sexta-feira, 25 de abril de 2014

«És o cravo vermelho...»

Azulejo (1701-1750, Museu Nacional do Azulejo)
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À Beleza

Não tens corpo, nem pátria, nem família, 
Não te curvas ao jugo dos tiranos. 
Não tens preço na terra dos humanos, 
Nem o tempo te rói. 
És a essência dos anos, 
O que vem e o que foi. 

És a carne dos deuses, 
O sorriso das pedras, 
E a candura do instinto. 
És aquele alimento 
De quem, farto de pão, anda faminto. 

És a graça da vida em toda a parte, 
Ou em arte, 
Ou em simples verdade. 
És o cravo vermelho, 
Ou a moça no espelho, 
Que depois de te ver se persuade. 

És um verso perfeito 
Que traz consigo a força do que diz. 
És o jeito 
Que tem, antes de mestre, o aprendiz. 

És a beleza, enfim. És o teu nome. 
Um milagre, uma luz, uma harmonia, 
Uma linha sem traço... 
Mas sem corpo, sem pátria e sem família, 
Tudo repousa em paz no teu regaço. 
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Vincent Van Gogh, Vase with Red and White Carnations on a Yellow Background (1886, Kröller-Müller Museum, Otterlo)
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Henri Matisse, Woman in Green with a Carnation (1909, Hermitage, St. Petersburg)

4 comentários:

Presépio no Canal disse...

Que post tão bonito para celebrar o 25 de Abril! Gostei muito do poema de Torga.
Bom feriado!
Bjnho!

Margarida Elias disse...

Este poema de Torga já andou por aqui, mas decidi recuperá-lo neste contexto. Beijinhos e obrigada!

ana disse...

Margarida,
Belíssima homenagem!:))
Beijinho.

Margarida Elias disse...

Obrigada, Ana! Bom Domingo!