terça-feira, 31 de outubro de 2017

Da estética da ruína e dos lugares abandonados

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“It seems, in fact, that the more advanced a society is, the greater will be its interest in ruined things, for it will see in them a redemptively sobering reminder of the fragility of its own achievements. Ruins pose a direct challenge to our concern with power and rank, with bustle and fame. They puncture the inflated folly of our exhaustive and frenetic pursuit of wealth.”
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Tenho me lembrado de um blogue de que gosto muito: Ruin'Arte de Gastão de Brito e Silva.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Afinidades XIV

Tomás da Anunciação, Vista da Penha de França (1857, MNAC)
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Acho que já muitas vezes tinha olhado para estas duas pinturas, mas só recentemente descobri que eram semelhantes. Poderiam formar um par, não fosse o facto da pintura de Cristino da Silva ser maior.
A paisagem de Tomás da Anunciação representa a Lisboa rural de meados do século XIX, com o antigo convento dos eremitas de Santo Agostinho na colina da Penha de França. No primeiro plano vêem-se duas árvores de grande copa que enquadram cenograficamente a paisagem, onde se vislumbram, no plano intermédio, dois bois e uma camponesa (Cf. Matriznet). No quadro de Cristino da Silva surgem árvores idênticas, provocando o mesmo truque cenográfico, menos naturalista neste caso. A animação dos camponeses está mais próxima do primeiro plano, embora já a sair da sombra. A paisagem mostra uma vista de Campolide, vendo-se no centro o vale onde iria ser aberta a Avenida da Liberdade. Ao fundo estão as colinas do castelo de São Jorge e da Graça. Os camponeses cruzam-se com um homem montado a cavalo, de chapéu e capa vermelha, que a historiadora Maria de Aires Silveira sugeriu ser o pintor Francisco Metrass, também amigo de Cristino (cf. Matriznet).

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Exposições e escolhas

Manuel Cipriano Gomes Mafra, Macaco e tartaruga (1870-1905, CJMF - fotografia de Margarida Araújo)
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Faz um ano amanhã que inaugurou a exposição da minha curadoria: Animais na Cerâmica Caldenses. Colecção de João Maria Ferreira (Museu da Cerâmica, Caldas da Rainha) - o convite fora-me feito por João Bonifácio Serra.
Recentemente descobri esta frase de Paulo Varela Gomes, que achei muito interessante:
«(...) De facto, qualquer exposição não é senão uma selecção mais ou menos arbitrária de alguns objectos. Nas salas de uma exposição não estamos no terreno da realidade histórica, mas em plena teatralidade (ou representação). Ao pousarmos um catálogo, ao sairmos de uma exposição, raramente fazemos a contabilidade do que não estava lá porque as exposições se fazem para nos dar a entender que “lá fora” não há mais nada de importante para ver.» - Paulo Varela Gomes, Expressões do Neoclássico, in Dalila Rodrigues (Coord.), Arte Portuguesa, da Pré-História ao Século XX, Vol. XIV, Fubu Editores, 2009, p. 33.
Ao ler esta frase lembrei-me da dificuldade que tive para escolher as peças, porque havia muito mais na Colecção. E nessa selecção - de cerca de 130 peças entre mais de mil - muito me ajudaram o coleccionador, a sua colaboradora e fotógrafa Margarida Araújo, mas também outros especialistas, como Cristina Ramos Horta e Rita Gomes Ferrão. Foi como estar na caverna do Aladino sem saber o que havia de lá trazer.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Termos de Arte e Arquitectura - Acanto

Kenpei (fotografia), Acanthus mollis
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Giovanni Dall'Orto (fotografia), Livraria de Adriano (132 d.C., Atenas)
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«Elemento decorativo, inspirado nas folhas da planta homónima, típico dos capitéis coríntios (...), e dos capitéis compósitos (variação romana do capitel coríntio). Pode ornamentar pilares, pilastras, frisos e esculturas. Na época românica, o acanto assume uma forma muito estilizada, enquanto que no Renascimento e no Barroco volta a ter uma forma rica em detalhes.» - in Dicionário de Termos Artísticos e Arquitectónicos, Público, 2006, p. 12.
«Planta brava cuja folha espinhosa ou mole foi empregada pela primeira vez como motivo decorativo pelos Gregos. Específica dos capitéis coríntios, foi utilizada (...) até aos nossos dias, na arquitectura, no mobiliário, na ourivesaria e, de um modo geral, em todas as artes decorativas.» - in Tesouros Artísticos de Portugal, p. 645.
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Painel de azulejos padrão (1640-1660, Museu Nacional do Azulejo)
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Rafael Bordalo Pinheiro, Éolo (Mísula) (1897, Museu da Cerâmica, Caldas da Rainha)

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Do interior

Brian Dettmer, Interiors (2014)
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«The exterior cannot do without the interior since it is from this, as from life, that it derives much of its inspiration and character.»
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Stephen Gardiner.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Redescobertas VIII

Vittore Carpaccio, Il sogno di San'Orsola (1495, Academia, Veneza)
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É uma das minhas pinturas preferidas e foi concebida por Vittore Carpaccio (c. 1465-1526). Sobre ela escreveu Argan:
«Sul sogngo de Sant'Orsola (1495) sono state scritte pagine di commozione per la purezza, l'ingnuità del racconto. In realtà, ciò che interessa il pittore sono i fasci di luce che entrano nella stanza in penombra dalle porte aperte e dalla finestra, l'animarsi dello spazio, il destarsi delle cose (...). Il significato autentico è questo (...)».
- Argan, Storia dell'Arte Italiana, Vol. II, p. 351.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Afinidades XIII

Ivana Kobilca, Kofetarica (1888)
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Esta pintura já aqui andou há 5 anos, num post sobre café. Outro dia, olhei de novo para ela e fez-me lembrar uma pintura de Columbano que também já aqui esteve em Dezembro do ano passado:
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Columbano Bordalo Pinheiro, Five O'clock tea (1896, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro)
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Ivana Kobilca (1861-1926) foi uma pintora eslovena, que estudou em Viena e Munique. Há um artigo sobre a artista na Wikipédia e creio que valerá a pena pesquisar mais sobre ela, cuja obra me parece ser muito interessante, pelo pouco que já vi. Ficam mais dois exemplos:

Summer (1889-1990, National Gellery of Slovenia)
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sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Não tem nada a ver (ou talvez tenha)

Hans Heysen, Sunshine and shadow (1904, National Gallery of Victoria)
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A pintura de Hans Heysen (1877-1968) fez-me lembrar as nossas florestas ardidas, sobretudo pelo colorido que me recorda o tom do fogo.
Pouco a propósito, relaciono esta pintura com um filme que vi esta semana e de que gostei bastante - The Giver (2014). Cito aqui uma frase que achei interessante:
«Memories are not just about the past. They determine our future. You can change things. You can make things better.»

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Cá por casa anda assim

Gustave Caillebotte, Les raboteurs de parquet (1875, Musée d'Orsay, Paris)
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Enquanto o pobre do meu marido ajuda um senhor a arranjar o chão, o meu computador avariou e eu estou a utilizar um da idade da pedra... :-\
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segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Afinidades XII

Giovanni Francesco Caroto, Bambino con Disegno (1.ª met. Séc. XVI, Museo Civico di Castelvecchio)*
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Henrique Pousão, Esperando o Sucesso (1882, Museu Nacional de Soares dos Reis)**
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* A pintura de Caroto já por aqui passou em 29 de Julho de 2012, acerca de «Brincar».
** A pintura de Pousão já por aqui passou em 30 de Março de 2009, num post intitulado «Esperando o Sucesso».

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Movimento

Giacomo Balla, Dinamismo di un cane al guinzaglio (1912)
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«Indeed, all things move, all things run, all things are rapidly changing. A profile is never motionless before our eyes, but it constantly appears and disappears. On account of the persistency of an image upon the retina, moving objects constantly multiply themselves; their form changes like rapid vibrations, in their mad career. Thus a running horse has not four legs, but twenty, and their movements are triangular.»
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quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Afinidades XI

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Achei piada a este biombo de Maud Earl (1863-1943), que me fez lembrar o da sua contemporânea Aurélia de Souza (1866-1922), que já aqui andou no blogue há mais de seis anos:

História de Coelhos (c. 1909, Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio)

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Heinrich Kühn

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Carl Christian Heinrich Kühn (1866-1944) foi um fotógraffo austro-germânico e um pioneiro da fotografia.
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Brother and Sister (c. 1906, The J. Paul Getty Museum, Los Angeles)
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On a Meadow in Birgitz (Hans and Mary Sitting) (c. 1908, The Museum of Fine Arts, Houston)
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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Das cores e do Outono

Emil Nolde, Autumn Evening (1924, Museo Nacional Thyssen-Bornemisza)
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«There is silver blue, sky blue and thunder blue. Every colour holds within it a soul, which makes me happy or repels me, and which acts as a stimulus. To a person who has no art in him, colours are colours, tones tones...and that is all. All their consequences for the human spirit, which range between heaven to hell, just go unnoticed.»
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sexta-feira, 6 de outubro de 2017

De um passeio a Moura

Convento do Carmo



Porta com uma cruz da Ordem de Malta

O Castelo (e amanhã é Dia dos Castelos)

Ruínas do Convento de Nossa Senhora da Assunção, que ficam no Castelo
 
Barragem do Alqueva

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Fomos almoçar a um restaurante chamado O Túnel, que recomendo - comi umas favas guisadas com enchidos e hortelã marvilhosa.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Viv'a República!

Moura Girão, Viva a República (1910)
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E porque ontem foi dia do animal, lembramos um artigo de Santos Tavares sobre o pintor Moura Girão, publicado na revista Brasil-Portugal, em 1901. O autor visitou o atelier do artista na Cruz de Pedra (partilhado com o pintor Galhardo) e relatava que Moura Girão se recusava a olhar para os bichos como alimento, tendo afirmado:
«que nunca se banqueteara com uma aza de frango ou n’essas correrias bohemias nunca á sua meza viera uma cabidella de coelho – quero-lhes muito e não posso.» 
No atelier circulava «uma processional fileira de gallitos, impudentes, de rubra crista em riste, que pousavam a trouxe-mouxe sobre molduras sem tela, n’uma alegria orgulhosa de se sentirem em aristocráticos poleiros, oirescentes e brunidos.» 
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Cf. Santos Tavares, «Os Magnanimos. Moura Girão», in Brasil-Portugal, n.º 62, 16/8/1901.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

In Time

Apesar de ter bastantes erros, alguns inacreditáveis (ver aqui), gostei de ver o filme Knight and Day (2010) com Tom Cruise e Cameron Diaz. Achei sobretudo divertido, nomeadamente pelos diálogos e algumas cenas mirabolantes.

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Noutro género, gostei muito do filme In Time, com Justin Timerlake, sobretudo por causa do tema (o tempo fascina-me) e dos diálogos, mas tudo o resto achei muito bom, incluindo cenários e fotografia.
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Henry Hamilton: How old are you? In real time?
Henry Hamilton: I'm 105.
Will Salas: Good for you. You won't see 106, you have too many more nights like tonight.
Henry Hamilton: You are right. But the day comes when you've had enough. Your mind can be spent, even if your body's not. We want to die. We need to.
Will Salas: That's your problem? You've been alive too long? You ever known anyone who's died?
Henry Hamilton: For a few to be immortal, many must die.
Will Salas: What the hell is that supposed to mean?
Henry Hamilton: You really don't know, do you? Everyone can't live forever. Where would we put them? Why do you think there are time zones? Why do you think taxes and prices go up the same day in the ghetto? The cost of living keeps rising to make sure people keep dying. How else could there be men with a million years while most live day to day? But the truth is... there's more than enough. No one has to die before their time. If you had as much time as I have on that clock, what would you do with it?
Will Salas: I'd stop watching it. I can tell you one thing. If I had all that time, I sure as hell wouldn't waste it.
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E nem sabia que o Justin Timberlake era actor, pois só o conhecia como cantor:

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Multicolor como a Opala

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«Formées de ce qui fait le mérite des pierreries les plus précieuses, elles ont offert à la description des difficultés infinies; car en elles se trouve le feu subtil de l'escarboucle, l'éclat purpurin de l'améthyste, le vert de mer de l'émeraude; et toutes ces teintes y brillent, merveilleusement fondues. Parmi les auteurs, les uns ont comparé l'effet général des opales à l'arménium, couleur employée par les peintres; les autres, à la flamme du soufre qui brûle, ou à celle d'un feu sur lequel on jette de l'huile.»
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James McNeill Whistler, Crepuscule in Opal Trouville (1865)
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Henri Fantin-Latour, Narcisses in an Opaline Glass Vase (1875)
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William Baziotes, Opalescent (1962)
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René Lalique, Carnation brooch (c. 1900-1902)
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Opal (Steven Universe)