quinta-feira, 31 de julho de 2008

Rebanho

Pintura de Silva Porto.
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Observe-se um rebanho que pasta; ignora o que foi ontem e o que é hoje. Volteia, retouça, repousa, rumina, agita-se de manhã à noite, dia após dia, ligado ao seu prazer e à sua dor, ao impulso do instante, sem melancolia nem saciedade. É duro para o homen ver isso, porque se orgulha da sua humanidade quando se compara com o animal, cuja felicidade entretanto inveja. Efectivamente, ele deseja viver como o animal, sem saciedade nem dor, mas, ao querê-lo, não quer como o animal. (...) O animal gostaria de responder: «É que eu esqueço exactamente aquilo que queria dizer». Até mesmo essa resposta é afogada no esquecimento, e cala-se (...).
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Frederico Nietzsche, Considerações Intempestivas, Editorial Presença, p. 105.

terça-feira, 29 de julho de 2008

O gato

Fotografia de Margarida Elias.
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O menor de todo os felinos é uma obra de arte.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

São Tiago, o Maior

Catedral de Santiago de Compostela.
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Sant' Iago foi um dos apóstolos de Jesus, irmão de João e filho de Zebedeu. Pregou na Síria e em Espanha, tendo sido martirizado na Judeia por ordem de Herodes Agrippa, em 44 d.C.. É o Santo padroeiro dos peregrinos, dos cavaleiros, dos moços dos mercados e dos chapeleiros. É também o Santo padroeiro de Espanha, sendo ainda invocado para obter cura do reumatismo. Os seus atributos são a concha, a espada e a veste de peregrino: cabaça (salvação), bordão (esperança) e concha (caridade). É venerado em Santiago de Compostela, lugar de peregrinação desde o século XI. Aí o peregrino deve tocar no pilar central do pórtico da Glória, da catedral, dirgindo-se depois para a estátua do santo sobre o altar-mor. Por fim, irá à cripta que abriga os restos mortais do santo.
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André Coutin.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Desenho

Desenho de David Lopes (1996).
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In the final analysis, a drawing simply is no longer a drawing, no matter how self-sufficient its execution may be. It is a symbol, and the more profoundly the imaginary lines of projection meet higher dimensions, the better.
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Paul Klee

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Gatinhos

A paisagem

Fotografia de Margarida Elias (Madeira, Ponta de São Lourenço).
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... landscape is the work of the mind. Its scenery is built up
as much from strata of memory as from layers of rock.
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Simon Schama.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Paisagem da Irlanda

Fotografia de Emília Matos e Silva.
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For me nature is not landscape, but the dynamism of visual forces.
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domingo, 20 de julho de 2008

Hipólito Collomb

Pintura de Collomb (1907, Colecção Particular).
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Aguarela pintada por Hipólito Collomb, ilustrador que colaborou na Ilustração Portuguesa e n'A Alma, no início do Século XX.

Segundo o site «Cultura e Conhecimento», ele era natural de Lisboa, tendo vivido posteriormente no Rio de Janeiro, onde morreu em 1947. Também colaborou no Século e no seu suplemento, nas Novidades, na República e em Os Ridículos.

Um site sobre Banda Desenhada refere:

Hipolito (or Hypólite) Collomb was a Portuguese caricaturist, theatre set designer and comics artist. He was one of regular contributors to magazines like Novidades, República, Os Ridículos and O Século Cómico, around the 1910s. One of his comics is titled 'A Derrota dos Alemães'.

In the 1910s, after the Republic was declared in Portugal, he was the author of a famous, and now very scarce, set of political postcards entitled The Seven Deadly Sins, portraing Portuguese republican politicians. In the 1930s he joined the Brazilian film industry, contributing to more than 13 movies between 1935 and 1941, as art director, editor and production designer. He passed away in Rio de Janeiro.

Ver:

http://www.brasilcult.pro.br/recordacao/paineis/painel23.htm

http://lambiek.net/artists/c/collomb_hipolito.htm

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Margarida Elias.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Calvin & Hobbes I

O horizonte

Fotografia de Emília Matos e Silva, Fotografia da Irlanda.
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La Historia es el horizonte de la vida. El horizonte no limita nuestro caminar, ya que nunca llegaremos a él, sino que, al organizar las posibles direcciones de nuestra marcha, le da sentido (...).
El horizonte no cierra, sino que abre el mundo a la mirada. Por eso el horizonte es libertad, pero libertad concreta, libertad dentro de una estructura dada de cosas (...).
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J. A. Maravall.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Chafariz dos Canos

Fotografia de Margarida Elias, Chafariz dos Canos (Torres Vedras).
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É a construção mais característica de Torres Vedras. A mais antiga menção a este monumento remonta a 1331, tendo sido reconstruído em 1561 pela Infanta D. Maria, filha de D. Manuel I, e restaurado em 1831.
É composto por um pavilhão coberto com abobada de cruzaria. com nervuras que assentam sobre misulas cónicas. Da face do pavilhão rasgam-se arcos ogivais e, a rematar o conjunto, coruchéus e ameias chanfradas do século XVI.
O espaço interior é ocupado por um tanque com duas bicas barrocas.
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http://www.cm-tvedras.pt/visitar/monumentos/chafariz-dos-canos/

segunda-feira, 14 de julho de 2008

As possibilidades

Pintura de Cátia Mourão, Terra 3 (2000, Colecção Particular).
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Cierto es que la vida nos va gastando posibilidades; cierto, igualmente, que la Historia va gastando posibilidades al hombre, porque aquello que hemos sido, aquello que los hombres han sido, no se puede volver a ser. Pero lo que la Historia nos quita nos lo devuelve con creces. El hacer de quienes nos han precedido ha dado lugar a nuestra posibilidad de hoy. Cuanto más hacer humano, cuanto más vida, cuanto más Historia haya a nuestras espaldas, más medios a nuestra disposición. Cada posibilidad que se consume alumbra otras muchas.
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J. A. Maravall.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

A História

Fotografia de Margarida Elias, Castelo de Monsanto.
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La Historia (...) al ejercitar una reflexión crítica sobre lo acontecido, lo aparta de nosotros y se lleva hacia atrás el torrente de las cosas que al hombre le han pasado o que el hombre ha hecho.
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J. A. Maravall.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Caminho

Fotografia de Margarida Elias (Jardim da Gulbenkian, 2008).
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Caminhante, são teus rastos
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
somente sulcos no mar.
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António Machado.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

A estética


Azulejo de J. Alais.

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For Kant the aesthetic is experienced when a sensuous object stimulates our emotions, intellect, and imagination. These faculties are activated in "free play" rather than in any more focused and studious way.

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Cynthia Freeland.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Amor

Fotografia de Margarida Elias (2008).

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No côncavo das mãos se deposita

a alma da palavra que é redita.
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João Mattos e Silva.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Jacarandás

Fotografia de Margarida Elias (2008).
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O Copo de Água

Devia ser nos começos do verão, os inumeráveis jacarandás de Jerez de la Frontera estavam em flor. Nos pátios da luxuosa vivenda onde me haviam instalado (que o Governo confiscara a um riquíssimo produtor de vinhos da região por fraude fiscal, agora destinada a hospedar gente da cultura), os repuxos erguiam os seus irisados fios de água para logo os deixar cair molemente na face de doutras águas cativas em grandes taças de mármore, onde já flutuavam uma e outra flor de jacarandá. Aquele rumor, a que se misturava às vezes algum canto de ave, parecia-me então a música do paraíso.
Durante aqueles dias, eu ficava por ali sentado toda a manhã com os meus papéis e um copo de água, que o caseiro me punha em cima da mesa, um copo de cristal com grinaldas de flores gravadas na parte superior. Poucas coisas haverá tão bonitas como um copo de água fresca no verão, mesmo quando o vidro não tem o brilho e a transparência do cristal. O caseiro, cuja voz vinda doutro pátio me prendia a atenção com cantares andaluzes muito ornamentados, também colocava cuidadosamente à noite, na minha mesa de cabeceira, um copo de água em tudo semelhante àquele de que falei. E como lhe referisse a beleza, ele ofereceu-me, ao partir, o que estava no meu quarto, como lembrança da minha passagem pela casa. É esse copo que, desde então – e já lá vão tantos anos! – tenho à minha cabeceira, e sempre com água fresca, como se o verão e a luz dos jacarandás durassem eternamente.
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Eugénio de Andrade.

domingo, 6 de julho de 2008

Calvin & Hobbes

http://www.gocomics.com/calvinandhobbes/

O Capuchinho Vermelho

Pintura de Alda Silva.
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Il était une fois une petite fille de Village, la plus jolie qu’on eût su voir ; sa mère en était folle, et sa mère-grand plus folle encore. Cette bonne femme lui fit faire un petit chaperon rouge, qui lui seyait si bien, que partout on l’appelait le Petit Chaperon rouge.
Un jour, sa mère, ayant cuit et fait des galettes, lui dit : Va voir comme se porte ta mère-grand, car on m’a dit qu’elle était malade. Porte-lui une galette et ce petit pot de beurre. Le Petit Chaperon rouge partit aussitôt pour aller chez sa mère-grand, qui demeurait dans un autre Village. En passant dans un bois elle rencontra compère le Loup, qui eut bien envie de la manger ; mais il n’osa, à cause de quelques Bûcherons qui étaient dans la Forêt. Il lui demanda où elle allait ; la pauvre enfant, qui ne savait pas qu’il est dangereux de s’arrêter à écouter un Loup, lui dit : Je vais voir ma Mère-grand, et lui porter une galette, avec un petit pot de beurre, que ma Mère lui envoie. Demeure-t-elle bien loin ? lui dit le Loup.Oh ! oui, dit le Petit Chaperon rouge, c’est par-delà le moulin que vous voyez tout là-bas, à la première maison du Village. Eh bien, dit le Loup, je veux l’aller voir aussi ; je m’y en vais par ce chemin-ci, et toi par ce chemin-là, et nous verrons qui plus tôt y sera. Le loup se mit à courir de toute sa force par le chemin qui était le plus court, et la petite fille s’en alla par le chemin le plus long, s’amusant à cueillir des noisettes, à courir après des papillons, et à faire des bouquets des petites fleurs qu’elle rencontrait.Le loup ne fut pas longtemps à arriver à la maison de la Mère-grand ; il heurte : Toc, toc. Qui est là ? C’est votre fille le Petit Chaperon rouge (dit le Loup, en contrefaisant sa voix) qui vous apporte une galette et un petit pot de beurre que ma Mère vous envoie. La bonne Mère-grand, qui était dans son lit à cause qu’elle se trouvait un peu mal, lui cria : Tire la chevillette, la bobinette cherra. Le Loup tira la chevillette et la porte s’ouvrit. Il se jeta sur la bonne femme, et la dévora en moins de rien ; car il y avait plus de trois jours qu’il n’avait mangé. Ensuite il ferma la porte, et s’alla coucher dans le lit de la Mère-grand, en attendant le Petit Chaperon rouge, qui quelque temps après vint heurter à la porte. Toc, toc.Qui est là ? Le Petit Chaperon rouge, qui entendit la grosse voix du Loup eut peur d’abord, mais croyant que sa Mère-grand était enrhumée, répondit : C’est votre fille le Petit Chaperon rouge, qui vous apporte une galette et un petit pot de beurre que ma Mère vous envoie. Le Loup lui cria en adoucissant un peu sa voix : Tire la chevillette, la bobinette cherra. Le Petit Chaperon rouge tira la chevillette, et la porte s’ouvrit.Le Loup, la voyant entrer, lui dit en se cachant dans le lit sous la couverture : Mets la galette et le petit pot de beurre sur la huche, et viens te coucher avec moi. Le Petit Chaperon rouge se déshabille, et va se mettre dans le lit, où elle fut bien étonnée de voir comment sa Mère-grand était faite en son déshabillé. Elle lui dit : Ma mère-grand, que vous avez de grands bras ? C’est pour mieux t’embrasser, ma fille.Ma mère-grand, que vous avez de grandes jambes ? C’est pour mieux courir, mon enfant. Ma mère-grand, que vous avez de grandes oreilles ? C’est pour mieux écouter, mon enfant. Ma mère-grand, que vous avez de grands yeux ? C’est pour mieux voir, mon enfant. Ma mère-grand, que vous avez de grandes dents. C’est pour te manger. Et en disant ces mots, ce méchant Loup se jeta sur le Petit Chaperon rouge, et la mangea.

MORALITÉ
On voit ici que de jeunes enfants,
Surtout de jeunes filles
Belles, bien faites, et gentilles,
Font très mal d’écouter toute sorte de gens,
Et que ce n’est pas chose étrange,
S’il en est tant que le Loup mange.
Je dis le Loup, car tous les Loups
Ne sont pas de la même sorte;
Il en est d’une humeur accorte,
Sans bruit, sans fiel et sans courroux,
Qui privés, complaisants et doux,
Suivent les jeunes Demoiselles
Jusque dans les maisons, jusque dans les ruelles;
Mais hélas ! qui ne sait que ces Loups doucereux,
De tous les Loups sont les plus dangereux.
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sábado, 5 de julho de 2008

O Silêncio

Pintura de Henri Fantin-Latour, Portrait of Miss Edith Crowe (1874, The Armand Hammer Collection, Los Angeles).
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Eu não te disse ainda que o silêncio
são palavras voltadas do avesso
invisíveis apenas na aparência.
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António de Almeida Mattos.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

(In)verso

Pintura de Emília Matos e Silva, Retrato de João Mattos e Silva (1985, Colecção Particular).
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Dizemos as palavras rigorosas
nos instantes concretos rigorosos
e somos tantas vezes - em tantas vozes
- o inverso do verso que escrevemos.
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João Mattos e Silva.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Cada árvore é um ser para ser em nós

Fotografia de Margarida Elias (Hannover).
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Cada árvore é um ser para ser em nós
Para ver uma árvore não basta vê-la
A árvore é uma lenta reverência
Uma presença reminiscente
Uma habitação perdida
E encontrada.
À sombra de uma árvore
O tempo já não é o tempo
Mas a magia de um instante que começa sem fim
A árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
E de sombras interiores
Nós habitamos a árvore com a nossa respiração
Com a da árvore
Com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses.
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António Ramos Rosa

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Retrato

Pintura de Alda Silva.
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La lumière du portrait rayonne de son fond obscur. Elle émane de l'astre éclipsé pour soi qui définit un sujet.
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Jean-Luc Nancy.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Nostalgia



Pintura de James McNeill Whistler, Nocturne - Blue and Silver (1872, Tate Gallery, Londres).
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Vinda do mar no verso da palavra

ao mar voltou no reverso do olhar.
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Poema de João Mattos e Silva.