mais consciência, mais liberta se acha, em nós, uma acção que nos excede.
O caminho do artista é seguir-se. Transborda subjectivismo, persegue a objectividade. E esta objectividade é única também, é a que corresponde ao seu mistério humano.
Estar atento a si próprio, não é de maneira nenhuma uma forma de egoísmo, mas sim o processo para se comprometer o eu no livro-aberto da vida. Quem foi que ensinou a toda a gente, grandes e pequenos, a ter essa consideração cheia de simpatia por tudo aquilo que leva a sua vida pela arte? Como dizia Blaise Pascal: “J´aime surtout ceux qui cherchent en guêmissaut”.
O mal entendido entre escolas de arte não vem do sentido do mistério humano, mas de circunstâncias subalternas, porém actuantes e capazes de distrair cada qual de si-mesmo. Os caminhos da arte são tantos quantos se tentarem. Lutar pelo próprio é ideal. Pretender vencer ou vencer os outros é tudo morrer. O único que nunca houve foram caminhos medíocres.»
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In FCG – DM 149/20, Manuscrito, s.d.. Carta transcrita na tese de Doutoramento de Rita Mega da Fonseca, Vida e Obra do Escultor Leopoldo de Almeida (1898-1975), Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, 2011, p. 215.
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Gaetano-Cellini, L’Umanita contro il Male (1906-1908, Galleria Nazionale d'Arte Moderna, Itália)
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P.S. Um assunto que gostava um dia de investigar, ou ver investigado, é o das relações entre as artes do sul da Europa, nomeadamente (ou especificamente), da arte portuguesa e da arte italiana dos séculos XIX-XX. Acho que há mais proximidades do que se julga, mormente no caso dos artistas portugueses que passaram por Itália como Henrique Pousão e Leopoldo de Almeida. Parece-me que Leopoldo viu certamente esta escultura de Gaetano-Cellini e que ela o inspirou para o seu Vencido da Vida.

domingo, 13 de maio de 2012

A Capela de Nossa Senhora de Fátima na Igreja de Santo Eugénio em Roma

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A iniciativa da Capela de Nossa Senhora de Fátima na Igreja de Santo Eugénio em Roma surgiu em 1942, no âmbito de um projecto traçado pelo Vaticano, cujo objectivo residiu na criação de um templo comemorativo do jubileu episcopal do Papa Pio XII (1876-1958), que tinha sido ordenado a 13 de Maio de 1917, no mesmo dia da primeira aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria. A igreja foi erguida na Vialle delle Belle Arti e deveria ser construída, apenas, com donativos de católicos de todo o mundo. Os trabalhos foram suspensos entre o Verão de 1943 e 1947, devido aos bombardeamentos da cidade de Roma. Portugal foi a única nação que garantiu, desde 1942, que a sua capela seria exclusivamente “feita com os mármores e pelos artistas portugueses”. Já depois da Guerra, Oliveira Salazar (1889-1970), que era então o Presidente do Conselho de Ministros, indicou ao Ministro das Obras Públicas e Comunições, José Frederico Ulrich (1905-1982), que procedesse à nomeação dos técnicos e artistas necessários e assumisse a responsabilidade da concretização do projecto. Foram chamados Luís Benavente (1902-1993), Jaime Martins Barata (1899-1970), Leopoldo de Almeida (1898-1975) e Jorge Barradas (1894-1971), que colaboraram na criação da capela, materializada no transepto da Igreja. O espaço projectado por Benavente apresenta-se como uma reunião do povo português em torno da Virgem. Jaime Martins Barata realizou uma pintura mural onde figuram Nuno Álvares Pereira, herói da independência nacional cuja causa de canonização fora retomada em 1940, Santo António de Lisboa, o santo português declarado Doutor da Igreja pelo próprio Papa Pio XII, a Rainha Santa Isabel e S. João de Deus. A meio da altura do pano central de parede, deparamo-nos com um alto-relevo da titular da capela, obra de Leopoldo de Almeida. A escultura, realizada em mármore de Vila Viçosa, constrói-se dentro de uma volumetria piramidal, no topo da qual sobressai o rosto humanizado de Maria. Estão presentes elementos característicos da iconografia fatimita, como a estrela junto aos pés e o rosário, mas o mestre inovou e simplificou, optando por uma volumetria inédita e uma expressão mais eloquente, actualizando, inclusivamente, o seu modelo, inaugurado com a igreja de Nossa Senhora de Fátima (1934-1938). Junto da mesa de altar projectada por Benavente, fica o frontal em cerâmica policromada, da autoria de Jorge Barradas, onde se vê uma interessante “Anunciação”, que remete para o culto eucarístico. A inauguração da igreja de Santo Eugénio em Roma e, naturalmente, da capela oferecida pelos portugueses a Sua Santidade, ocorreu no dia 2 de Junho de 1951. Paralelamente, em Lisboa, era inaugurada a igreja de Santo Eugénio no bairro da Encarnação, no exacto mesmo dia da consagração do templo homónimo de Roma.
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Resumido e adaptado do artigo de Vera Félix Mariz, «A capela de Nossa Senhora de Fátima na igreja de Santo Eugénio em Roma», in Artis, Lisboa, Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, vol. 9/10, 2010/2100, pp.389-397. A Dissertação de Mestrado, desta investigadora, orientada por Maria João Neto, sobre o mesmo assunto, foi apresentada na Universidade de Lisboa em 2010 e publicada em 2011 pelo Centro de História do Banco Espírito Santo.