sábado, 22 de setembro de 2012

Para a minha Avó Fernanda que faria anos hoje

A Avozinha
Ilustração de Mário Costa (in O Senhor Doutor, 18 de Maio de 1935).
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«Era à tardinha. Na sala confortável e acolhedora, a essa hora ainda cheia de sol que a jorros entrava pela grande janela aberta e dourava os altos eucaliptos do jardim, a atmosfera era dôce e alegre.
Uma aragem de felicidade parecia purificar todos os pulmões que respiravam aquela serenidade e espalhava-se nos rostos juvenis de três senhoras, que costuravam, conversando, perto da janela.
Um grupo de crianças ria, escutando atentamente as peripécias de um conto, que uma voz extremamente doce e quente lhes contava, em coloridas frases.
Junto da mesa de mogno pulido, nas mãos habilidosas e brancas uma renda de crochet, a figura linda, suave, bela, duma senhora idosa, sobressaía entre as suas cabeças curiosas que seguiam atentamente as expressões do seu rosto, bondoso e meigo.
Era a avózinha.
Que doçura, que meiguice nesta palavra santa!
Lembra cousas tão belas, tão agradáveis; ternos carinhos; brinquedos pelo Natal; mimos e festas a tôda a hora! Não é verdade, meus amiguinhos, que é assim a vossa avozinha?
Pois aquela avòzinha era assim. Cabelos prateados e finos, enquadrando um rosto lindo como um dia suave e puro de primavera. E os netos adoravam-na! Pudera! Se ela era tão, tão boa!
Junto dela, Lídia, a mais velha, bordava em silêncio, sorrindo-lhe ternamente; e a Maria Elena encostava a cabecita no seu ombro, enquanto com as mãos trigueiras ameigava a mão branca da avó! Fernando e Rogério sentavam-se fraternalmente na mesma cadeira, enquanto Vasco e Rui, dois homens já, a escutavam um pouco mais afastados mas atentos.
A voz dôce ia narrando as aventuras dum príncipe e duma fada, e na imaginação dos netos parecia que tomavam forma e côr aqueles heróis de sonho. Lena levantara-se de mansinho e aproximando-se de Fernando foi sentar-se ao seu lado.
- Como eu gostava de ser uma avòzinha! – murmurava em voz baixa.
- Para quê! – perguntou êle, admirado – As avòzinhas não brincam e tu és tão brincalhona!
- Ah! Mas sabem aquelas histórias tão bonitas e são boas, boas como a nossa avòzinha! Deve ser tão bom! – exclamou, pondo as mãozinhas trigueiras.
- Ah! Sim, isso é verdade ... A nossa avó é a mais linda e melhor do mundo!
Entretanto a voz dôce calara-se, acabado o conto de fadas.
(...)»
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Fernanda de Matos e Silva, in O Senhor Doutor, 18 de Maio de 1935 (excerto).

2 comentários:

ana disse...

O conto é muito bonito e a sua homenagem também- Parabéns à avó que de certeza escutou este trecho aqui postado.
Bom fim de semana.
Beijinho.:)

Margarida Elias disse...

Obrigada, Ana! Bjs e bom fim-de-semana!