Richard Diebenkorn, Cityscape I (1963, San Francisco Museum of Modern Art, San Francisco)
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Independentemente do sentimento afectivo que tenhamos pela natureza, há uma abordagem diversa entre a atitude poética e artística e a atitude científica ou ecológica. Essa diferença prende-se com um outro problema que tem sido várias vezes questionado, que é o da relação entre a arte e a ciência (cf. por exemplo Francastel 1963 e Huisman 1997).
Carl Spitzweg, Arts And Science (1880)
Mais recentemente, James Elkins afirmou: «I have never been convinced that science has much to do with painting — or with art in general.» E, nesse texto, chega a afirmar que: «To get at the science in art it is necessary to leave the science behind.» (Elkins 2009, 34 e 45). Basicamente, o historiador defende que os artistas em geral não se interessam por dados científicos para a concepção das suas obras, ou que, pelo menos, a criação de uma grande obra de arte não se relaciona com ciência.
Vincent van Gogh, Landscape With House And Ploughman (1889; Hermitage, St. Petersburg)
No caso do Naturalismo, quando os artistas foram para as florestas e os campos em busca de paisagens, não o fizeram com o espírito científico de análise, que estaria próximo da biologia ou da Ecologia. As únicas aproximações seriam quando os artistas faziam (como ainda fazem) ilustrações com finalidades científicas. Em geral, os artistas estavam, quando muito, mais perto do ambientalismo ou da ecologia arcadiana, nomeadamente quando adoptavam os temas da natureza como forma de obstarem ao desenvolvimento da indústria e das grandes cidades – ou mesmo resistindo à interferência da revolução industrial e agrícola nos trabalhos do campo ou na fisionomia das paisagens. Pois, como Kenneth Clark reclama: «(…) la science est intervenue en altérant radicalement nôtre conception de la nature (…)» (1994, 185).
Paul Cezanne, Mont Sainte-Victoire (1895, The Barnes Foundation, Merion)
A questão entre a paisagem (nomeadamente naturalista) e a ecologia, tem assim pontos de divergência, mas também tem pontos em comum, que devem ser ponderados. Um dos factores a considerar é o factor homem-natureza, presente em ambas as abordagens. Escreveu Deléage, no final do seu livro sobre a história da Ecologia:
«Nós somos da natureza e estamos na natureza. A ecologia não pode, pois, furtar-se ao desafio de constituir um saber sobre uma natureza em que os homens se reconheçam como parte integrante e não como uma instância de dominação, estrangeira e hostil. Tal é a aposta.» (Deléage 1993, 255)
Claude Monet, Road In A Forest Fontainebleau (1864)
Apesar das distâncias de entendimento acerca da realidade natural, existem ligações entre a arte e a ciência. Como observou Linda Nochlin em 1971 (ed. 1991, 34-39), Comte, pai do Positivismo, previa que todo o conhecimento deveria ser científico, fundado na observação e na experiência. Castagnary, sobre o Salon de 1863, descrevia a escola naturalista como a verdade equilibrando-se com a ciência (Harrison et al. 1998, 412). Realistas e impressionistas recorreram a fotografias como meio de documentação para as suas pinturas, o que se associa a um desejo de verdade, ou sinceridade, na realidade representada através da arte.
Nyoman Masriadi, Save The Land (1998)
A atitude do artista e do cientista são diferentes. Se a ciência tem a obrigação de ser objectiva, a arte é necessariamente subjectiva. E, no entanto, a arte, ao chamar a atenção para a natureza, pode ajudar nos propósitos ambientalistas e ecologistas. E se isso é verdade para as formas de arte mais recentes, que incluem por exemplo a “Environmental Art”, também já era verdade para o Naturalismo paisagístico do século XIX.
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Bibliografia:
Clark, Kenneth, 1994. L'Art du Paysage. Paris: Gérard Monfort, Éditeur.
Francastel, Pierre. 1963. Arte e Técnica nos Séculos XIX e XX. Lisboa: Edição Livros do Brasil.
Harrison, Charles, Wood, Paul, Gaiger, Jason (edit.). 1998. Art in Theory. 1815-1900. Oxford: Blackell Publishers.
Huisman, Denis. 1997. A Estética. Edições 70.
Elkins, James. 2009. Aesthetics and the two cultures: why art and science should be allowed to go their separate ways. In Rediscovering Aesthetics: Transdisciplinary Voices From Art History, Philosophy, and Art Practice. Francis Halsall, Julia Jansen & Tony O'Connor (eds.), 34 e 45. Stanford University Press.
Nochlin, Linda. 1991. El Realismo. Madrid: Alianza Editorial.
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