Mostrar mensagens com a etiqueta Willem Kalf. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Willem Kalf. Mostrar todas as mensagens

sábado, 11 de janeiro de 2014

Potes de gengibre

Pote para gengibre de fabrico chinês, Dinastia Qinq (1730-1750, Palácio Nacional de Queluz - Link).
-
Em pesquisas na internet, descobri alguns factos interessantes sobre o gengibre, planta que foi inicialmente cultivada no Sul da Ásia, sendo objecto de comércio com a Europa pelo menos desde o período romano. O seu uso devia-se quer às suas propriedades medicinais, quer às suas possibilidades culinárias. Gosto de chá de gengibre, de ginger ale e, sobretudo de chocolate com gengibre (marca Cachet). Acho graça aos bonecos de gengibre e às casas de massa de gengibre, que se relacionam com a (terrível) história de Hansel e Gretel. Mas, de todas as descobertas que fiz, sobre esta planta, a mais interessante para mim foi a dos belos potes de gengibre, que aparecem em numerosas pinturas, algumas bem conhecidas e bem interessantes.
-
Willem Kalf, Still-Life with a Late Ming Ginger Jar (1669 - Link)
-
William Michael Harnett, Still Life with Ginger Jar (1876 - Link)
-
Paul Cezanne, Still Life with a Ginger Jar and Eggplants (1894, Metropolitan Museum of Art, New York City - Link)
-
Piet Mondrian. Still Life with Ginger Jar II / Stilleven met gemberpot II (1911/12, Gemeentemuseum, the Hague - Link)

domingo, 20 de outubro de 2013

Ainda sobre as Naturezas Mortas

Hubert van Ravesteyn, Still Life with Nuts, Wine and Tobacco (1671 - Link)
-
Por tradição, o formato da pintura de natureza morta é de dimensões relativamente reduzidas e a escala dos objectos tende a ser a mesma da realidade. Esta escala torna a pintura mais parecida com o espaço em que está inserida e a cena representada como que prolonga o espaço de produção ou recepção, contiguidade acentuada pela procura da ilusão de óprica. O fundo das naturezas mortas costuma ser sem horizonte definido, um fundo opaco composto por uma parede escura, o que é acentuado pela fraca iluminação, direccionada e em claro escuro, que contribui para eliminar a distância. Contudo, nem sempre se cumpria esta regra, surgindo naturezas mortas concebidas em lugares definidos e em tons claros, ou mesmo inseridas em paisagens. Por outro lado, desde o século XX, que a arte foi conquistando uma outra liberdade, que permite a criação de naturezas mortas em várias dimensões e com objectos figurados numa escala bastante superior à realidade, negando-se mesmo o colorido natural.

Willem Kalf, Still Life with Ewer and Basin, Fruit, Nautilus Cup (1660 - Link)

A ligação entre a natureza morta e o retrato tem longa tradição e já foi analisada por Oman Calabrese (Como se Lee una Obra de Arte, 1993). Já referimos que os retratos de família estão na origem das naturezas mortas de refeição, mas não devemos esquecer que as naturezas mortas surgiam noutro tipo de retratos, relacionando-se com a pessoa representada - por exemplo, livros junto de um escritor. Evidentemente, surgiam também naturezas mortas em quadros de género, históricos e religiosos, mas aí a relação é diferente, geralmente mais decorativa ou simbólica.

Portrait of a Patrician Family (1610 - Link)

A natureza morta pode substituir um retrato na ausência da pessoa física retratada e as primeiras naturezas mortas independentes, no período Moderno, apareceram na parte de trás dos retratos. O formato, escala e espaço do retrato tem paralelo com o das natutrezas mortas, pois o retrato também costuma assumir um tamanho próximo da realidade, figurando a pessoa num fundo abstracto e indefinido, procurando o efeito de trompe l'oeil. Em ambos os géneros se procura, geralmente, captar o instante duradouro, ficando os elementos em pose, dispostos em cena pelo artista. 

Henri Stresor, The Oyster Eater (Link)

É ainda de referir que, apesar das naturezas mortas corresponderem à representação de objectos e seres inanimados, é frequente a sua associação à pintura de género e à representação de pequenos animais. Alguns artistas fizerem numerosas pinturas de género em que a presença humana é secundarizada, ao ponto de se incluir essas obras em contextos temáticos de natureza morta. Aliás, a pintura de género, até pelo seu pequeno formato tradicional, tem proximidade, incluindo histórica, com a pintura de natureza morta - sendo de recordar as pinturas de "bodegones" ou os quadros de quotidiano holandeses, que influenciaram a pintura do século XIX, como no caso de Columbano ou Hammershøi. A questão da escala também contribui para a intromissão de géneros, com a figuração fortuita de pequenos animais vivos (insectos, roedores, ou até mesmo cães e gatos) em pinturas habitualmente consideradas de natureza morta (caso da Raia de Chardin). No entanto, não se consideram entre as naturezas mortas as figurações de animais de grande porte, que, em contrapartida, se assumem como presenças habituais em quadros de paisagem. Aqui há ainda outra questão que é o facto das naturezas mortas tenderem a surgir em espaços fechados e íntimos, o que normaliza a presença de animais que existem nos espaços domésticos, quer de forma permitida (caso dos gatos) quer de forma indesejada (caso dos insectos). Os animais, nestes casos, ajudam a construir a leitura simbólica das composições, o que se proporciona pelo significado  a eles associado.

Juan van der Hamen y Leon, Still Life with Sweets (1627 - Link)

As naturezas mortas correspondem a uma representação do mundo material, mas são simultaneamente um testemunho da vida interior do artista e incitam à meditação. Se possuem uma forte relação com o mundo sensível, também apelam ao intelecto, pois o artista, para as conceber, tem de realizar um esforço de concentração e de compreensão do mundo real, traduzido para o quadro através de uma composição artística.

sábado, 19 de outubro de 2013

Os Temas da Natureza Morta

A teoria de arte concebeu classificações detalhadas dos sub-géneros da natureza morta, baseando-se nos diferentes assuntos abordados. Embora a maior parte dos temas aceites correspondam sobretudo ao séc. XVII, alguns foram praticados desde a Antiguidade aos nossos dias, enquanto outros são apenas próprios de uma determinada época. O seu significado também se alterou com a evolução das mentalidades, reflectindo a própria história da humanidade e os seus interesses em cada momento.

Pieter Aersten, Market woman at a vegetable stand (1567, Gemäldegalerie, Berlim - via Wikipedia)

No séc. XVI surgiram as «Cenas de Mercados», que reflectiam o aumento da produção de alimentos que se deu com o avanço da agricultura na Idade Moderna. Não se tratam de naturezas mortas puras, pois apesar de serem os objectos que dominam em primeiro plano, apresentam planos mais vastos que incluem pessoas - o que, de certo modo, é mais próprio da pintura de género. Pieter Aersten pintava cenas de mercado como parte das ilustrações bíblicas, o que além de demonstrar o fascínio pela nova abundância do seu tempo, também introduzia um espírito crítico relativamente à vida dos lavradores ricos.

Juan Sánchez Cotán, Still life with a cardoon and francolin (1603 - Wkimedia Commons)
-
A abundância dos alimentos trouxe outra tipologia, que é a das «Alegorias de fertilidade», mas também introduziu outros sub-géneros, como os talhos, que por vezes aludem às «tentações da carne», ou as cenas de cozinha e os «bodegones» - mais relacionados com a economia doméstica, sendo os «bodegones» caracterizados por uma atitude mais votada à humildade. Dentro deste mundo dos alimentos devem incluir-se ainda as cenas de caça, que reflectiam, pelo menos inicialmente, os interesses da nobreza, que era quem, tradicionalmente, detinha o privilégio de caçar.

Willem Kalf, Still-Life with a Late Ming Ginger Jar (1669, Indianapolis Museum of Art, via Wikimedia Commons)

Ainda dos alimentos, devemos destacar os frutos, um dos temas presentes desde a Antiguidade aos nossos dias. Muitas vezes ligados ao "trompe l'oeil" (lembrando a anedota das uvas de Zeuxis), também eram símbolo de vanitas pelo facto de terem uma perfeição efémera - o que se nota nas representações mais realistas com frutos já deteriorados. Cabe aqui igualmente recordar as maçãs de Cézanne, que, no entender de Meyer Schapiro, podem ser vistas como um objecto ligado à sensualidade.

Pieter Claesz, Still-Life with Oystersc (1633, Staatliche Kunstsammlungen, Kassel - via Web Gallery of Art)

Há que referir as naturezas mortas com doces e sobremesas, que podem ter uma associação religiosa - lembremos que os conventos eram um local privilegiado de produção de doces. Por outro lado, o tema das refeições apareceu na Antiguidade, podendo ser visto em mosaicos. As refeições estavam ligadas à representação da família que se reunia para comer, mas também podiam ser indício de luxo, ou, em oposição, do ideal de contenção, por razões económicas ou morais.

Adriaen van Utrecht, Vanitas - Still Life with Bouquet and Skull (via Wikipedia)

Num outro sub-género estavam as vanitas, que já existem desde a Antiguidade. Incluídas por vezes em pinturas que faziam referência aos cinco sentidos, aludem à futilidade dos bens terrenos, apelando também à contenção moral.

Balthasar van der Ast, Flower Still-Life with Shell and Insects (via Wikimedia Commons)

As flores foram as primeiras naturezas mortas a serem pintadas de forma independente, sendo divulgadas especialmente a partir do séc. XV. Conectavam-se com interpretações simbólicas de cariz religioso, ou evocavam propriedades curativas e medicinais. No entanto, também podiam ser entendidas como vanitas devido à sua breve beleza, depois de serem arrancadas da terra.

Evaristo Baschenis, Natureza morta com instrumentos musicais, globo e esfera armilar (Kunsthistorisches Museum, Viena Link)

Cabe ainda referir as naturezas mortas com instrumentos musicais, tema em que se destacou Evaristo Baschenis. Estavam sobretudo ligadas ao sentido da audição e, naturalmente, à própria música. Os livros, por fim, surgiram inicialmente ligados às pinturas da Anunciação e a outros temas religiosos, nomeadamente relacionados com os Evangelhos. Inicialmente vistos como sagrados, pela importância da Bíblia e pela sua raridade, foram gradualmente sendo encarados como emblema de vanitas, particularmente depois da Imprensa, que permitiu a sua secularização e fácil divulgação.

Jan Davidszoon de Heem, Still-Life of Books (1628, Mauritshuis, The Hague - Wikimedia Commons)
-
Bibliografia:
Meyer Schapiro, Style, Artiste et Societé, Paris, Gallimard, 1982.
Norbert Scneider, Still Life Painting in the Early Modern Period, Taschen, 1994.
Luís de Moura Sobral, «Três "bodegones" do Museu de Évora - algumas considerações», in Colóquio - Artes, n.º 55, Dezembro, 1982.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

A Perspectiva das Coisas

Pintura de Willem Kalf, Bodegón con cuenco chino, copa nautilo y otros objetos (1662, Museo Thyssen-Bornemisza).
---
Excelente a exposição da Gulbenkian, onde esta pintura está presente.
Reúne naturezas mortas de diversos artistas europeus, dos séculos XVII e XVIII, alguns tão importantes como Rembrandt, Chardin e Goya.
Para mim, o melhor é a pintura holandesa, integrada no tema «Jogos de Luz», pois, além de eu ser uma apaixonada pela pintura dos Países Baixos, sou particularmente admiradora dos trabalhos de natureza morta. Fico encantada a ver como conseguem traduzir brilhos, texturas e transparências de uma maneira tão realista, sob uma luminosidade tão bela.
Também gosto muito das pinturas com doçarias, onde estão presentes quadros de Josefa de Óbidos; dos bodegones espanhóis, que me fascinam sobretudo pela forma como constroem as composições; assim como das naturezas mortas de flores, devido à riqueza do colorido.
É uma festa para os olhos, sob o silêncio próprio do tema.
---
Margarida Elias.