segunda-feira, 30 de junho de 2008

Da minha aldeia

Fotografia de Margarida Elias (Ameal).
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DA MINHA ALDEIA vejo quando da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver.

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Alberto Caeiro

sábado, 28 de junho de 2008

São Pedro de Grão Vasco

Pintura de Vasco Fernandes, S. Pedro (c. 1530-1535, Museu de Grão Vasco, Viseu).
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Pertencente ao Museu Grão Vasco, em Viseu, o quadro de São Pedro, pintado por Vasco Fernandes, é uma das obras mais emblemáticas do Renascimento Português. Representa o Santo no trono, simbolizando o seu papel de fundador da Igreja Católica. Enquanto a mão direita abençoa aqueles que o observam, a mão esquerda segura um livro aberto, sobre o colo, provavelmente a Bíblia. O trono está situado num interior, ladeado por duas janelas que deixam entrever cenas exteriores, figurando momentos da vida do Santo e apóstolo de Cristo - o milagre de Jesus caminhando sobre as águas e o encontro do Santo com Jesus à saída de Roma.
Demonstrando a sua grande qualidade como obra pictórica do século XVI, devemos notar no naturalismo da representação, na qualidade das texturas, nas referências à arquitectura renascentista, na perspectiva centralizada e na estabilidade conferida pela simetria da composição.
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Texto de Margarida Elias.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Emília Mattos - Retrato de Homem


Pintura de Emília Mattos.
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Le portrait est moins le rappel d'une identité (mémorable) qu'il n'est un rappel d'une intimité (immémoriale).
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Jean Luc Nancy.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

As nuvens

Pintura de Emília Matos e Silva (2004, Colecção Particular).
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...les figures qui apparaissent dans le ciel n'ont aucun sens, elles sont le pur effet du hasard. C'est l'homme, porté qu'il est par la nature à l'imitation, qui leur confère une signification en même temps qu'une permanence relative en les associant à l'idée de la créature qu'elles évoqent.
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Hubert Damisch.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

O infinito

Fotografia de Gonçalo Elias (2008).
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Qu'est-ce qu'un homme dans l'infini? Et quelle meilleure préparation à croire que celle-là? (et Pascal encore de noter, rompant décidément avec la tradition, que si l'infini en petitesse est moins visible, l'infini de grandeur est bien plus sensible: mais comme admettre alors que la peinture ne soit que vanité, si elle est capable de faire sentir à l'homme son néant, sa dépendence, son vide?).
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Hubert Damisch.

terça-feira, 24 de junho de 2008

O passado

Desenho de Margarida Elias (6 anos).

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Todo, incluso aquello que parece completamente hundido en el pasado, ha quedado de algún modo en el umbral de nuestro presente.

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J. A. Maravall.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Los Niños de la Concha

Pintura de Murillo, Los Niños de la Concha (c. 1670, Museu do Prado, Madrid).
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El Niño Jesús da de beber con una concha a su primo Juan, identificado por la Cruz y el Cordero. En el cielo, en un rompimiento de Gloria, unos ángeles niños presencian la escena, sacralizando el hecho. En la filacteria la frase “Ecce Agnus Dei”, palabras de San Juan Bautista que aluden a la condición de Cristo como Cordero de Dios.Murillo juega con el encanto de los temas infantiles tan habituales en él, pero al tiempo, introduce una prefiguración del Bautismo de Cristo por parte de Juan a orillas del río Jordán.La composición procede de una estampa del pintor boloñés Guido Reni, a su vez inspirada en Annibale Carracci. Ingresó en las Colecciones Reales a través de la reina Isabel Farnesio, gran coleccionista de la obra de Murillo.
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Museo Nacional del Prado: Galería On-Line

O pintor


Pintura de Emília Matos e Silva, De nácar e Cetim (1997, Colecção Particular).
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...c'est plutôt le peintre qui naît dans les choses comme par concentration et venue à soi du visible, et le tableau finalement ne se rapporte à quoi que se soit parmi les choses empiriques qu'à condition d'être d'abord «autofiguratif».
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Merleau-Ponty.

domingo, 22 de junho de 2008

A visão

Fotografia de Gonçalo Elias (2008).
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...tout ce que porte ce petit mot: voir. La vision n'est pas un certain mode de la pensée ou présence à soi: c'est le moyen qui m'est donné d'être absent de moi-même, d'assister du dedans à la fission de l'Être, au terme de laquelle seulement je me ferme sur moi.
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Merleau-Ponty.

A escolha

Pintura de Emília Mattos.
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Toute forme d'art implique un choix controlé des apparences naturelles, qui doit refléter le tempérement de l'artiste dans sa totalité...
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Kenneth Clark.

sábado, 21 de junho de 2008

O amor pela natureza

Pintura de Emília Mattos.
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C'est l'amour que l'artiste porte à la nature qui fait de celle-ci une oeuvre d'art en unifiant les éléments épars du monde sensible et en les élevant à un niveau de réalité supérieure; dans le paysage, ce principe d'unité et d'amour est la lumière.

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Kenneth Clark.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Tarde de Itapuã


Pintura de Adriaen Van de Velde, The Beach at Scheveningen (1658, Staatliche Museen, Kassel).
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Um velho calção de banho
O dia pra vadiar
Um mar que não tem tamanho
E um arco-íris no ar
Depois na praça Caymmi
Sentir preguiça no corpo
E numa esteira de vime
Beber uma água de coco
É bom
-
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã
-
Enquanto o mar inaugura
Um verde novinho em folha
Argumentar com doçura
Com uma cachaça de rolha
E com o olhar esquecido
No encontro de céu e mar
Bem devagar ir sentindo
A terra toda a rodar
É bom
-
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã
-
Depois sentir o arrepio
Do vento que a noite traz
E o diz-que-diz-que macio
Que brota dos coqueirais
E nos espaços serenos
Sem ontem nem amanhã
Dormir nos braços morenos
Da lua de Itapuã
É bom
-
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã
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Vinicius de Morais

Descobridores

Fotografia de Margarida Elias.
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Foram porém descendo
costa a costa
a terra. E era virgem
a vaga que roçava
languidamente as naus
e as vidas como a dizer
além além além.
E descobriram areais
apenas abraçados a marés ausentes
grandes silêncios o canto
das sereias e o pulsar da terra
adolescente e pura.
Esta a gente que partiu ignota
das praias do Restelo à aventura.
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João Mattos e Silva

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Sublime

Pintura de João Vaz, A Praia (Casa Museu Anastácio Gonçalves).
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O Homem, às vezes, é sublime, pois não é?
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Teixeira de Pascoaes.

"Joaninha voa, voa"

Pintura de Ana Cristina Inácio.
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Joaninha voa voa
Que o teu pai está em Lisboa
A tua mãe no Moinho
A comer pão com toucinho.
Joaninha voa voa
Que o teu pai está em Lisboa
Com um rabinho de sardinha
Para comer, que mais não tinha.

http://www.angelfire.com/80s/traquinas/Links/lengalengas.htm

(Variante)

Joaninha voa, voa

Que o teu pai foi p'ra Lisboa

Voa, joaninha voa

Qu'eu te darei pão e broa

Joaninha, voa voa

Leva as cartas p'ra Lisboa

Enfiadas numa linha

A tocar a campainha.

In: Rimas e Jogos Infantis, Lisboa Editora.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Quando o tempo vier

Fotografia de Margarida Elias.
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Quando o tempo vier
que seja apenas mar.
Que se abram em flor
os rios rasgando o vento.
Quando o tempo vier
(que venha breve)
saiba dizer amor
em vez de guerra
saiba querer
a serra
em vez de mar.
E venha a tempestade
para ficar.
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João Mattos e Silva

O Sarau de Columbano


 Pintura de Columbano Bordalo Pinheiro, O Sarau (1880, Colecção Particular).
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A vida é um bailado de sombras.
A arte é outro bailado (...).
A vida é o bailado das horas (...).
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Teixeira de Pascoaes.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Emília Mattos



Pintura de Emília Mattos.
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Pintora do século XIX, discípúla de Luciano Freire, figurou com pintura na Exposição Industrial de Lisboa de 1888.
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Fernando de Pamplona.

O que nos rodeia

Fotografia de Margarida Elias.
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Nous sommes entourés de choses que nous n'avons pas crées et qui ont une vie et une structure différentes des nôtres: les arbres, les fleurs, les prairies, les rivières, les collines, les nuages...
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Kenneth Clark.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Pintura de Emília Matos e Silva, (1988, Colecção Particular) .
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Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas...
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Aguarela

Pintura de Emília Mattos (1890).
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«A aguarela não se presta a ser portadora de significados e funções de amplo interesse social; acentua o momento individual...»
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Franco Renzo Presenti.

Sonho e Realidade

Fotografia de Margarida Elias (Gulbenkian).
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A Realidade vem do sonho.
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Teixeira de Pascoaes.

domingo, 15 de junho de 2008

Columbano e Eça de Queirós



Pintura de Columbano Bordalo Pinheiro, Retrato de Eça de Queirós.
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Ainda decorria o ano de 1895, quando Eça de Queirós endereçou uma carta a Columbano, pretendendo ir com Alberto de Oliveira ao atelier do pintor, para pedir um arranjo na capa d' O Serão. Este magazine seria para dar continuidade à Revista de Portugal, discutindo-se a sua edição entre 1894 e 1895. Eça ficaria como director e Oliveira como secretário, sendo a capa em «originaes linhas e cores, do pincel do grande pintor Columbano». A este propósito Eça escreveu uma carta, onde se notava, no meio de censuras, forte apreço pelo artista. A aguarela que Columbano apresentara não fora bem aceite. O desenho era para a capa e o escritor considerava que ela deveria atrair e reter o «olho» do grosso do público, que «ama as coisas claras, nítidas e bem arrumadas. Ora sobre a mesa há um desalinho elegante e estético, que ao nosso bom Público pareceria trapalhada, e que lhe faria supor que no magazzine as ideias andariam assim a trouxe-mouxe (...). A nossa situação é dolorosa: como artistas, só queremos uma capa desenhada por um grande artista: e como industriais, necessitamos um desenho adequado ao grosso Público». E continuava afirmando que queria «uma capinha com (...) tudo mais arranjadinho como convém a um serão de boa paz». Projectava-se o primeiro número da revista para Janeiro de 1896, mas esta nunca veio a ser publicada.
Mais importante que a aguarela, foi o retrato de Eça de Queirós que se perdeu após a exposição de Paris. Além da qualidade da obra, testemunhada pela maioria daqueles que a puderam observar, o retrato perdido adquiria ainda uma outra dimensão trágica, pois Eça faleceu no Verão de 1900, tendo essa fúnebre notícia causado grande impressão no artista. Fora por influência do Conde de Arnoso que ele conseguira pintar o retrato do escritor. Comovido, dizia que esse «retrato que fiz, embora pouco valha como Arte, foi pintado diante d’elle, (...) portanto, tem ainda pedaços da sua vida, foi sentido do natural. Tem por isso o valor de um documento (...). Desejava eu muito offerecel-o ao meu querido amigo, que é quem mais lhe poderá dar o valor, como uma pobre e triste recordação d’esse seu tão grande amigo, e também recordação de tudo que se passou n’essa epocha, em que elle esteve entre nós».
Escritor e artista ficavam ligados através desse retrato. No Ocidente, João da Câmara lembrava que esta obra fora muito notada na exposição de Paris e justamente havia concorrido para a medalha de ouro que o pintor recebeu. «Columbano, profundo psychologo tambem, e que, em bem diversa arte, tem entretanto muitos pontos de contacto com o retratado, fez uma obra maravilhosa, e conseguiu com o seu pincel, copiando feições, descrever mais fielmente todas as grandes e complicadas faculdades do alto espirito que, fugindo nos enlutou, do que hão de fazel-o volumes a escrever, de mais grosso tomo que toda a obra do escritor». E também acrescentava que «Chamando a atenção para essa obra de Columbano, cumprimos um dever, porque talvez poucos artistas hajam tão evidentemente comprehendido como o insigne pintor (...) a alma artistica do homem de letras (...). Não é apenas um retrato que fala; é um retrato que diz: sou eu. / Depois... um retrato bom sempre é consolação para os que ficam».
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Texto de Margarida Elias.

sábado, 14 de junho de 2008

A Vida

Pintura de Emília Matos e Silva, Igreja do Redondo (1999, Colecção particular).

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Mais l'esprit humain répugne à s'accepter des mains du hasard, à n'être que le produit passager de chances auxquelles aucun dieu ne préside, surtout pas lui-même. Une partie de chaque vie, et même de chaque vie fort peu digne de regard, se passe rechercher les raisons d'être, les points de départ, les sources.

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Margherite Yourcenar (Mémoires d'Hadrien).

sexta-feira, 13 de junho de 2008

O Santo António de Columbano


Pintura de Columbano Bordalo Pinheiro, Santo António (1898, Museu do Chiado, Lisboa).
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Em 1895, em Lisboa, festejou-se o Centenário de Santo António, sendo Columbano convidado por João Vaz a colaborar nessa celebração. João Vaz fazia parte da organização das comemorações e pediu a Columbano uma pintura com um dos milagres para o pendão que iria figurar na procissão. O artista não chegou a fazer essa obra, talvez por se sentir sem possibilidade de a conceber num espaço de tempo tão reduzido. No entanto, o convite tê-lo-á inspirado, pois três anos mais tarde pintou o mesmo tema numa tela que está hoje no Museu do Chiado.
O quadro de Murillo representando Santo António que se encontra no Museu de Sevilha foi reproduzido n' O Occidente, a 25 de Junho de 1895. Nesse número da revista, Caetano Alberto lamentava: «É para notar a quantidade de télas que os pintores hespanhoes dedicaram ao nosso santo portuguez (...): enquanto que de pintores portuguezes não se conhece obra de mais vulto em que figure o Thaumaturgo». Esta afirmação não é verdadeira, mas não deixa de sucitar um estado de espírito que possivelmente influenciou Columbano, ao experientar dedicar-se a este assunto. Na Histoire de l’Art dirigida por André Michel, em 1926, notava-se que Columbano lutara com armas semelhantes às de Murillo, esforçando-se por «banhar numa luz divina, emanada do menino Jesus, o encantamento místico de um pobre monge vulgar, Santo António de Lisboa».
Em 1898, o artista já trabalhava no quadro e fez um estudo para o Menino Jesus, um desenho a lápis que hoje faz parte da colecção do Museu do Chiado. Não encontrámos um estudo completo da obra, mas é de notar que, talvez por não se conhecer qualquer retrato autêntico de Santo António, Columbano se tenha sentido na liberdade de tomar como referência o rosto de sua mulher, masculinizando-o numa atitude não tendente a escandalizar e que dá ao santo um aspecto mais idealizado. O quadro traz à memória os de Murillo, mas simplificando-os, ao reduzir o número de intervenientes às figura do Santo e do Menino. Parecendo surpreendido, ao deixar cair no chão o livro sobre o qual meditava, o Santo é iluminado pelo Menino, que surge envolto numa nuvem, deixando o restante quadro numa indefinição obscurecida e transpondo o acontecimento para um espaço místico não definido.
A tela foi apresentada na Exposição Universal de Paris de 1900, tendo sido uma das poucas que sobreviveu à viagem de retorno para Lisboa. Muitos quadros seriam perdidos, por terem sido transportadas no navio Santo André, o qual naufragou no caminho. Como o pintor escreveu mais tarde, «Escapou por milagre o Sto. António que não veio num navio».
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Texto de Margarida Elias.

O quadro que eu olho

Pintura de Emília Matos e Silva, Bela Vista (1991).
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Je serais bien en peine de direest le tableau que je regarde. Car je ne le regarde pas comme on regarde une chose, je ne le fixe pas en son lieu, mon regarde erre en lui comme dans les nimbes de l' Être, je vois selon ou avec lui plutôt que je ne le vois.

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Merleau-Ponty.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Comunhão com a natureza


Fotografia de Margarida Elias.
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Tenho um ouvido de árvore para as canções dos passarinhos e uns olhos de granito para ver as sombras do crepúsculo.
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Teixeira de Pascoaes.

Raul Brandão e Columbano


Pintura de Columbano Bordalo Pinheiro, A Chávena de Chá (1898, Museu do Chiado, Lisboa).
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A relação de amizade entre Columbano e Raul Brandão é bastante documentada, tendo iniciado por volta de 1895, quando o escritor, através da Revista d' Hoje, organizou uma exposição da obra do artista no Porto. Por volta de 1898, Brandão escreveu um artigo sobre uma visita ao atelier, na altura em que o pintor lhe fez um retrato. Segundo as suas palavras, «a pintura de Columbano, como certos poentes, como saudades, torna-nos contemplativos: é a sensação de uma beleza grave, harmónica. Os seus quadros têm a cor das velhas catedrais, o tom do granito envelhecido ao Sol...». A arte absorvia-o «como a Balzac, que falava das personagens da comédia humana como de pessoas reais, misturadas na sua própria vida».
Em 1903, publicou A Farsa, em cujo o texto se encontravam várias referências à pintura, lembrando a obra de Columbano: «A luz bate-lhes de chapa, ilumina-os como retratos: certos pedaços de fisionomia ressaltam, avançam, outros recuam na sombra». A certa altura afirma: «A Sombra é um grande pintor». O Húmus de Raul Brandão, datado de 1917, era dedicado «Ao Mestre Columbano». Algumas das frases desta obra, dominada por uma tonalidade simultaneamente trágica e silenciosa - «Os maiores dramas passam-se porém no silêncio» -, remetem para a pintura: «A vida é nada – é esta cor, esta tinta, esta desgraça. É saudade e ternura».
As Memórias de Raul Brandão, compostas por três volumes escritos entre 1918 e 1930, encerravam com a publicação do Vale de Josafat. Um dos capítulos era inteiramente dedicado a Columbano, associando memórias antigas e recentes, retratando o pintor até à morte. Segundo o escritor, Columbano só vivia praticamente no velho casarão das Belas-Artes, do qual apenas saía para ir a sua casa. Brandão dizia não saber descrever o pintor, porque ele estava fora do mundo e do seu tempo – «fora da realidade». Não tinha sentimento da natureza e as «figuras dos seus retratos» eram ao mesmo tempo dolorosas e escuras». Nelas havia um silêncio de morte, o pintor arrancava-as ao «sonho interior, que tem sido o de toda a sua vida».
Raul Brandão e Columbano retrataram-se mutuamente, um pela escrita e o outro pela pintura, existindo uma forte ligação entre eles. Manuel Mendes dizia que os feitios eram diferentes, um mais expansivo que o outro, mas ambos eram «apaixonados por um mundo a um tempo sombrio e luminoso, cinzento e enternecido». Considerando que ambos compunham com tons sombrios e ironia dramática, a diferença era que só para Brandão havia dias de sol. Contudo, tanto um como o outro possuíam a mesma voz soturna. José-Augusto França também testemunharia essa ligação entre a obra do artista e a do escritor, dizendo que «ao Raul Brandão da visão dolorosa da vida nacional» se ficou a «dever as mais agudas páginas sobre» o pintor. De acordo com este historiador, a obra de Columbano poderia comparar-se à Farsa de Brandão, «crónica do dia-a-dia entre o simbolismo literário e o populismo raivoso».
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Texto de Margarida Elias.

terça-feira, 10 de junho de 2008

O Império



Pintura de Nuno Gonçalves, Painéis de São Vicente de Fora (Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga).
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Queda do Império
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Perguntei ao vento
Onde foi encontrar
Mago sopro encanto
Nau da vela em cruz
Foi nas ondas do mar
Do mundo inteiro
Terras da perdição
Parco império mil almas
Por pau de canela e mazagão
Pata de negreiro
Tira e foge á morte
Que a sorte é de quem
A terra amou
E no peito guardou
Cheiro da mata eterna
Laranja luanda
Sempre em flor.
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Vitorino.

O Infante


Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

domingo, 8 de junho de 2008

Nuvens


Fotografia de Margarida Elias (Ponte Vasco da Gama, 2008).
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Os maiores dramas passam-se porém no silêncio.
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Raul Brandão.

sábado, 7 de junho de 2008

Ermida de São Bento

Fotografia de Margarida Elias (Monsaraz).
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Mas estes parêntesis não fazem mais do que confirmar a regra: indivíduos e sociedades não podem preservar e desenvolver a sua identidade senão na duração e pela memória.
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Françoise Choay.

terça-feira, 3 de junho de 2008

O Retrato de Antero de Quental e a Conjuntura Cultural do fim do Século XIX


Pintura de Columbano Bordalo Pinheiro, Retrato de Antero de Quental (1889, Museu do Chiado, Lisboa).
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Em 1889, Columbano visitou pela primeira vez o Museu do Prado em Madrid e viajou até à Exposição Universal de Paris, onde o seu irmão, Rafael Bordalo Pinheiro, fizera um importante trabalho na decoração das salas portuguesas, que lhe valeu a Legião de Honra. Era o início de um novo período na pintura de Columbano e também da vida cultural e política nacional.
Nesse ano, Columbano foi autor de uma das suas obras mais emblemáticas - o retrato de Antero de Quental (1889, MNAC), poeta que dois anos depois se iria suicidar (m. 1891). Segundo as palavras do retratado, o quadro estava «muito bom como pintura, mas idealizado, como todas as composições desse pintor neo velasquiano, no sentido do fantástico e tenebroso». Filosoficamente, Antero era contra o Naturalismo e o Positivismo. Tal como ele escreveu a Oliveira Martins: «Ai da filosofia que não sabe satisfazer ao mesmo tempo a razão dos lógicos, a alma dos poetas e o coração dos fortes». Tendendo para um idealismo subjectivo, defendia a superioridade do eu moral sobre os deuses e a natureza. Antero apreciava o idealismo na arte, mas não se revia no reflexo sombrio que o artista concebera.
A história deste retrato ficou envolvida em lendas respeitantes à maneira como fora realizado. A anedota mais comum é que o pintor mostrara o desejo de o retratar e um dia o poeta lhe apareceu batendo à porta. Era um homem fulvo, levemente curvo, calçando grandes botifarras de caminheiro. Conversou com o pintor enquanto este lhe fez o retrato e partiu como entrara, sem sequer ter tido a curiosidade de olhar a tela. A verdadeira história terá sido outra, relatada pelo próprio Columbano. Realmente ele lhe pedira para vir, mas o «resto é tudo phantasia. Estou a vel-o com os seus olhos azues e as suas barbas loiras. Vestia bem, sem afectação e sobriamente. Veio a meu pedido e depois continuou a vir. Passava tardes inteiras no atelier, sentado n'uma cadeira, mãos crusadas, escutando interessado ou absorto em pensamentos. Deslumbrava pela sua simplicidade e pela sua erudição (...). Era calmo, delicado, affavel. Nenhuma tragédia transparecia na sua mascara alegre quasi. Por isso foi para mim um acontecimento inesperado a notícia do seu suicídio. E bastante tempo em meu cerebro labutou esse desgosto». O facto é que a imagem pintada por Columbano parecia anunciar a morte do poeta e isso foi assinalado pela maioria dos críticos que se debruçaram sobre ela.
O retrato de Antero, busto esfumado cujo rosto se define num fundo sombrio, dá o mote para a tipologia de retrato que o pintor desenvolve a partir de 1890. Foi nessa década que surgiu, por toda a Europa, uma crescente adesão aos valores idealistas e ao Simbolismo. Estabelecido em Paris, Eça de Queiroz notava que se estava a assistir ao «descrédito do naturalismo»: «Sobre a exacta, luminosa, sã e suculenta pintura da escola francesa vai-se espalhando e, cada vez mais densa, uma névoa de misticismo. Todas as formas se afinam, se adelgaçam, se esvaem em diafanidade – no esforço de traduzir e pôr na tela o não sei quê que habita dentro das formas, a pura essência que conserva apenas o contorno indefinido do seu molde material». Os retratos eram agora «esfumados, envoltos numa cinza esparsa do crepúsculo, como para desprender tanto quanto possível o homem da sua carnalidade, e não lhe perpetuar mais que a semelhança do espírito». Muitas destas afirmações se poderiam aplicar às pinturas que Columbano fez depois de 1889 e sobretudo ao retrato de Antero de Quental.
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Texto de Margarida Elias.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O Gato


Fotografia de Margarida Elias.
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O gato, à sua janela,
ao Sol, que brilha fulgindo,
vai dormindo
vai pensando
e vai sonhando:
- «Ó minha linda casinha,
tu és minha, muito minha,
nem há outra melhor que ela ...»
O gato, à sua janela,
ao Sol, que brilha fulgindo,
vai dormindo,
vai pensando e
vai sonhando:
- «Pelas noites de invernia,
quando o vento,
num lamento
muito lento, muito longo,
muito fundo, de agonia,
ruge e muge,
e a chuva bate à janela, nos vidros fina a tinir...,
ai com é bom,
ai como é bom dormir
ao serão,
todo enroscado
ao pé do lume doirado,
fazendo ron-ron, ron-ron..."
-«Ó minha linda casinha,
tu és minha, muito minha,
nem há outra melhor que ela ...»
O gato, à sua janela,
ao Sol, que brilha fulgindo,
vai pensando,
vai dormindo
e vai sonhando:
- «Não tenho inveja a ninguém:
nem aos pássaros no ar
a voar,
nem aos cavalos saltando,
galopando,
nem as peixinhos no mar
a nadar;
não tenho inveja a ninguém,
aqui da minha janela
onde me sinto tão bem ...»
- «Ó minha linda casinha,
tu és minha, muito minha,
nem há outra melhor que ela ...» "
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Afonso Lopes Vieira

Evolução

Fotografia de Margarida Elias, Convento do Varatojo (Século XV, Varatojo - Torres Vedras).
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Fui rocha, em tempo, e fui, no mundo antigo,
Tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onde, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...
Rugi, fera alvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
Ou, mesmo primitivo, ergui a testa
No limoso paul, glauco poscigo...
Hoje sou homem - e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, na imensidade...
Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas, estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.
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Antero de Quental.

domingo, 1 de junho de 2008

The Selfish Giant

Ilustração de Walter Crane, 1888 (The Happy Prince and Other Tales, ed. 1910).
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Every afternoon, as they were coming from school, the children used to go and play in the Giant's garden.
It was a large lovely garden, with soft green grass. Here and there over the grass stood beautiful flowers like stars, and there were twelve peach-trees that in the spring-time broke out into delicate blossoms of pink and pearl, and in the autumn bore rich fruit. The birds sat on the trees and sang so sweetly that the children used to stop their games in order to listen to them. "How happy we are here!" they cried to each other.
One day the Giant came back. He had been to visit his friend the Cornish ogre, and had stayed with him for seven years. After the seven years were over he had said all that he had to say, for his conversation was limited, and he determined to return to his own castle. When he arrived he saw the children playing in the garden.
"What are you doing here?" he cried in a very gruff voice, and the children ran away.
"My own garden is my own garden," said the Giant; "any one can understand that, and I will allow nobody to play in it but myself." So he built a high wall all round it, and put up a notice-board.
TRESPASSERS WILL BE PROSECUTED
He was a very selfish Giant.
The poor children had now nowhere to play. They tried to play on the road, but the road was very dusty and full of hard stones, and they did not like it. They used to wander round the high wall when their lessons were over, and talk about the beautiful garden inside. "How happy we were there," they said to each other.
Then the Spring came, and all over the country there were little blossoms and little birds. Only in the garden of the Selfish Giant it was still winter. The birds did not care to sing in it as there were no children, and the trees forgot to blossom. Once a beautiful flower put its head out from the grass, but when it saw the notice-board it was so sorry for the children that it slipped back into the ground again, and went off to sleep. The only people who were pleased were the Snow and the Frost. "Spring has forgotten this garden," they cried, "so we will live here all the year round." The Snow covered up the grass with her great white cloak, and the Frost painted all the trees silver. Then they invited the North Wind to stay with them, and he came. He was wrapped in furs, and he roared all day about the garden, and blew the chimney-pots down. "This is a delightful spot," he said, "we must ask the Hail on a visit." So the Hail came. Every day for three hours he rattled on the roof of the castle till he broke most of the slates, and then he ran round and round the garden as fast as he could go. He was dressed in grey, and his breath was like ice.
"I cannot understand why the Spring is so late in coming," said the Selfish Giant, as he sat at the window and looked out at his cold white garden; "I hope there will be a change in the weather."
But the Spring never came, nor the Summer. The Autumn gave golden fruit to every garden, but to the Giant's garden she gave none. "He is too selfish," she said. So it was always Winter there, and the North Wind, and the Hail, and the Frost, and the Snow danced about through the trees.
One morning the Giant was lying awake in bed when he heard some lovely music. It sounded so sweet to his ears that he thought it must be the King's musicians passing by. It was really only a little linnet singing outside his window, but it was so long since he had heard a bird sing in his garden that it seemed to him to be the most beautiful music in the world. Then the Hail stopped dancing over his head, and the North Wind ceased roaring, and a delicious perfume came to him through the open casement. "I believe the Spring has come at last," said the Giant; and he jumped out of bed and looked out.
What did he see?
He saw a most wonderful sight. Through a little hole in the wall the children had crept in, and they were sitting in the branches of the trees. In every tree that he could see there was a little child. And the trees were so glad to have the children back again that they had covered themselves with blossoms, and were waving their arms gently above the children's heads. The birds were flying about and twittering with delight, and the flowers were looking up through the green grass and laughing. It was a lovely scene, only in one corner it was still winter. It was the farthest corner of the garden, and in it was standing a little boy. He was so small that he could not reach up to the branches of the tree, and he was wandering all round it, crying bitterly. The poor tree was still quite covered with frost and snow, and the North Wind was blowing and roaring above it. "Climb up! little boy," said the Tree, and it bent its branches down as low as it could; but the boy was too tiny.
And the Giant's heart melted as he looked out. "How selfish I have been!" he said; "now I know why the Spring would not come here. I will put that poor little boy on the top of the tree, and then I will knock down the wall, and my garden shall be the children's playground for ever and ever." He was really very sorry for what he had done.
So he crept downstairs and opened the front door quite softly, and went out into the garden. But when the children saw him they were so frightened that they all ran away, and the garden became winter again. Only the little boy did not run, for his eyes were so full of tears that he did not see the Giant coming. And the Giant stole up behind him and took him gently in his hand, and put him up into the tree. And the tree broke at once into blossom, and the birds came and sang on it, and the little boy stretched out his two arms and flung them round the Giant's neck, and kissed him. And the other children, when they saw that the Giant was not wicked any longer, came running back, and with them came the Spring. "It is your garden now, little children," said the Giant, and he took a great axe and knocked down the wall. And when the people were going to market at twelve o'clock they found the Giant playing with the children in the most beautiful garden they had ever seen.
All day long they played, and in the evening they came to the Giant to bid him good-bye.
"But where is your little companion?" he said: "the boy I put into the tree." The Giant loved him the best because he had kissed him.
"We don't know," answered the children; "he has gone away."
"You must tell him to be sure and come here tomorrow," said the Giant. But the children said that they did not know where he lived, and had never seen him before; and the Giant felt very sad.
Every afternoon, when school was over, the children came and played with the Giant. But the little boy whom the Giant loved was never seen again. The Giant was very kind to all the children, yet he longed for his first little friend, and often spoke of him. "How I would like to see him!" he used to say.
Years went over, and the Giant grew very old and feeble. He could not play about any more, so he sat in a huge armchair, and watched the children at their games, and admired his garden. "I have many beautiful flowers," he said; "but the children are the most beautiful flowers of all."
One winter morning he looked out of his window as he was dressing. He did not hate the Winter now, for he knew that it was merely the Spring asleep, and that the flowers were resting.
Suddenly he rubbed his eyes in wonder, and looked and looked. It certainly was a marvellous sight. In the farthest corner of the garden was a tree quite covered with lovely white blossoms. Its branches were all golden, and silver fruit hung down from them, and underneath it stood the little boy he had loved.
Downstairs ran the Giant in great joy, and out into the garden. He hastened across the grass, and came near to the child. And when he came quite close his face grew red with anger, and he said, "Who hath dared to wound thee?" For on the palms of the child's hands were the prints of two nails, and the prints of two nails were on the little feet.
"Who hath dared to wound thee?" cried the Giant; "tell me, that I may take my big sword and slay him."
"Nay!" answered the child; "but these are the wounds of Love."
"Who art thou?" said the Giant, and a strange awe fell on him, and he knelt before the little child.
And the child smiled on the Giant, and said to him, "You let me play once in your garden, today you shall come with me to my garden, which is Paradise."
And when the children ran in that afternoon, they found the Giant lying dead under the tree, all covered with white blossoms.

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Fais dodo, Colas mon p’tit frère

















Desenhos de Emília Matos e Silva (Colecção Particular).
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Fais dodo,
Colas mon p’tit frère,
Fais dodo, t’auras du lolo.

Maman est en haut,
Qui fait des gâteaux,
Papa est en bas,
Qui fait du nougat.

Fais dodo,
Colas mon p’tit frère
Fais dodo, t’auras du lolo.

Si tu fais dodo,
Maman vient bientôt,
Si tu ne dors pas,
Papa s’en ira.

Fais dodo,
Colas mon p’tit frère,
Fais dodo, t’auras du lolo.
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