domingo, 11 de setembro de 2011

Sobre a leitura

Károly Ferenczy, Red Wall (1910).
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O Homem que Lê
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Eu lia há muito. Desde que esta tarde
com o seu ruído de chuva chegou às janelas.
Abstraí-me do vento lá fora:
o meu livro era difícil.
Olhei as suas páginas como rostos
que se ensombram pela profunda reflexão
e em redor da minha leitura parava o tempo. —
De repente sobre as páginas lançou-se uma luz
e em vez da tímida confusão de palavras
estava: tarde, tarde... em todas elas.
Não olho ainda para fora, mas rasgam-se já
as longas linhas, e as palavras rolam
dos seus fios, para onde elas querem.
Então sei: sobre os jardins
transbordantes, radiantes, abriram-se os céus;
o sol deve ter surgido de novo. —
E agora cai a noite de Verão, até onde a vista alcança:
o que está disperso ordena-se em poucos grupos,
obscuramente, pelos longos caminhos vão pessoas
e estranhamente longe, como se significasse algo mais,
ouve-se o pouco que ainda acontece.

E quando agora levantar os olhos deste livro,
nada será estranho, tudo grande.
Aí fora existe o que vivo dentro de mim
e aqui e mais além nada tem fronteiras;
apenas me entreteço mais ainda com ele
quando o meu olhar se adapta às coisas
e à grave simplicidade das multidões, —
então a terra cresce acima de si mesma.
E parece que abarca todo o céu:
a primeira estrela é como a última casa.
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Rainer Maria Rilke.

3 comentários:

ana disse...

Margarida,
O pema de Rilke é muito bonito. Gosto muito deste escritor e da beleza que dele emana.
A tela é igualmente bela.
Bjs. :)

Margarida Elias disse...

Ana: Obrigada e boa semana!

ana disse...

Margarida,
Mudei de novo de modelo do blogue porque algumas pessoas se queixaram que não o conseguiam ver.

Estou a fazer experiências. Adoptei um que nem gosto muito mas vamos lá a ver se fico sem problemas.
Beijinhos! :)