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segunda-feira, 18 de abril de 2016

Arte e Ciência

Richard Diebenkorn, Cityscape I (1963, San Francisco Museum of Modern Art, San Francisco)
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Independentemente do sentimento afectivo que tenhamos pela natureza, há uma abordagem diversa entre a atitude poética e artística e a atitude científica ou ecológica. Essa diferença prende-se com um outro problema que tem sido várias vezes questionado, que é o da relação entre a arte e a ciência (cf. por exemplo Francastel 1963 e Huisman 1997).

Carl Spitzweg, Arts And Science (1880)

Mais recentemente, James Elkins afirmou: «I have never been convinced that science has much to do with painting — or with art in general.» E, nesse texto, chega a afirmar que: «To get at the science in art it is necessary to leave the science behind.» (Elkins 2009, 34 e 45). Basicamente, o historiador defende que os artistas em geral não se interessam por dados científicos para a concepção das suas obras, ou que, pelo menos, a criação de uma grande obra de arte não se relaciona com ciência.

Vincent van Gogh, Landscape With House And Ploughman (1889; Hermitage, St. Petersburg)

No caso do Naturalismo, quando os artistas foram para as florestas e os campos em busca de paisagens, não o fizeram com o espírito científico de análise, que estaria próximo da biologia ou da Ecologia. As únicas aproximações seriam quando os artistas faziam (como ainda fazem) ilustrações com finalidades científicas. Em geral, os artistas estavam, quando muito, mais perto do ambientalismo ou da ecologia arcadiana, nomeadamente quando adoptavam os temas da natureza como forma de obstarem ao desenvolvimento da indústria e das grandes cidades – ou mesmo resistindo à interferência da revolução industrial e agrícola nos trabalhos do campo ou na fisionomia das paisagens. Pois, como Kenneth Clark reclama: «(…) la science est intervenue en altérant radicalement nôtre conception de la nature (…)» (1994, 185).

Paul Cezanne, Mont Sainte-Victoire (1895, The Barnes Foundation, Merion)

A questão entre a paisagem (nomeadamente naturalista) e a ecologia, tem assim pontos de divergência, mas também tem pontos em comum, que devem ser ponderados. Um dos factores a considerar é o factor homem-natureza, presente em ambas as abordagens. Escreveu Deléage, no final do seu livro sobre a história da Ecologia: 
«Nós somos da natureza e estamos na natureza. A ecologia não pode, pois, furtar-se ao desafio de constituir um saber sobre uma natureza em que os homens se reconheçam como parte integrante e não como uma instância de dominação, estrangeira e hostil. Tal é a aposta.» (Deléage 1993, 255)
Claude Monet, Road In A Forest Fontainebleau (1864)

Apesar das distâncias de entendimento acerca da realidade natural, existem ligações entre a arte e a ciência. Como observou Linda Nochlin em 1971 (ed. 1991, 34-39), Comte, pai do Positivismo, previa que todo o conhecimento deveria ser científico, fundado na observação e na experiência. Castagnary, sobre o Salon de 1863, descrevia a escola naturalista como a verdade equilibrando-se com a ciência (Harrison et al. 1998, 412). Realistas e impressionistas recorreram a fotografias como meio de documentação para as suas pinturas, o que se associa a um desejo de verdade, ou sinceridade, na realidade representada através da arte.

Nyoman Masriadi, Save The Land (1998)

A atitude do artista e do cientista são diferentes. Se a ciência tem a obrigação de ser objectiva, a arte é necessariamente subjectiva. E, no entanto, a arte, ao chamar a atenção para a natureza, pode ajudar nos propósitos ambientalistas e ecologistas. E se isso é verdade para as formas de arte mais recentes, que incluem por exemplo a “Environmental Art”, também já era verdade para o Naturalismo paisagístico do século XIX.
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Bibliografia:


Clark, Kenneth, 1994. L'Art du Paysage. Paris: Gérard Monfort, Éditeur.
Francastel, Pierre. 1963. Arte e Técnica nos Séculos XIX e XX. Lisboa: Edição Livros do Brasil.
Harrison, Charles, Wood, Paul, Gaiger, Jason (edit.). 1998. Art in Theory. 1815-1900. Oxford: Blackell Publishers.
Huisman, Denis. 1997. A Estética. Edições 70.
Elkins, James. 2009. Aesthetics and the two cultures: why art and science should be allowed to go their separate ways. In Rediscovering Aesthetics: Transdisciplinary Voices From Art History, Philosophy, and Art Practice. Francis Halsall, Julia Jansen & Tony O'Connor (eds.), 34 e 45. Stanford University Press.
Nochlin, Linda. 1991. El Realismo. Madrid: Alianza Editorial.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Ecologia e Ambiente

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Jean-Paul Deléage afirmou que a ecologia começou «formalmente, em 1866, com a invenção do termo por Ernst Haeckel», sendo interpretada como «a ciência da totalidade das relações do organismo com o ambiente» (Deléage 1993, 13). 
Etimologicamente, a palavra “ecologia” vem do grego oikos, que tem o significado de “casa” e “habitat”. Em termos filosóficos, a ecologia é uma «teoria ou doutrina que tem como objectivo uma melhor adaptação do Homem ao seu ambiente natural» (Clément et al. 1999, 109). 
Coloca-se então a questão sobre qual a diferença entre ecologia e ambiente. No livro Ecologia e ambiente (1993), de João Joanaz de Melo e Carlos Pimenta, foi afirmado que: 
«a ecologia é uma disciplina científica, um ramo das ciências da vida, enquanto o ambiente pode ser definido como o conjunto dos sistemas físicos, ecológicos, económicos e socioculturais com efeito directo ou indirecto sobre a qualidade de vida do Homem». (Teixeira 2011, 29) 
Os mesmos autores também referem que «existe uma ideologia, o ecologismo, que defende um estilo de sociedade no qual é dada uma importância crucial ao equilíbrio ecológico.» (Teixeira 2011, 29) 
Em 1992, Luc Ferry afirmou que existem duas doutrinas ecológicas: os fundamentalistas (ecologistas), para quem a Natureza tem um valor intrínseco e independente dos seres humanos; e os ambientalistas, para quem a Natureza deve ser protegida na medida em que é necessária à vida humana (Clément et al. 1999, 109). Estas definições são partilhadas por Andrew Dobson (1995), que separa o ambientalismo, mais antropocêntrico, do ecologismo, mais biocêntrico.

Samuel Hieronymus Grimm (ilustração) in Gilbert White, Natural History of Selborne (1789, ed. 1813).


A ecologia está relacionada com o desenvolvimento das ciências naturais, sobretudo da botânica e da zoologia, bem como da criação da noção de “ecossistema” (cf. Deléage 1993). Jean-Paul Deléage, na sua história da ecologia afirma: «O século XVIII, sobretudo no seu final, marca o apogeu dum manifesto interesse pela natureza, pois, se bem que a ligação a Deus não esteja ainda rompida, a pouco e pouco a natureza torna-se objecto apenas da ciência.» (Deléage 1993, 34) Tal como afirmou Jorge Calado, foi então que o homem encontrou a Natureza: «Ela é, a um tempo, o novo deus e o novo interlocutor. Cientistas e artistas passam a observá-la e a investigá-la de modo sistemático. Cultiva-se um novo comportamento e constrói-se uma nova ética» (Henriques, Castro 1993, 31). Trata-se de uma pré-ecologia, que Iria Vaz apelidou de “ecologia arcadiana”, e que foi representada, na segunda metade do século XVIII, por Gilbert White (1720-1793), um pastor protestante da aldeia inglesa de Selborne, autor de Natural History of Selborne, publicado em 1789. Iria Vaz liga a história do ambientalismo à história da conservação da natureza, pois afirma que o ambientalismo começou com os movimentos de conservação iniciados em meados do séc. XIX, na América do Norte, que precederam o actual movimento ambientalista (Vaz 2000, 14-15).

Casa de William Wordsworth, Rydal Mount (c. 1897)


Como é referido na frase supracitada de Jorge Calado, não foram somente os cientistas, mas também os artistas e outros intelectuais que passaram a encarar a natureza com outro respeito e atenção. A cultura do Romantismo ajudou a difundir a afeição pelo mundo natural, opondo-se aos excessos da industrialização. Conta-se que o poeta romântico William Wordsworth (1770-1850) apreciava fazer longas deambulações a pé. Henry David Thoreau (1817-1862), que era naturalista e poeta, afirmou, em 1851, no livro Birds of America: «A grande natureza preservará o mundo.» (Vaz, 2000, 18-19 e 38). 
Ao longo do século XIX, com o crescente progresso da ciência, a natureza ganhou maior impacto na cultura vigente. Auguste Comte (1798-1857), pai do Positivismo, no Curso de Filosofia Positiva, referiu-se à necessidade de harmonia entre os seres vivos e o seu meio. Em 1854, foi criada em França a Societé de Aclimation (actual Societé Nationale de Protection de la Nature). A primeira sociedade de ecologia, a British Ecological Society, foi fundada em Londres no ano de 1913, ano em que se deu o primeiro Congresso Internacional de Protecção da Natureza (Basileia, Suiça). Contudo, segundo Donald Worster, a «idade da ecologia» só teve início em 1942. Foi com o incremento da industrialização que o tema se tornou mais debatido. Durante bastante tempo, o «aparente sucesso» da industrialização, aliada a uma melhoria das condições de vida das populações nos países desenvolvidos, fizeram crer, para a maioria das pessoas, que o caminho da modernização era o mais racional – o que colocava aqueles que se opunham a esse progresso num papel de nostálgicos defensores de um «Éden pré-industrial que nunca existiu» (Teixeira 2011, 29).
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Bibliografia:
Clément, Élisabeth, Demonque, Chantal, Hansel-Love, Laurence, Kahn, Pierre. 1999. Dicionário Prático de Filosofia. Lisboa: Terramar.
Deléage, Jean-Paul. 1993. História da Ecologia, Uma Ciência do Homem e da Natureza. Lisboa: Publicações Dom Quixote.
Henriques, Ana de Castro, Castro, Catarina Maia e (coord.). 1993. Silva Porto 1850-1893: exposição comemorativa do centenário da sua morte. Lisboa: I.P.M..
Teixeira, Luís Humberto. 2011. Verdes anos: História do Ecologismo em Portugal, 1947-2011. Lisboa: Esfera do Caos.
Vaz, Iria de Fátima Rodrigues Amado. 2000. As origens do ambientalismo em Portugal: a liga para a protecção da natureza 1948-1974. Tese de Mestrado, Universidade Nova de Lisboa. 

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

«Le chant des oiseaux en automne»

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No dia mundial da música, lembro os sons da natureza...
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«Nós somos da natureza e estamos na natureza. A ecologia não pode, pois, furtar-se ao desafio de constituir um saber sobre uma natureza em que os homens se reconheçam como parte integrante e não como uma instância de dominação, estrangeira e hostil. Tal é a aposta.»
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Jean-Paul Deléage. 1993. História da Ecologia, Uma Ciência do Homem e da Natureza. Lisboa: Publicações Dom Quixote. p. 255.