sexta-feira, 22 de agosto de 2008

A Figueira da Foz no Século XIX


Fotografia de Margarida Elias, Figueira da Foz (2008).
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... nenhuma outra praia em Portugal possui as condições desta para tornar agradável a estação de banhos.
Batida do grande mar, tendo à direita a bonançosa baía de Buarcos e à esquerda os rochedos em que assenta o castelo de Santa Catarina, que defende a foz do Mondego, a vila da Figueira oferece aos banhistas incomparáveis condições.
A povoação é rica pelo comércio do sal e pela exportação dos vinhos da Bairrada.
Uma companhia edificadora tem construído casas agradáveis, em um bairro novo junto à foz do Mondego, em sítio elevado e sadio.
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... A soirée é uma das grandes preocupações desta praia, e não será por falta de contradanças que os banhistas deixarão de se regosijar neste sítio.
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Na Figueira, entre a população fixa, que habita a antiga vila e freqüenta a Assembleia Figueirense, e a povoação flutuante, que habita principalmente o bairro novo e freqüenta a Assembleia Recreativa, não há hostilidades, mas existe uma forte emulação provinciana que se descarrega muitas vezes em pequenos episódios dignos de Dickens ou de Balzac.
A viagem da Figueira é bastante pitoresca, mas não isenta de incomodidades. Quer o viajante chegue a Coimbra às 3 1/2 horas da tarde, quer chgue às 4 horas da manhã, tem de esperar até às 6 horas da manhã ou até às 2 1/2 da tarde para poder seguir para a Figueira na diligência, que gasta seis horas neste caminho e pede 1$000 reis por cada lugar.
Na imperial da diligência, como artista, em companhia alegre; ou em carruagem descoberta, que se pode alugar em Coimbra, o caminho não parece longo, porque a estrada é boa e a paisagem lindíssima.
Entra-se na vila por uma estreita garganta que se alonga para o viajante como o bico de um funil. Se não é fácil a entrada pela foz do Mondego...a entrada em diligência pelo funil acima referido não é menos perigosa. Sòmente, pela via de terra é permitido ao viajante um expediente, que se não usa na superfície líquida, e vem a ser: desembarcar a distância respeitosa e entrar cada um na vila pelo seu pé.
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Ramalho Ortigão.

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