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sexta-feira, 25 de março de 2022

No Dia da Anunciação

Baixo relevo da Basílica de Mafra, desenho de Manuel Maria Bordalo Pinheiro, gravura de José Maria Baptista Coelho, in Archivo Pittoresco, n.º 20, 1861, p. 153.
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A ler: Graça Afonso, «O Archivo Pittoresco e a evolução da Gravura de Madeira em Portugal», comunicação apresentada no Ciclo de Conferências Arquivo Pitoresco, 150 Anos Depois (1857-2007), 2.ª Conferência (Hemeroteca Municipal de Lisboa, 20 Setembro 2007).

terça-feira, 3 de março de 2020

Da Exposição de Álvaro Pires de Évora

Díptico da Anunciação (c. 1414-1420, Galleria Nazionale dell'Umbria, Perugia)
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Virgem com o Menino em Majestade entre São Nicolau de Bari, São João Baptista, São Cristóvão e São Miguel Arcanjo, São Cosme e São Damião (depois de 1417, Comune di Volterra - Pinacoteca Cívica, Volterra)

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Nossa Senhora com o Menino e os Anjos Músicos (c. 1430, Convento de S. Cruz, Fossabanda, Pisa)


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A Anunciação (1430-1434, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa)
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Cristo Ressuscitado Abençoando (c. 1430-1435, Museu Szépmüvészeti, Budapeste)

sexta-feira, 24 de março de 2017

Para o dia da Anunciação (25 de Março) com votos de bom fim-de-semana!

Irmãos Limbourg, Les Belles Heures du duc de Berry (1405-1409, Metropolitan Museum of Art, New York)
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Donatello, Annunciazione Cavalcanti (c. 1435, Basílica de Santa Croce, Florença)
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The Virgin Mary from the Annunciation (c. 1480, St Martin´s Cathedral, Bratislava)
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Baltazar Echave Orio, Anunciacion (1621)
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António Carneiro, Anunciação (1915)

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Outra Anunciação

Joos van Cleve, The Annunciation (c. 1525, Metropolitan Museum of Art, New York)
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A Anunciação de van Cleeve data de cerca de um século depois relativamente à de Campin, mas mantém uma estrutura compositiva idêntica. A posição das figuras principais é semelhante, ficando a Virgem ajoelhada no chão em sinal de humildade (apesar de ter uma cadeira atrás de si, que pela riqueza deverá evocar o Trono de Salomão). Existe também o vaso de metal com uma toalha e uma janela que abre para a paisagem (que desenha uma cruz). 
Contudo, para além de uma retórica mais evidente (por exemplo na mão levantada do anjo), há diferenças que devem ser marcadas: a vela, símbolo de Cristo, está acesa, e o Espírito Santo é figurado por uma pomba. Como em Campin, quase todos os elementos são simultaneamente evocativos de um ambiente doméstico e passíveis de uma leitura simbólica. Há elementos inovadores (do que eu conheço), como esta imagem de Moisés com as Tábuas dos Mandamentos, afixada na parede, junto da pomba, atrás de Maria:


E, independentemente das interpretações iconográficas, trata-se de uma obra magnífica como desenho e como pintura, tal como se pode ver detalhadamente no site do MET, ou nos exemplos que escolhi e coloco em baixo, com o rosto e a mão da Virgem junto da Bíblia. Na primeira imagem, note-se a transparência do véu e os fios dos cabelos:



Ou, ainda, no belíssimo armário tardo-medieval:



A ver:
http://www.metmuseum.org/art/collection/search/436791

quarta-feira, 6 de abril de 2016

A Iconografia do Retábulo de Mérode

Robert Campin (oficina), Retábulo de Mérode (c. 1427-1432, Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque)
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Projectei trazer este "post" no dia 25 de Março, dia da Anunciação, mas na altura não foi possível.
O tema da Anunciação na arte é um dos que mais me fascina, sendo a iconografia outro dos assuntos que me interessa. Daí que tenha lido com interesse o artigo de Margaret B. Freeman, intitulado «The iconography of the Merode altarpiece». Irei fazer um resumo do artigo, que encontrei online no site JSTOR (mas não consigo reencontrar), salientando os pontos que achei mais interessantes.
A autora começa por afirmar: «The iconography of the Merode altarpiece is something of a puzzle - a puzzle which has interested many people for a long time.» Segundo ela, a dificuldade básica na leitura desta obra é que «Robert Campin, rejoicing in the ability to reproduce the physical world in paint on a wooden panel, at the same time felt it important to endow his apparently natural world with as much spiritual meaning as possible.» 
Por exemplo, os leões no banco simbolizam o trono de Salomão ou são apenas representações decorativas características do mobiliário medieval? No livro Speculum humanae salvationis diz-se: «The throne of [the wise] King Solomon is the Virgin Mary in whom stayed and lived Jesus Christ, the true wisdom.... This same throne had two large lions which signified that Mary retained in her heart ... the two tablets of the ten commandments of the law.»


Segundo este artigo, Campin, se não foi o primeiro que colocou os "espectadores" perante estas dúvidas iconográficas, foi certamente o primeiro a representar um cenário doméstico completo numa Anunciação. Esta atitude coaduna-se com uma imagem moderna de Santa Maria, como alguém que foi humano e viveu na Terra, escolhida por ser "cheia de Graça" para ser Mãe de Deus. 
A posição de Maria, ajoelhada no chão, é um sinal da sua humildade. Na pintura, surgem também os lírios numa jarra sobre a mesa, simbolizando a sua pureza e castidade. 


Junto dos lírios está uma vela recentemente apagada, de significado obscuro. A cera representa a humanidade de Cristo, o pavio a sua alma, o fogo a sua divindade. O facto de estar apagada talvez seja explicável pelas Revelações de Santa Brígida: «the divine radiance (...) totally annihilated the material light,» É também possível que servisse para enfatizar que Cristo se tornou humano, sendo interpretável que foi a entrada de Jesus no quarto que apagou a vela.


O significado de pureza é acrescentado pelo vaso de bronze com uma toalha ao lado. Junto desse vaso está uma janela de onde entram raios de luz, e uma criança carregando uma cruz, em direcção à Virgem. São Bernardo explica deste modo o próprio milagre da Encarnação: «Just as the brilliance of the sun fills and penetrates a glass window without damaging it, and pierces its solid form with imperceptible subtlety, neither hurting it when entering nor destroying it when emerging, thus the word of God, the splendor of the Father, entered the virgin chamber and then came forth from the closed womb.» Neste quadro, são sete os raios de luz, indicando os sete dons do Espírito Santo. A cruz tem também um significado claro: «God became Man to suffer and die in order to redeem mankind from the original sin of Adam.»


Outra dúvida coloca-se com a porta aberta no painel esquerdo, com os doadores - que torna aberto o quarto de Maria, que costuma ser representado como fechado (ou pelo menos sem portas abertas e realisticamente figuradas). Pode ser apenas uma barreira e um artifício que simultaneamente separa e une o painel esquerdo e o central. Contudo: «Did Campin then open the door because he wanted his patrons, the kneeling donors, to participate in the event (unlike the angel they could not penetrate a solid door), or did he perhaps have in mind the symbolism of Voragine, "The gate of paradise which by Eve was closed from all men, is now opened by the Blessed Virgin Mary." ?» Por outro lado, para Santa Brígida, as portas são símbolo de esperança e também de caridade.



O jardim é certamente carregado de simbolismo. A roseira simboliza o martírio de Cristo e as rosas a própria Virgem Maria. As flores junto do canto inferior esquerdo são miosótis ("não-me-esqueças") simbolizando os olhos de Maria, mas também violetas e margaridas, signos de humildade. Lembram também que Cristo foi concebido no tempo das flores (Primavera). O muro do jardim indica a virgindade de Maria geralmente comparada a um jardim fechado.


Interessante é também a vista de Tournai, que se descobre no painel direito que representa a oficina de São José. Este parece que se dedicou a fabricar ratoeiras. Estas estão provavelmente ligadas ao facto de a sabedoria sobre a divindade de Cristo dever ser protegida do diabo, para que este não soubesse que Ele era mais do que um homem durante a missão que desempenhou na Terra. Escreveu Santo Agostinho: «The devil exulted when Christ died, but by this very death of Christ the devil is vanquished, as if he had swallowed the bait in the mousetrap. He rejoiced in Christ's death like a bailiff of death. What he rejoiced in was then his own undoing. The cross of the Lord was the devil's mousetrap; the bait by which he was caught was the Lord's death.» 
A autora termina dizendo: «Robert Campin, an innovator in many ways, seems to be at his best in giving new dignity and importance to Joseph the Carpenter, whose feast was not made universal until 1621 (...).»
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Deste modo, aqui fica com algum atraso um post que tanto celebra a Anunciação (25 de Março), como o dia de São José (19 de Março), como até a chegada da Primavera (20 de Março).

terça-feira, 25 de março de 2014

A Inocência

Jorge Barradas, Anunciação (1936, Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea)
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A Inocência

Caminhando no mundo vai segura 
A Inocência, com grave firme passo. 
Sem temor de cair no infame laço 
Que arma a traidora mão, a mão perjura. 

Como não obra mal, nem mal procura 
Para os seus semelhantes, corre o espaço 
Sem lança, sem arnês, sem peito de aço, 
Armada só de consciência pura. 

Pois que ofensa não faz, não teme ofensa 
E por isso passeia, satisfeita, 
Sem as feras temer na selva densa. 

Traições, ódios, vinganças não espreita. 
Certa no bem que faz, só nele pensa: 
Quem remorsos não tem, mal não suspeita. 
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sábado, 6 de abril de 2013

Partindo de Hildegard de Bingen para outras divagações sobre o tempo e a mudança

«(...) the visions I saw I did not perceive in dreams, or sleep, or delirium [in phrenesi], or by the eyes of the body, or by the ears of the outer self, or in hidden places; but I received them awake and seeing with a pure mind and the eyes and ears of the inner self, in open places, as God willed it. How this might be is hard for mortal flesh to understand» (Hildegard of Bingen, Link)
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Hildegard of Bingen, The Trinity (Link).
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Hildegard of Bingen, Angelic Choir from Liber Scivias (c. 1180, St. Hildegard’s Abbey, Eibingen, Link)
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Hildegard of Bingen, Cultivating the Cosmic Tree (Link)
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No post de ontem escrevi sobre o tempo, no post de hoje desejo complementar esse discurso com um outro assunto que me interessa: a entropia e o equilíbrio. De uma forma simplificada, a entropia está ligada à quantidade de informação - quanto maior a informação maior a entropia. Na nossa sociedade há uma grande quantidade de entropia, o que implica que temos de alterar a nossa maneira de estar na vida para nos adaptarmos a uma nova forma de viver a temporalidade, para conseguirmos gerir a grande quantidade de informação que nos rodeia.
Para escrever sobre este assunto vou basear-me num texto que já li há muito tempo e que agora vou resumir, escrito por Fernando Carvalho Rodrigues e intitulado: “As Novas Tecnologias, O Futuro dos Impérios e os Quatro Cavaleiros do Apocalipse”. Carvalho Rodrigues faz um paralelo entre a evolução das sociedades e os Quatro Cavaleiros do Apocalipse (de São João). De acordo com o seu texto, - que vou citar e resumir de uma forma muito livre -, na definição de Shannon, um sistema que tem em si uma grande quantidade de informação - no sentido de que, para o conhecer, são necessárias longas explicações - induz em quem o observa uma grande ignorância; a estrutura que lhe dá a forma é altamente desordenada. Se, pelo contrário, a estrutura é mais ordenada, temos dela menos ignorância, necessitamos de menos informação para a perceber. A estrutura bem organizada, ordenada, tem uma baixa quantidade de informação.
Por seu lado, Boltzmann demonstrou que o equilíbrio é o estado em que não há dinâmica (os estados do sistema são sempre os mesmos), não pode haver evolução, é um estado excepcional no Universo. Para a vida funcionar, ela necessita de criar, de promover e de se expandir em estruturas que estão fora do equilíbrio termodinâmico. Deste modo, se chegarmos ao equilíbrio total, deixamos de ter informação ou energia - deixa de haver vida. Por isso, é necessário que haja uma via que permita que a informação vá aumentando e simultaneamente a sociedade seja capaz de a absorver, incorporar no seu sistema, permitindo a continuação da vida.
Essa via será a do primeiro cavaleiro do Apocalipse, que veste de branco, monta um cavalo branco e, armado de arco a flechas, percorrerá o mundo difundindo boas-novas. É o cavaleiro que leva a Esperança, o que espalhará o que há de bom. Ele é a vida da ascensão em espiral, gerada por uma taxa de inovação criativa constante. Trará um crescimento no conhecimento e a criação de melhores estruturas mais longe do equiliíbrio, mais funcionais, sabendo que não é no domínio da Natureza pelo Homem, mas da vida das estruturas em uníssono com o Universo que brotará um novo (e melhor) império. 
Como escreveu Carvalho Rodrigues, é uma coisa contraditória a que queremos almejar: estar em equilíbrio com a Natureza e, ao mesmo tempo, permanecer fora do equilíbrio termodinâmico, para continuar a viver. A chave está na inovação criativa: no combate contra a ignorância e na busca da felicidade. Hoje em dia, a informação é demasiado grande para um único ser e por isso tem de ser partilhada, gerida de uma forma diferente - pela união entre os povos - para poder ser entendida, para se poder continuar a criar e a gerar vida. É esse o paradoxo: inovar e procurar o equilíbrio, mas evitar alcançar o equilíbrio total, onde a vida deixa de existir.
Como terá dito Darwin: «Não é o mais forte que sobrevive. Nem o mais inteligente. Mas o que melhor se adapta às mudanças».
Por fim, creio sinceramente que entre o excesso caótico de informação e o equilíbrio perfeito mas estéril, há pontos intermédios onde podemos encontrar o contentamento - alguns deles estão, muito provavelmente, na arte.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Sexta-Feira Santa



Jan Van Eyck, The Ghent Altarpiece (1432, Catedral de Bavon, Ghent - Links: I, II, III e IV)
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«Na tradição cristã, a “árvore da vida” do Génesis (a árvore da primeira aliança, do Antigo Testamento) associa-se à árvore da cruz (a árvore da nova aliança, do Novo Testamento). A cruz erguida no monte Gólgota, árvore sagrada por excelência, é também uma árvore cósmica. Instrumento de suplício e de redenção, ao dar a vida através da morte, a cruz cristã reúne os dois sentidos extremos da árvore».
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Isabel Mayer Godinho Mendonça, «A “Árvore da Vida” nas Artes Decorativas – os Sentidos de uma Imagem, entre o Ocidente e o Oriente», in MENDONÇA, Isabel Mayer Godinho, CORREIA, Ana Paula Rebelo (Coord.), As Artes Decorativas e a Expansão Portuguesa, Lisboa, ESAD-FRESS, 2008,  pp. 91-92.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Três tempos na leitura de um quadro

Pieter de Hooch, The Bedroom (1658-60, Kunsthistorisches Museum, Vienna).
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Quando olhei pela primeira vez para esta pintura de Pieter de Hooch, pensei que era um belo exemplo das representações de interiores dos quadros holandeses, com as suas características típicas, de riqueza de luz e de detalhes realistas. Notei no chão que se abre para o espectador que se sente convidado a entrar. Reparei na senhora, a fazer a cama e na criança que está junto da porta, numa atitude claramente infantil e alegre. Vi ainda que os diferentes espaços são bem marcados, mas ligam-se entre si: o espaço da acção que está junto do espectador, que é o espaço interior e familiar; o espaço intermédio, da entrada; o espaço exterior, que está no ponto de fuga da composição, que mostra uma varanda, deixando entrever uma paisagem com árvores e casas. O nosso olhar é levado para esse exterior, mas retorna para o interior. Não deixa de ser significativa a presença sobre a porta de um quadro com uma paisagem que reforça a paisagem da janela e nos traz de volta para dentro do quarto. Num segundo olhar, notei nas cadeiras que também surgiam nos retratos de Rubens e Van Dyck. Fiquei a pensar que deveriam ser um objecto caro, mas relativamente comum. Provavelmente indicavam que esta se tratava de uma casa simples, mas com algum estatuto e conforto. Em termos pictóricos, estas cadeiras com as decorações em dourado fazem uma perfeita ligação às vestes da criança. Num terceiro tempo reparei que a moldura da porta intermédia e da porta exterior compõem o desenho de uma cruz. Assim, se consegue transmitir uma noção de religiosidade dentro da vida quotidiana, o que é uma característica da pintura holandesa depois da adesão ao Protestantismo.

domingo, 12 de junho de 2011

Domingo de Pentecostes

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Porque hoje é Domingo de Pentecostes, coloco aqui esta pintura que tirei do novo site do Matriznet, que está muito bom e recomendo vivamente.
Segundo o site, esta pintura foi atribuída por Luís Reis Santos ao Mestre da Lourinhã, mas actualmente é considerada de um mestre desconhecido. O texto que acompanha a pintura diz.
«Embora seja Cristo o verdadeiro protagonista do Pentecostes, figura invisível que envia o Espírito-Santo sobre os apóstolos para lhes possibilitar pregar o Evangelho em todas as línguas, é a Virgem a figura central, que surge representada no centro da composição, presidindo à assembleia, sentada em oração e com um livro aberto sobre os joelhos. A rodeá-la encontram-se os apóstolos, seis de cada lado, e, ao fundo, uma figura que se retira apressadamente da cena. A arquitectura representada é já "ao romano"».
Trata-se de uma pintura muito interessante, que me faz lembrar a Anunciação da oficina de Jorge Afonso (Retábulo da Madre de Deus), sobretudo pelo efeito da janela com dois arcos contíguos, formando um M, sobre a cabeça de Maria. Aliás, existem outros paralelos entre estas pinturas, razão pela qual é provável que sejam do mesmo autor, ou, pelo menos do mesmo círculo. Aqui fica também o Pentecostes desse Retábulo.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Anunciação I

Brice Marden, Anunciação (1978).
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Brice Marden (n. 1938) é um pintor americano, geralmente associado ao Minimalismo. Numa entrevista (1988), em que se referiu às suas Anunciações dizia:
«I had these ideas about things moving through, moving across a plane—out, out, out. They were painted in such a way that the stroke on the right was echoed in the stroke on the left.  (...) In the Annunciations I put the paint on working from right to left, but the light moved from left to right».
Brice Marden joga com o ritmo e a cor, as quais mantêm o esquema aberto / fechado: preto é fechado; amarelo / vermelho é aberto. Parece-me que o amarelo é a luz, correspondendo ao anjo, que se move para a direita, em direcção à Virgem, que corresponde aqui à cor vermelha. Não sei, contudo, até que ponto esta pintura tem uma intenção espiritual que ultrapasse o jogo pictórico.
Uma questão que me anda a interessar ultimamente é a da relação entre a igreja e a arte desde o século XIX, pois os movimentos artísticos, tenderam a utilizar linguagens formais que a igreja rejeitou. Contudo, houve artistas que trabalharam para a igreja ou pintaram temas religiosos. Há pouco tempo descobri num livro sobre este assunto uma citação de João Paulo II (de 1980) que me parece verdadeira: 
«Na arte trata-se do homem, da verdade do homem (...). Uma colaboração no diálogo entre a Igreja e a arte, com os olhos postos no homem, consiste e se apoia em que ambos pretendem libertar o homem de escravaturas exteriores e conduzi-lo a si mesmo» (citado por Juan Plazaola, 2001).

quinta-feira, 24 de março de 2011

Anunciação

 Petrus Christus, Annunciation (1452, Groeninge Museum, Bruges).
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Provavelmente, quem segue este blogue sabe que a Anunciação é um dos meus temas preferidos da história da arte. As razões prendem-se não só com a beleza do episódio bíblico, mas também com outros factores: gosto de anjos, gosto das representações de cenas interiores e do quotidiano que geralmente estão associadas a este tema (sobretudo na pintura flamenga e holandesa), gosto dos símbolos mais ou menos escondidos e dos múltiplos detalhes. O meu interesse sobre o tema aumentou quando li o livro de Didi-Hubberman sobre Fra Angelico e quando fui a Florença e vi as Anunciações de Fra Angelico. Também aumentou quando descobri que a Anunciação se festejava no dia 25 de Março, sendo associada à chegada da Primavera, fazendo nove meses de antecedência até ao Natal - quando se festeja o nascimento de Jesus.
Esta Anunciação que escolhi para celebrar o dia 25 de Março de 2011 é de Petrus Christus, um pintor que nasceu em Baarle-Hertog, perto de Antuérpia, activo em meados do século XV. Interessou-me por vários motivos: a delicadeza do anjo Gabriel, anunciando a Maria que iria conceber Jesus, a figura também delicada de Maria, com as mãos em pose de aceitação, tendo sobre a sua cabeça a pomba do Espírito Santo. 
Depois atraem-me os detalhes habituais: a Virgem junto de uma mesa com livros, evocando a Bíblia, estando um fechado e outro aberto - referindo-se talvez ao Velho e ao Novo Testamento. Entre o anjo e a Virgem está uma jarra com lírios, lembrando a pureza de Maria.
A cena passa-se num interior, que parece ser o de uma igreja, com paredes rasgadas por grandes janelas com vitrais que permitem a iluminação do espaço. Entre os vários aspectos interessantes desta pintura, há alguns que vou destacar: a perspectiva centralizada que aponta para o grande vitral ao centro, em cima, onde num círculo está figurada uma imagem de Maria, ladeada por Deus e por Jesus.
Por outro lado, acho muito interessante (e bela) a paisagem que se vê pela porta aberta, do lado de Maria. Importa notar que, segundo Didi-Hubermann, as Anunciações jogam com a ideia de aberto e fechado, ficando a Virgem geralmente do lado da casa / fechado e o anjo do lado do jardim / aberto. No entanto, aqui a Virgem fica do lado do jardim, onde se vêm pavões, que são um símbolo cristão. O jardim simboliza o Paraíso perdido, que será retomado com Maria através de Jesus, a qual é associada à imagem de Hortus conclusus (do Cânticos dos Cânticos).
Creio que há outros detalhes importantes, entre os quais os dois profetas, um de cada lado do arco, que evocam certamente os profetas que anunciaram a vinda de Jesus. Esta pintura é muito rica de leituras e talvez um dia venha a descobrir mais sobre ela.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Anunciação III

Pintura de George Lawrence Bulleid, The Annunciation (1903).

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Segundo Baxandall (1985), Fra Roberto, pregando sobre a Anunciação, distinguia três mistérios principais: 1) a Missão Angélica, 2) a Saudação Angélica e 3) o Colóquio Angélico. É de Fra Roberto a divisão entre Conturbatio, Cogitatio, Interrogatio, Humiliatio e Meritatio, do terceiro mistério da Anunciação.
Nesta Anunciação moderna é difícil ler qual é o momento exacto a que se reporta, talvez a Saudação Angélica, visto que o Anjo está de joelhos perante a Virgem.
Acho interessante o realismo dos detalhes, num certo rigor arqueológico da descrição do cenário, que não existia nas pinturas mais antigas - embora mantendo a iconografia tradicional.

domingo, 30 de maio de 2010

Anunciação e Visitação

Pintura de um Mestre Flamengo, Anunciação e Visitação (c. 1525, Groeninge Museum, Bruges).
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Duas pinturas de um Mestre Flamengo, uma figurando uma Anunciação, num espaço interior. Vê-se Santa Maria junto de uma mesa, com a Bíblia, tendo a seu lado o Anjo Gabriel e, voando sobre a cabeça, a pomba do Espírito Santo. 
Na segunda, Santa Maria está junto de Santa Isabel, sua prima. Ambas estavam grávidas: a Virgem de Jesus, Santa Isabel de São João Baptista. O cenário é um exterior, vendo-se ao longe algumas casas.
A festa da Visitação, celebrada em 31 de Maio, foi introduzida pelos Franciscanos, em 1263, estendida a toda a cristandade em 1389, mas só foi confirmada pelo concílio de Basileia em 1441.
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Dicionário da Bíblia e do cristianismo (2004).

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Anunciação II

Pintura de George Hitchcock, The Annunciation (1887, The Art Institute of Chicago).
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Nesta pintura de George Hitchcock (1850-1913), figurando uma Anunciação, o anjo Gabriel está ausente. Em contrapartida, entre o espectador e a Virgem há um campo de lírios brancos, que simbolizam a sua pureza.
De acordo com o site Art Magick, este pintor americano viveu na Holanda, tendo ficado conhecido pelas suas pinturas com temas religiosos em cenários contemporâneos, mas também pelas representações de paisagens campestres holandesas.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Anunciação I

Pintura de Dante Gabriel Rossetti, Ecce Ancilla Domini! (1849-1850, Tate Collection, Londres) e The Girlhood of Mary Virgin (1848-1849, Tate Collection, Londres)
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«Eis aqui a serva do Senhor» (Lucas, I, 38).
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Na Anunciação, a Virgem está sentada sobre a cama, parecendo simultaneamente assustada e resignada perante as palavras do Anjo Gabriel. A composição é dominada pela verticalidade, quer das figuras, quer do pano vermelho com lírios bordados a branco. O anjo, como é tradicional, tem na mão um lírio branco, símbolo da pureza. Aliás, o branco invade quase toda a pintura, acentuando a espiritualidade da cena representada.
Na pintura The Girlhood of Mary Virgin, vê-se a Virgem a fazer o bordado, que aparece na Anunciação, com a ajuda de Santa Ana, sua mãe.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Anunciação

«Tous les temps sont donc à l'oeuvre dans le moment de l'Annonciation»
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Didi-Hunerman.

Pinturas de Fra Angelico, Anunciação (Convento de São Marcos, Florença).
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São várias as razões deste post... O meu tema preferido na Arte é o da Anunciação. Fico fascinada com todas as suas variantes, com todos os significados e também com a imagem do anjo Gabriel. Depois, hoje é dia 25 de Março, dia da Anunciação. Passa-se na Primavera, daí as flores no jardim.
Por outro lado, a escolha destas imagens em particular, tem a ver com um dos momentos mais mágicos da minha vida que foi a visita ao Convento di San Marco, em Florença. A beleza das celas, todas de uma sobriedade tocante, apenas decoradas (se assim se pode dizer) com frescos de Fra Angelico, marcou-me profundamente.
A escolha da frase, do livro de Didi-Heberman sobre Fra Angelico, também não é inocente: é um dos meus livros preferidos.
Por fim, não talvez por acaso, no dia do meu casamento, a música do "bolo de noiva" foi «My Angel Gabriel» dos Lamb. E esse foi um dos três momentos ainda mais mágicos da minha vida, contando com o nascimento dos meus dois filhos.