sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O rosto

Desenho de Emília Matos e Silva (1978, Colecção Particular).
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O rosto não é um simples fenómeno, uma coisa entre as coisas: ele é igualmente o signo da alteridade, isto é, daquilo que nos escapa absolutamente. Ele significa a presença, e exprime a vida de uma outra interioridade, de um outro eu - alter ego - logo, de uma liberdade. (...) A presença de um rosto que nos «fala» é uma visitação que põe em questão o egoísmo do eu: neste sentido, o rosto revela a exigência ética.
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In Dicionário Prático de Filosofia.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A beleza

Pintura de Vermeer, La Dentelliere (Museu do Louvre, Paris).

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En effet, il est plus beau d’éclairer que de briller seulement ; de même est-il plus beau de transmettre aux autres ce qu’on a contemplé que de contempler seulement.
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São Tomás de Aquino.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Existir

Pintura de Columbano Bordalo Pinheiro, Gola Branca (1903, Museu de Grão Vasco, Viseu).
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...Exister, c'est aller au devant de soi comme...
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David le Breton.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A Primavera


Fresco de Stabiae, Primavera (Séc. I d.C., Museo Archeologico Nazionale, Nápoles).
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A cada segundo começa para nós uma vida nova. Alegremente, sigamos em frente ao seu encontro. Temos de nos apressar, quer queiramos ou não, e caminharemos melhor olhando em frente do que lançando sempre os olhos para trás.
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Jerome K. Jerome, citado por Helen Exley.

domingo, 25 de janeiro de 2009

O rosto das coisas


Pintura de Albrecht Dürer, Das Große Rasenstück (1503, Albertina,Viena).
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Dürer marque profonément ses animaux et ses plantes, ses carrières et ses paysages d'une allure qui les élève au rang de «portraits». Il leur donne un visage, il sont là, nous regardent, se penchent vers nous...
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Friedrich Piel.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Ver


Pintura de Emília Matos e Silva (1988, Colecção Particular).
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... à force de voir les choses, nous ne le regardons plus.
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Matisse.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Responso de Santo António

Responso de Santo António
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Se milagres desejais,
Recorrei a Santo António
Vereis fugir o demónio
E as tentações infernais.
Recupera-se o perdido.
Rompe-se a dura prisão,
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido.
Pela sua intercessão,
Foge a peste, o erro, a morte,
O fraco torna-se forte,
E torna-se o enfermo são.
Recupera-se o perdido.
Rompe-se a dura prisão,
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido.
Todos os males humanos
Se moderam, se retiram,
Digam-no aqueles que o viram,
E digam-no os portugueses.
Recupera-se o perdido.
Rompe-se a dura prisão,
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

"Em cada bloco de mármore vejo uma estátua"

Desenho de Michelangelo, Nu masculin, vu de face (1505-1506, Museu do Louvre, Paris).
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Em cada bloco de mármore vejo uma estátua;
vejo-a tão claramente como se estivesse na minha frente,
moldada e perfeita na pose e no efeito.
Tenho apenas de desbastar as paredes brutas
que aprisionam a adorável aparição
para revelá-la a outros olhos como os meus já a vêem.
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Michelangelo.
http://pt.wikiquote.org/wiki/Michelangelo_Buonarroti

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Natureza Morta

Pintura de Eduardo Viana, Composição (1947, Museu de José Malhoa).
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La nature morte est, plus que tout autre thème pictural, celui où le peintre peut feindre d'étre réaliste quand, en fait, il invente son monde.
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Jean-Jacques Lévêque.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Retrato da Luísa

Fotografia de Margarida Elias.

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Nos anos 1860 surge também o instantâneo fotográfico que reduz a nada o tempo de pose, permitindo assim descobrir o mecanismo do movimento (...).

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Laurence Madeline.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O Homem Vitruviano

Desenho de Leonardo da Vinci, O Homem Vitruviano, Estudo das proporções segundo De Architectura de Vitrúvio (1492, Gallerie dell'Accademia, Veneza).
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La figure circulaire adjointe à la figure carrée est spontanément interpretée par la psychisme humain comme l'image dynamique d'une dialectique entre le céleste transcendant auquel l'homme aspire naturellement, et le terrestre où il se situe actuellement, (...).
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G. Champeaux.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Retrato de Fernanda Matos e Silva

Desenho de Emília Matos e Silva, Mãe (1978, Colecção Particular).

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... le spectacle de l'âme est le véritable spectacle du portrait.

Jean-Jacques Lévêque.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Um bebé


A baby is God's opinion that the world should go on.
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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O Graal

Pintura de Sir Edward Burne-Jones, The Dream of Launcelot at the Chapel of the San Graal (1895-1896, Southampton City Art Gallery - Inglaterra).
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Le graal, qui aloit devant,
de fin or esmeré estoit ;
Pierres precieuses avoit
el graal de maintes menieres,
des plus riches et des plus chieres
qui an mer ne an terre soient ;
totes autres pierres valoient
celes del graal sanz dotance...
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Chrétien de Troyes.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O Claustro da Badia de Florença


Pintura de João Gonçalves, Ciclo da Vida de São Bento (1436-1439, Claustro das Laranjeiras do Mosteiro de Badia, Florença. Fotografia de Margarida Elias).
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Numa época decisiva do primeiro Renascimento, no mosteiro da Badia, situado no coração de Florença e então dirigido pelo Abade D. Frei Gomes, natural de Lisboa, um artista português – Giovanni di Gonsalvo ou João Gonçalves – executa um conjunto de pinturas a fresco sobre a vida de S. Bento, considerado um dos momentos mais altos da pintura florentina daqueles anos (1436-1439).
O Abade Gome foi responsável por uma série de obras destinadas a aumentar o espaço destinado aos monges e aos seus hóspedes. Não podendo promover a expansão horizontal do mosteiro, viu-se obrigado a fazê-lo crescer em altura, o que exigiu a transformação de várias estruturas. O claustro superior deve ter sido construído no decorrer de 1435 e 1436. Na primavera deste último ano estava em condições de receber a decoração que o abade Gomes lhe destinara.
Durante muito tempo, interrogaram-se os estudiosos da História da Arte sobre a identidade e a preparação do autor das pinturas a fresco que enriquecem este claustro com a representação da vida de S. Bento. Giovanni Poggi deu-se conta de um numeroso conjunto de referências à presença e à actividade de um pintor português, chamado Giovanni di Gonsalvo, nas obras da Badia, entre 1435 e 1439. Confirmando a informação documental, Marco Chiarini defendeu convictamente a origem portuguesa do autor dos frescos, a partir da sua pormenorizada análise estilística. “Giovanni di Ghonsalvo dipintore”, ou, dito em português, João Gonçalves pintor, aparece na Badia em Maio de 1436, quando as obras de construção doclaustro se aproximavam do termo. Por uma referência de 6 de Julho, sabemos que estava alojado no próprio mosteiro.
O ciclo pictórico do claustro da Badia incluiu catorze cenas, correspondentes a outros tantos episódios da vida de S. Bento, conforme a narração de S. Gregório Magno. Os vários quadros sucedem-se por ordem, para quem, depois de entrar no claustro, segue pelo lado direito.
O conjunto das pinturas executadas por Giovanni di Gonsalvo no mosteiro dirigido por D. Frei Gomes constitui, no dizer de Carlo L. Ragghianti, um ciclo pictórico “que está entre os maiores da primeira metade de Quatrocentos em Florença”. Por volta de 1933, Ragghianti foi um dos primeiros a chamar a atenção para a importância deste ciclo e para a existência nele de aspectos que se afastavam daquilo que então se conhecia da pintura florentina daqueles anos. Os estudos efectuados por L. Berti e U. Baldini, em conjunto com a descoberta de uma referência documental que dá Giovanni di Portogallo como aluno do Angélico em Fiésole, em 1435.
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Resumo do texto de António Matos Reis (2006).

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A Alma


Pintura de Columbano Bordalo Pinheiro, Retrato de Raul Brandão (1896, Museu do Chiado, Lisboa).
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... L'âme est une musique qui se joue derrière le rideau de la chair, on ne peut pas la peindre, mais on peut la faire entendre ...
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Fantin-Latour, citado por Jean-Jacques Lévêque.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Quinta do Alperce (Memórias)

Pintura de Fernanda Matos e Silva (1939).
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Mudáramos para a Av. Da Republica, defronte do Colégio Inglês, em que as minhas duas irmãs e o meu irmão se educaram. Aí nos conservámos cinco anos, findos os quais, por serem necessários mais dois quartos, (...) mudámos para a Praça Duque de Saldanha nº 1,( no prédio do anjo), no 1º andar direito. Foi aí que comecei a frequentar um colégio que havia perto, onde aprendi, desde as primeiras letras até à 3ª classe de hoje, 1º grau desse tempo. Tinham-se passado dois anos e meio quando deixamos essa casa, indo morar na Av. da Liberdade 122. Mudança de escola e de professores, nova adaptação a outro ambiente e comecei a frequentar a Escola Luso- Franco- Belga, numa rua que terminava num beco sem saída e que é hoje a R. Rodrigues Sampaio a Stª Marta. Uma série de contratempos, doenças minhas e tinha dez anos sem ter feito exame algum, embora estivesse habilitada para isso.
Mas ali naquela casa minha mãe não achava o ambiente próprio aos seus anseios de artista que não podia acostumar-se a viver dentro duma casa vulgar da cidade, nem queria afastar-se contudo dela, habituada desde o berço às comodidades e bulício de Lisboa. Eis que surge a oportunidade sonhada e que viria reunir os seus desejos: a paz e o sossego da aldeia, a dois passos da Baixa. Uma professora indicou a meus pais uma quinta que estava em venda, ficando ainda dentro da periferia da cidade pois era perto do Areeiro e tinha a caracteriza-la reunir em si todas as atracções do campo juntamente com a comodidade de uma casa citadina a que não faltava gás, salamandras para aquecimento no Inverno, uma vista maravilhosa sobre parte da cidade e o esmero com que fora delineada e estava tratada.
O entusiasmo foi tal, após a primeira visita que a minha mãe não descansou mais até que o meu pai satisfazendo-lhe a vontade, que era igualmente a dele pois fora o seu sonho dourado, a comprou. Nova mudança, mas desta vez só ao fim de 31 anos e com fundo desgosto deixei essa casa, essa querida casa que foi o paraíso da minha adolescência, fonte inesgotável de alegrias sãs, boa saúde física e mental que desde o primeiro dia nela desfrutei. Para uma criança criada na cidade, embora saindo todas as férias para o campo ou para a praia, aquela quinta foi a felicidade. Tinha a parte rústica representada pelas hortas vicejantes e sempre fartas, o pomar sendo além disso semeada de árvores de fruto por todos os recantos e de todas as variedades, com campos de semeadura, searas (coisa que até aí nunca vira de perto). Capoeiras bem providas, cortiços com abelhas, um estábulo com 10 vacas, vinha e latadas encimando as ruas e jardins, nem menos de cinco grandes jardins a abarrotar com flores, adornadas com muros de buxo, de tanques a emprestar frescura e graça a todos eles. Qualidades de árvores de sombra raras: um cacto gigante circular, uma árvore-da-borracha, tamareiras com verdadeiras tâmaras, eucaliptos, pinheiros bravos e mansos, acácias de floração branca, roxa e rosa, olaias e tramangueiras empenachadas de lilás e rosa, oliveiras, que sei eu, de tudo bastante e bem distribuído de forma a encher de sombra aprazível as ruas e bancos de azulejos antigos, porque bem antiga era essa quinta que no portão principal deitando para um pequeno largo na azinhaga do Areeiro, esquina da Calçada da Ladeira, tinha lindo painel de azulejos figurando dois pavões de caudas em leque abertas e policromas e a data de 1726.
Aí vivi e cresci, aí senti pela primeira vez com o contacto diário com a natureza, o encantamento que ela empresta ao campo, no decorrer das estações do ano e as transformações constantes porque assistia deslumbrada, fizeram-me conceber o desejo de descrever o que via, tentando reproduzir em letras e frases o meu sentir. Começaram os primeiros versos ( maus versos de péssima poetisa) e as primeiras ensaios literários. Quanto a estudos ….
Há 32 anos Lisboa não era como é hoje. No Largo do Chile terminava a Avenida Almirante Reis e depois rumo ao Areeiro e à Quinta do Alperce, que este era o nome pitoresco da Quinta e que, juntamente com os terrenos e outra Quinta dos Alperces que ainda existe ou existiu no Caminho de Baixo da Penha, pertenceram a Pina Manique, só havia azinhagas entre muros e de leito pedregoso ou terra batida e a Rua do Areeiro, pouco mais larga e também toscamente empedrada, por onde passava o eléctrico. Daí por diante e à volta da nossa, quintas de semeadura, mais quintas rústicas ( a do Padre – a do Manuel dos Passarinhos, etc.). Como poderia seguir regularmente os estudos, frequentar um liceu (havia tão poucos para meninas e tão longe!) ter uma educação oficial? Os professores iam dar-me lições a peso de ouro indo o carro do meu pai busca-los e pô-los novamente em casa ou aonde mais lhes convinha. Assim aprendi português com o professor José Portugal, autor do Método Prático de Português e um bom, proficiente e simpático professor que ainda hoje lembro com comovida saudade e grande veneração. Como eu manifestasse desgosto por não tirar o curso do liceu e depois o curso superior de letras, ainda comecei a estudar (em casa) o 1º ano dos liceus, mas o estudo assim sozinha, sem o estimulo da competição nem a companhia de outras pequenas da minha idade, depressa me desanimou e aborreceu desistindo. Aprendi o português, francês, inglês, lavores, arte aplicada (coisa hoje tão fora de moda e então em plena voga) piano e canto e só muito mais tarde desenho e pintura com D.Raquel Roque Gameiro de quem fui discípula.
(...)
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Memórias de Fernanda Matos e Silva.
in Três Gerações.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Meditação sobre os objectos

Pintura de Zurbarán, A Cup of Water and a Rose on a Silver Plate (c. 1630, National Gallery, Londres).
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...il se plonge dans l'objet pour en faire l'instrument d'une méditation, d'une rêveuse contemplation...
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Jean-Jacques Lévêque, a propósito de Fantin-Latour.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Silves

Fotografia de Margarida Elias ( Silves, 2008).
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Evocação de Silves

Saúda, por mim, Abu Bakr,
Os queridos lugares de Silves
E diz-me se deles a saudade
É tão grande quanto a minha.
(...)
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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Auto-Retrato

Pintura de Columbano Bordalo Pinheiro, Auto-Retrato de Columbano Bordalo Pinheiro (1883, Museu de Grão Vasco, Viseu).
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O auto-retrato: é um modelo que está sempre disponível. É exacto, submisso e conhecêmo-lo antes de o pintar.
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Fantin-Latour, citado por Jean-Jacques Lévêque.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Natureza Morta: Frutos e Flores

Pintura de Josefa de Óbidos, Natureza Morta: Frutos e Flores (c. 1670, Palácio Nacional de Queluz - Fotografia: José Pessoa).
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As naturezas mortas com frutas benificiaram de uma estética própria em Espanha, onde o Século XVII foi marcado por uma grave crise, que se reflectiu na escassês de alimentos. As composições tendiam a ser simples, com poucos frutos. A apresentação destes objectos quotidianos era inspirada por noções místicas de Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz, que enfatizavam a natureza sagrada de uma vida simples. Contudo, ao olharmos para as naturezas mortas de Josefa de Óbidos, embora recordem as de Zurbarán, pela disposição dos frutos sobre uma mesa, elas são mais ricas: maior variedade, recipientes de melhor qualidade (porcelanas decoradas) e embelezadas por flores. Esta apresenta frutos de Outono, dispostos ricamente sobre uma mesa, dando uma noção de abundância, numa estação do ano em que se esperam dias de maior escassês, trazidos pelo Inverno.
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Texto de Margarida Elias.
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Cf. Norbert Schneider.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Ao Menino Deus em metáfora de doce

Pintura de Josefa de Óbidos, Natureza Morta com Doces e Barros (1676, Biblioteca Municipal Braamcamp Freire Santarém).
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ROMANCE

– Quem quer fruta doce?
– Mostre lá! Que é isso?
– É doce coberto;
É manjar divino.
– Vejamos o doce,
E, depois que o virmos,
Compraremos todo,
Se for todo rico.
– Venha ao portal logo:
Verá que não minto,
Pois de várias sortes
É doce infinito.
Desculpa, minha alma.
– Mas ah! que diviso?
Envolto em mantilhas,
Um infante lindo!
– Pois de que se admira,
Quando este Menino
É doce coberto,
É manjar divino?
– Diga o como é doce,
Que ignoro o prodígio.
– Não sabe o mistério?
Ora vá ouvindo:
Muito antes de Santa Ana
Teve este doce princípio,
Porque já do Salvador
Se davam muitos indícios.
Mas na Anunciada dizem
Que houve mais expresso aviso,
E logo na Encarnação
Se entrou por modo divino.
Esteve pois na Esperança
Muitos tempos escondido.
Saiu da Madre de Deus,
Depois às Claras foi visto.
Fazem dele estimação
As freiras com tal capricho,
Que apuram para este doce
Todos os cinco sentidos.
Afirmam que no Calvário

Terá Seu termo finito,
Sendo que no Sacramento
Há-de ter novo artifício.
Que seja doce este Infante,
A razão o está pedindo,
Porque é certo que é morgado,
Sendo unigénito Filho!
Exposto ao rigor do tempo,
Quando tirita nuzinho,
Um caramelo parece
Pelo branco e pelo frio.
Tal doce é, que porque farte
Ao pecador mais faminto,
Será de pão com espécies,
Substancial doce divino.
É manjar tão soberano,
Regalo tão peregrino,
Que os espíritos levanta,
Tornando aos mortos vivos.
Tão delicioso bocado
Será de gosto infinito,

Manjar real, verdadeiro,
Manjar branco parecido!
Que é manjar dos Anjos, dizem
Talentos mui fidedignos,
Por ser pão-de-ló, que aos Anjos
Foi em figura oferecido.

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Atribuído a Jerónimo Baía, Fénix Renascida I