O Salão dos Independentes, inaugurado em 1930, na sala da Sociedade Nacional de Belas Artes, surgiu como uma iniciativa de variados artistas e intelectuais, reunindo escultores, arquitectos, pintores, cartazistas, fotógrafos e desenhadores. A pintura teve uma importante representação, destacando-se Júlio e Mário Eloy (que iriam marcar os anos 30 com uma linha de contorno expressionista), mas foi a arquitectura que mais brilhou perante a crítica, o que em muito se deveu ao projecto para o Parque Eduardo VII da autoria de Cristino da Silva. Quanto à escultura, é sobretudo de notar que já em 1928 Francisco Franco, um dos expositores de 1930, havia apresentado o monumento a Gonçalves Zarco que se tornou um modelo para a estatuária pública destes anos. No Salão dos Independentes esteve também representado Kradolfer, artista de origem suíça que revolucionou o campo das artes gráficas portuguesas. Havia o desejo de serem novos, audazes e modernos. Contudo, no Manifesto, assinado por António Pedro, estava expressa uma acalmia perante a irreverência das décadas anteriores. Nele se dizia que tens «pois português indiferente e atrasado na marcha célere da Europa um motivo de regozijo. Aquele filho brincalhão e atrevido que era o mais inteligente da tua família e a quem expulsaste porque te incomodava, é hoje um homem que te abre, sereno, as portas da sua casa».
Perante as dificuldades em que se encontravam os artistas portugueses, nomeadamente os «novos» e não consagrados, em 1933 foi realizada uma «Comissão de Defesa das Artes», que correspondeu a um comunicado que pedia ao Estado para assumir responsabilidades. Foi proposta a criação de um Secretariado de Artes, que apoiasse os artistas, um pedido que teve a sua concretização com a fundação do Secretariado de Propaganda Nacional, inicialmente chefiado por António Ferro. Este organismo tinha a seu cargo o mundo da arte, da literatura e do turismo, tudo enquadrado naquilo a que chamou de «Política do Espírito». O Secretariado promoveu exposições de artistas nacionais e estrangeiros e ofereceu prémios para as artes plásticas e literatura. Num discurso proferido por António Ferro por ocasião da primeira Exposição de Arte Moderna (1935), ele afirmava que o Secretariado «quer chamar a si, em nome da ordem e do equilíbrio, o modesto papel da irreverência oficial». Desta forma, não só se pretendia promover a modernização da arte portuguesa, mas também enquadra-la dentro de moldes equilibrados e ordenados, que iriam caracterizar a arte portuguesa dos anos 30.
Uma das características da Europa Moderna era o gosto pelas celebrações, o que correspondia a uma necessidade de mitificação do passado. António Ferro teve importância na transformação da maneira como se realizavam as exposições e comemorações em Portugal, atribuindo um papel cada vez maior à imagem e à linguagem gráfica. Em 1934, foi ele o responsável pela elaboração da exposição feita em Lisboa, na altura do Congresso da União Nacional, formando então uma equipe com artistas que se ligavam a Kradolfer. Em 1937, organizou a representação portuguesa na exposição de Paris e, em 1939, em Nova Iorque e São Francisco. Nestas exposições os pintores transformaram-se em decoradores, sendo cada vez mais importante o trabalho dos arquitectos. Entre estes destacavam-se Cristino da Silva, Carlos Ramos e Pardal Monteiro. No entanto, se as vias modernas pediam a funcionalidade, muitas das encomendas do Estado implicavam a monumentalidade e uma decoração simbólica.
Em 1938, surgiu a ideia de festejar o duplo centenário da Nação Portuguesa, correspondente às datas de 1139 e de 1640. Para esses festejos foi criada uma Comissão dos Centenários, que teve a seu cargo várias realizações, sendo a principal a Exposição do Mundo Português. Através de António Ferro e de Duarte Pacheco, tanto o Secretariado de Propaganda Nacional, como o Ministério das Obras Públicas e a Câmara Municipal de Lisboa, se envolveram nesta exposição. Participaram vários artistas, sendo de destacar sobretudo os arquitectos, como Cottinelli Telmo, Cristino da Silva e Pardal Monteiro. Esta exposição coroou a década de 1930, deixando um modelo de compromisso onde a História e a tradição se conjugavam com a modernidade.
Esse era o modernismo oficial, preconizado por António Ferro, pois, como refere José Augusto França, a «opinião geral nos anos 30 era (...) que a arte moderna se aquietara».
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Bibliografia
António FERRO (1949); José-Augusto FRANÇA (1980 e 1991) e Margarida ACCIAIUOLI (1998).