sexta-feira, 25 de março de 2011

Anunciação I

Brice Marden, Anunciação (1978).
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Brice Marden (n. 1938) é um pintor americano, geralmente associado ao Minimalismo. Numa entrevista (1988), em que se referiu às suas Anunciações dizia:
«I had these ideas about things moving through, moving across a plane—out, out, out. They were painted in such a way that the stroke on the right was echoed in the stroke on the left.  (...) In the Annunciations I put the paint on working from right to left, but the light moved from left to right».
Brice Marden joga com o ritmo e a cor, as quais mantêm o esquema aberto / fechado: preto é fechado; amarelo / vermelho é aberto. Parece-me que o amarelo é a luz, correspondendo ao anjo, que se move para a direita, em direcção à Virgem, que corresponde aqui à cor vermelha. Não sei, contudo, até que ponto esta pintura tem uma intenção espiritual que ultrapasse o jogo pictórico.
Uma questão que me anda a interessar ultimamente é a da relação entre a igreja e a arte desde o século XIX, pois os movimentos artísticos, tenderam a utilizar linguagens formais que a igreja rejeitou. Contudo, houve artistas que trabalharam para a igreja ou pintaram temas religiosos. Há pouco tempo descobri num livro sobre este assunto uma citação de João Paulo II (de 1980) que me parece verdadeira: 
«Na arte trata-se do homem, da verdade do homem (...). Uma colaboração no diálogo entre a Igreja e a arte, com os olhos postos no homem, consiste e se apoia em que ambos pretendem libertar o homem de escravaturas exteriores e conduzi-lo a si mesmo» (citado por Juan Plazaola, 2001).

5 comentários:

ana disse...

Margarida,
O tema interessa-me bastante. A ligação da Arte, artistas e a Igreja fascina-me.
Compreendo o ponto de vista desta tela que desconhecia. Pessoalmente, julgo que lhe falta movimento: o movimento do Anjo e da Virgem que poderia ter sido dado com um traço oblíquo. Mas isto é a minha sensação.
Gostei de conhecer.
A citação de João Paulo II é muito interessante, e mostra a humanidade de um homem lúcido.
Obrigada por este acordar.
Bjs. :)

Margarida Elias disse...

Ana: Gosto bastante da arte abstracta e da maneira como trata o simbolismo e a espiritualidade de um modo conceptual. Por outro lado, ando interessada com a ligação entre a arte e a igreja / religião na época contemporânea. Gostava de ver estudos sobre o assunto, mas conheço poucos. Por fim, achei interessantes as palavras de João Paulo II porque falam da arte e da religião como maneiras de libertar o homem, o que me parece também lúcido (tal como diz). Bj e obrigada!

Sara disse...

Margarida, estou em falta consigo: o tempo é um carrasco e não nos dá margem para tudo o que gostaríamos de fazer.
Por isso, vem só agora o meu agradecimento pelo prémio, que muito apreciei, bem como por todas as oportunidades que cria para a nossa aprendizagem e fruição. Com certeza, o prémio é retribuído.

Um abraço e um bom fim-de-semana!

APS disse...

O tema, em si, é realmente complicado para quem não é especialista (como eu), mas apenas amador/apreciador da Arte Moderna. É evidente que, no binómio Arte/Religião fico-me por Rouault,Gauguin,Matisse,Ernst Barlach (cujo "Anjo suspenso" é uma maravilha) e Käthe Kollwitz, mas todos eles ainda figurativos.O recente encontro de Bento XVI com Artistas é um bom prenúncio.
E gostei do quadro que postou.

Margarida Elias disse...

Sara: Não era preciso agradecer. Um abraço e bom Domingo!

APS: Eu também não me sinto especialista na arte posterior a 1945. Gosto muito de arte abstracta (entre outras expressãoes artísticas contemporâneas), mas não me sinto a dominar o assunto. Gostava de saber mais, apesar de não ter tempo suficiente para explorar estes assuntos. O minimalismo e a arte conceptual são dois temas que gostava de perceber melhor.