sábado, 9 de abril de 2011

Veloso Salgado

 
Veloso Salgado, Jesus (réplica) (c. 1922).
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Em geral, não aprecio muito a pintura de Veloso Salgado (1864-1945), apesar de o considerar um excelente pintor em termos académicos e naturalistas. Talvez deva explicar que considero que a qualidade intrínseca das obras de arte ultrapassa a moda e o gosto pessoal.
No entanto, há uns doze anos (1999) vi uma exposição  sobre a obra de Veloso Salgado no Museu do Chiado, que me surpreendeu de forma positiva, nomeadamente nas pinturas com temas simbolistas e nas paisagens. Esta pintura  de Jesus conjuga estas duas vertentes da sua obra.
Rui Afonso Santos, comissário da referida exposição, escreveu que a pintura Jesus foi realizada depois de Veloso Salgado ter passado por Florença, onde estudou Fra Angelico e Benozzo Gozzoli. A pintura original era bastante grandiosa, com 3 m de altura por 4,40 m de comprimento, mas perdeu-se em 1900, no naufrágio de um navio que a trazia de regresso a Lisboa, depois de ter estado na Exposição de Paris. Ficaram dois estudos preparatórios e uma réplica, feita por Veloso Salgado cerca de trinta anos depois, numa tela de tamanho mais reduzido do que o original. O original  tinha sido exposto em Paris em 1892, no Salon, valendo ao pintor uma 2.ª medalha e a qualificação Hors Concours.
Pessoalmente, a pintura Jesus interessa-me por duas razões. Por um lado, é uma obra de teor simbolista, realizada no tempo em que o simbolismo estava a desenvolver-se em França. Em 1893, em Paris, Eça de Queirós verificava que o livre-pensamento estava a atravessar uma «má crise». A geração nova sentia a necessidade de divino e à falta dele contentava-se com o sobrenatural. Eram «homens inquietos batendo de novo à porta dos mistérios».
Por outro lado, Jesus é uma obra muito bela. A paisagem ocupa a quase totalidade do quadro, concebida num tom de amarelo dourado (proporcionado pela luz crepuscular), que confere uma aura sobrenatural à composição. Também acho muito bela a figura de Jesus, ocupando o lado direito do quadro, trajando uma túnica branca. É uma figura simples e espiritualizada, que olha para cima e cujo rosto de perfil está alheio ao espectador.
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Bibliografia: Veloso Salgado (1864-1945), Museu do Chiado, 1999.

7 comentários:

ana disse...

margarida,
Não conheço este pintor. Vou procurar mais telas. Gosto do simbolismo e a tela encantou-me. Parece que Blake o influenciou. Será?
Bjs e obrigada por esta mais-valia! :)

Margarida Elias disse...

Ana: Não sei se Blake o influenciou, mas creio que não. Bj! E bom Domingo!:)

Sara disse...

Não conhecia o pintor e, por isso, o meu agradecimento por proporcionar esta apresentação, bem como de uma das suas obras. Gosto sempre das análises que faz.

Aproveito também para lhe agradecer o comentário no meu "canto". Deixei lá algumas impressões, em resposta às suas palavras.

Um abraço e um excelente domingo!

Elisabethbaysset disse...

C'est beau .EB

Margarida Elias disse...

Sara: Obrigada! Vou ver... Boa semana!

Elizabeth Baysset: merci!

Presépio no Canal disse...

Tambem nao conhecia este quadro, no entanto, achei-o muito adequado a Quadra Pascal.
Bjs!

Margarida Elias disse...

Sandra: Também o achei bastante adequado... Bj!