Aqui se apresentam mais senhoras vistas de costas, todas do século XVII. De Gerard ter Borch (1617-1681) fica uma Woman at a Mirror.
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O outro exemplo é o Perfume de Francesco Furini (1603-1646).
O enigma da mulher vista de costas, sem rosto, é no primeiro caso contrabalançado pelo facto de se ver o seu rosto reflectido no espelho, o que também acontece na Vénus ao espelho (The toilet of Venus) de Velásquez (1599-1660), pertencente à National Gallery de Londres.
Nesse sentido, estas imagens (incluindo o Perfume) estão conectadas com a vaidade feminina.
No entanto, o quadro de Velázquez levanta-me outra questão: enquanto a pintura de nu explorou a forma sensual da mulher vista de costas, a pintura holandesa vestiu a mulher, retratando-a no seu quotidiano. Na primeira pintura, de Ter Borch, vemos a senhora no espelho, mas noutros exemplos, do mesmo artista, ela apenas esconde o rosto do espectador, como por exemplo em The Concert (Staatliche Museen, Berlinm).
No entanto, o quadro de Velázquez levanta-me outra questão: enquanto a pintura de nu explorou a forma sensual da mulher vista de costas, a pintura holandesa vestiu a mulher, retratando-a no seu quotidiano. Na primeira pintura, de Ter Borch, vemos a senhora no espelho, mas noutros exemplos, do mesmo artista, ela apenas esconde o rosto do espectador, como por exemplo em The Concert (Staatliche Museen, Berlinm).
Na realidade, estas mulheres vestidas também mostram sensualidade pela maneira como expõem o pescoço e os ombros ao olhar do espectador. Esta tipologia, da mulher vista de costas, vestida e numa situação quotidiana (mais ou menos recatada), terá sido aquela que foi seguida pelos pintores do século XIX, provavelmente quando a pintura holandesa do século XVII começou a ser alvo de atenção dos artistas, críticos e historiadores de arte. No entanto, para os pintores do século XIX, estas figuras femininas, muitas vezes isoladas, figuradas em espaços fechados e sombrios, são uma imagem melancólica, sobretudo se pensarmos nas obras de Vihelm Hammershoi (1864-1916). Tal como escreveu Tzvetan Todorov (1993): «(…) La peinture realiste, comme toute peinture représentative, continue d’affirmer la beauté de ce qu’elle montre; mais c’est souvent une beauté de l’accablement, du désespoir, de la détresse: ce sont dês fleurs du mal (…)».
6 comentários:
Esse recato que observas na pintura Holandesa nao estara relacionado com a mentalidade Calvinista?
Ainda hoje, o Calvinismo encontra-se muito presente no quotidiano Holandes: a discricao, o recato, a modestia, o rigor...
Sim, porque aquela conversa da Holanda ser actualmente um pais muito liberal nao tem nada a ver com a realidade do dia- a- dia... e nada de confundir Amsterdao com o resto do pais...
Bjs!
Sandra: Pensei nisso e é bem provável. Também me questionava se essa imagem da Holanda liberal correspondia à realidade e vieste confirmar a minha ideia. Bj!
Margarida,
Apreciei sobremaneira este conjunto de pinturas belíssimas, bem como a sua análise das obras.
Também me veio à ideia o que a Sandra referiu, a questão da religiosiade protestante (Calvinista)e o puritanismo.
Às vezes, uma mulher vestida é mais sensual que um nú, porque se olha mais para o contraste da pele com a veste.
Grata por esta partilha de ideias e análise de obras.
Bjs. :)
Ana: Concordo inteiramente consigo. Obrigada!:)
Tão bonito sempre!
Um beijinho
o falcão
MJ Falcão: Muito obrigada!!:)
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