A história da ermida de Nossa Senhora do Monte (ou de S. Gens) remonta à conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques, em 1147. Conta-se que entre as hostes cristãs vinham quatro eremitas de Santo Agostinho, a quem foi oferecido um local para se instalarem, no lugar «onde havia, em grande adoração, debaixo de um alpendre, a cadeira de S. Gens» - lendário bispo de Lisboa e um dos mártires do Cristianismo. Esta cadeira era aquela em «que elle costumava prègar, & doutrinar as suas ovelhas» (Santa Maria, 1707, 55).
Nesse lugar, em 1148, os eremitas construíram um eremitério, com uma ermidinha ao pé, onde foi colocada a cadeira, considerada milagrosa, por facilitar os partos. Quanto à localização desse eremitério, Frei Agostinho de Santa Maria (1707, 55) fala de um «lugar, a que ainda hoje chamão o Almocovar, aonde saõ os fornos do tijollo». Mário Ribeiro sugere que ficava «nas faldas do escarpado monte de S. Gens, pouco mais ou menos onde está agora a rua do Terreirinho» (Ribeiro, 1939, 50). No Guia de Portugal refere-se que esse eremitério ficava nas «raízes do monte, às Olarias» (Santana, 1979, 295).
Acontece que o lugar original não era o ideal para os eremitas, pelo que estes receberam uma doação das terras, no alto do monte vizinho, onde foi fundada nova ermida, em 1243:
«Compadecida hua nobre Senhora chamada D. Susana, do grande discomodo, que os Religiosos padeciaõ, (em hu sitio todo encovado, doentio, &tam distante da Cidade, que custava muyto aos moradores della o poderemse aproveitar da sua doutrina como desejavaõ) lhe fez doação do monte q lhe ficava iminente, & de todas, as terras circumvesinhas a elle. Para este sitio se passáraõ,& nelle começárão a levantar alguas cellas (...). Vinte & oito annos estiveraõ em o Monte. Tambem esta Cafa teve o titulo de S. Gens; & para esta Cafa trouxeraõ os Religiosos a sua cadeira, em que elle em sua vida se sentava a fazer praticas aos seus subditos; a qual ainda hoje se vè no alpendre da Casa da Senhora do Monte» (Santa Maria, 1707, 56).
Foram construídas celas e deu-se ao novo lugar o nome de Eremitério de S. Gens, sendo construída uma cisterna. Desta segunda casa, partiram depois os eremitas para o futuro Convento da Graça, construído num monte próximo, em 1271 (Júnior, 1946, 49-51).
A ermida do séc. XIII, continuou a merecer veneração, permanecendo sob a alçada dos monges de Santo Agostinho. Contudo, foi arrasada pelo Terramoto de 1755, que porém não destruiu a cadeira. Em 1757, fez-se a nova ermida, sob o encargo do arquitecto Honorato José Cordeiro.
Esta ermida, que ainda hoje existe, é possuidora de uma localização que permite uma bela vista sobre Lisboa:
«Quem quiser gozar uma das mais lindas vistas da nossa querida Lisboa, não tem mais do que subir a calçada da Mouraria, travessa do Jordão (escadinhas), quebrar à esquerda o largo das Olarias, subir, à direita, a íngreme calçada do Monte e, chegando ao topo, virar à esquerda, de onde, consoante disse acima, se desfruta um lindíssimo panorama da nossa Lisboa (...)» (Júnior, 1955, 49).
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Bibliografia:
JÚNIOR, Henrique Marques, «A Ermida de Nossa Senhora do Monte e S. Gens: esbôço monográfico», in
Olisipo, Ano IX, nº 33, Janeiro de 1946, pp. 49-53 (disponível online na
Hemeroteca Digital).
RIBEIRO, Mário de Sampayo, «A Igreja e o Convento de Nossa Senhora da Graça», in
Olisipo, Ano II, nº 5, Janeiro de 1939, pp. 47-55 (disponível online na
Hemeroteca Digital).
SANTA MARIA, Frei Agostinho de,
Santuário Mariano e História das Imagens Milagrosas, 1.º Tomo, 1707 (disponível online no
Archive).
SANTANA, Dionísio (ed.), Guia de Portugal I. Generalidades. Lisboa e Arredores, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian. 602-603 (1.ª ed. 1924, dirigida por Raul Proença).