sábado, 30 de junho de 2012

O ano de 1989


Jivya Soma Mashe, Danseurs Tarpa autour d'un musicien (2003, Stiftung Museum Kunst Palast, Düsseldorf).
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«A simetria perfeita entre a queda do muro da vergonha e o desaparecimento da natureza ilimitada só não é vista pelas ricas democracias ocidentais. De fato, os socialismos destruíram ao mesmo tempo seus povos e seus ecossistemas, enquanto os do Ocidente setentrional puderam salvar seus povos e algumas de suas paisagens destruindo o resto do mundo e jogando os outros povos na miséria. Dupla tragédia: os antigos socialismos pensam poder remediar seus dois problemas imitando o Oeste; este acredita ter escapado aos dois e poder, na verdade, ensinar lições enquanto deixa morrer a Terra e os homens. Acredita ser o único a conhecer o truque que permite ganhar sempre, justamente quando talvez tenha perdido tudo.
Quer sejamos anti-modernos, modernos ou pós-modernos, somos todos mais uma vez questionados pela dupla falência do miraculoso ano de 1989. (...)».
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Bruno Latour (1994). Jamais fomos modernos. Ensaio de Antropologia Simétrica. Rio de Janeiro : Edirora 34, pp. 14-15.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Art Deco no Chiado

António Soares, Retrato da irmã do artista (1936, MNAC).
Ernesto Canto da Maia, Adão e Eva (1929-1939, MNAC).
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«O MODERNISMO FELIZ: ART DÉCO EM PORTUGAL. PINTURA; DESENHO; ESCULTURA, 1912-1960»
«O estilo Art Déco, designação que só surge nos anos 60, ou Estilo 1925, como também é conhecido (em apropriação da designação da magna Exposição das Artes Decorativas e Industriais Modernas realizada em Paris naquela data), conhece, num contexto atual de crise, um renovado interesse mundial.
Congregando, eclética e decorativamente, as heranças das vanguardas artísticas dos começos do século (do Fauvismo, Cubismo, Futurismo, Expressionismo e, até, do Abstracionismo) aliadas a sugestões vindas dos Movimentos Decorativos Modernos (como a Secessão Vienense, os grafismos francês e germânico de 1900 ou os Ballets Russes), o Art Déco foi o primeiro estilo global e universal que o Mundo conheceu, aspirando a constituir-se como Arte Total (inspiração de vida), tal como na proposta pioneira de Wagner no século XIX, alargando-se a todas as expressões artísticas e a todos os aspetos da vida quotidiana e expandindo-se, ao longo dos Anos 30, dos horizontes franceses ao resto da Europa, Estados Unidos, América do Sul, África, China, Austrália e Japão.
A promessa estética de felicidade nele contida, antídoto contra o trauma da I Guerra Mundial, foi também paliativo contra a crise económica dos Anos 30, e o movimento perdurou até à II Guerra Mundial.
Em Portugal, o Art Déco projetou-se, igualmente, com excelente pujança. Com efeito, uma parte muito substancial dos artistas portugueses do 1º e 2º Modernismos foram praticantes altamente empenhados deste gosto que, como nos outros países, renovou a totalidade dos mais diversos aspetos da vida quotidiana – e o próprio Estado Novo viu neste Movimento um veículo eficaz de propaganda e afirmação de poder.
A efemeridade do 'Futurismo' português e, com ela, a debilidade da vanguarda entre nós, a longa duração e isolamento do Estado Novo, ditatorial e conservador, a longa vida de muitos dos artistas-protagonistas daquele modernismo feliz, fez do Estilo Art Déco uma fonte de oposição ao apreciado naturalismo oitocentista e, como tal, o garante generalizado da sobrevivência do próprio Modernismo, perdurando em Portugal até cerca de 1960.
A presente exposição sobre o estilo Art Déco em Portugal permite uma releitura renovada e inovadora do nosso fenómeno Modernista, e, maioritariamente, daquele gosto que, originalmente, se estendeu do domínio do desenho às restantes expressões artísticas ditas 'maiores', como a Pintura, a Escultura e a Arquitetura, mas também ao grafismo e publicidade, à cenografia, ao cinema, às artes da decoração e, finalmente, à própria vida quotidiana e suas aspirações modernas de cosmopolitismo e felicidade».
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Rui Afonso Santos, Comissário.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Tríptico de Nossa Senhora da Misericórdia



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«Exposto integralmente pela primeira vez, após um restauro total que demorou vários anos (...).
Em 1905, o historiador Eberhar von Bodenhausen atribuiu o Tríptico de Nossa Senhora da Misericórdia a Jan Provoost (Mons, 1462/5 - Bruges, 1529), um dos mais importantes pintores renascentistas da Flandres, Cavaleiro do Santo Sepulcro, amigo íntimo de Dürer e por ele retratado duas vezes.
Depois de um longo e complexo trabalho de conservação nos painéis laterais deste tríptico, o Museu Nacional de Arte Antiga tem agora a possibilidade de apresentar ao público, na sua forma completa, um dos mais importantes conjuntos da sua colecção de pintura flamenga.
Graças às técnicas de reflectografia tornou-se possível conhecer o desenho subjacente à pintura, comprovando, através de estudos comparativos, a atribuição do trípitico a Provoost, apoiada há mais de um século pela maioria da crítica nacional e internacional.
A exposição revela ainda dois elementos essenciais sobre esta obra, adquirida em 1876 pela Academia Real de Belas-Artes a Agostinho de Ornelas, diplomata originário da Madeira.
No recibo desta transacção, pode ler-se que a pintura provém da Capela de São João de Latrão, na Madeira, e não da Misericórdia do Funchal, como supunha a historiografia oficial.
A iconografia das representações principais do tríptico respeita as vontades expressas no testamento do rico mercador e produtor de açúcar, Nuno Fernandes Cardoso, e de sua mulher, Leonor Dias, que terão mandado edificar a Capela de S. João de Latrão, em 1511, nas suas terras de Gaula.
O mesmo documento permite datar a encomenda da pintura entre 1512 e 1515, tornando este tríptico na mais antiga obra documentada de Jan Provoost».
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Exposição no Museu Nacional de Arte Antiga (22 de Junho a 16 de Setembro de 2012).

Varinas


Amadeu Ferrari, Varina… beira do Tejo (Câmara Municipal de Lisboa).
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De mão na anca,
descompõem à freguesa.
Atrás da banca,
chamam-lhe cosma(?) e burguesa.

Mas nessa voz,
como insulto à portuguesa,
há o sal de todos nós,
há ternura e há beleza.

Do alto mar
chega o pregão que se alastra:
têm ondas no andar
quando embalam a canastra.

Minha varina,
chinelas por Lisboa.
Em cada esquina
é o mar que se apregoa.

Nas escadinhas
dás mais cor aos azulejos
quando apregoas sardinhas
que me sabem como beijos.

Os teus pregões
são iguais à claridade:
caldeirada de canções
que se entorna na cidade.

Cordões ao peito,
numa luta que é honrada.
A sogra a jeito
na cabeça levantada.

De perna nua,
com provocante altivez,
descobrindo o mar da rua
que esse, sim, é português.


São as varinas
dos poemas do Cesário
a vender a ferramenta
de que o mar é o operário.

Minha varina,
chinelas por Lisboa.
Em cada esquina
é o mar que se apregoa.

Nas escadinhas
dás mais cor aos azulejos
quando apregoas sardinhas
que me sabem como beijos.

Os teus pregões
nunca mais ganham idade:
versos frescos de Camões
com salada de saudade.
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Ary dos Santos.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Berthe Morisot


Berthe Morisot, Portrait de Madame Pontillon, the artist's sister at a window (1869, National Gallery of Art, Washington).
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«Born into a bourgeois, but rather open, family, Berthe et her sisters took private drawing classes while growing up : in the 19th century, the Ecole des Beaux-Arts was still out of bounds for women. The young girls executed their first copies at the Louvre in 1858 : Calvary andThe Meal at Simon’s, after Veronese, reveal Berthe’s undeniable talent. However, it is with Corot, who initiated her into the technique of outdoor painting, that she would develop her taste for light effects as of the 1860’s (View of Tivoli, 1863). This decade, which marked her entrance to the Salon and set the foundation for her art, is (…) illustrated here with (…) one work, the Portrait of Madame Pontillon (…). We see already Berthe’s audacity and modernity asserted in a free, light and visible touch, the transparency of the matter, the presence of natural light and the clarity of the palette. The extraordinary treatment of the white fabrics, worthy of a Whistler, reflect a rare mastery, impressionist before her time. (…)»
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Sylvie Blin (2012) - exposição Berthe Morisot, em Paris, no Musée Marmottan Monet (8/3 a 29/7/2012).

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Um dia de calor

Alma Tadema, Ninety-Four Degrees in the Shade (1876, Fitzwilliam Museum, Cambridge).
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«La chaleur dilate les corps. C'est pourquoi les jours sont plus longs en été qu'en hiver».
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domingo, 24 de junho de 2012

Nascimento de São João Baptista




Rogier Van der Weyden, The Birth of Saint John the Baptist (1455, Staatliche Mussen, Berlim).

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Nesta pintura, de Van der Weyden (ca. 1400-1464), há várias planos de interpretação, que se lêem em profundidade. Numa porta ao fundo, à esquerda, vemos uma fila de mulheres que vem do exterior e se dirige para o quarto. Nesse quarto, plano intermédio, vemos Santa Isabel numa cama, depois de ter dado à luz, a ser auxiliada por uma outra mulher. Em frente, em primeiro plano, junto de um arco gótico, está a Virgem Maria, já grávida de Jesus, que tem São João, recém-nascido, ao seu colo. Do lado direito, sentado, está São Zacarias, pai de São João.

O relato bíblico sobre o nascimento do Profeta pode ler-se no Evangelho de São Lucas. Os pais de São João, eram São Zacarias - um sacerdote judeu - e Santa Isabel. Não tinham filhos e já haviam passado da idade de tê-los. Durante uma jornada de trabalho servindo no Templo de Jerusalém, ele foi escolhido por sorteio para oferecer incenso no Altar Dourado no Santo dos Santos. OArcanjo Gabriel apareceu-lhe e anunciou que ele e sua esposa iriam dar à luz uma criança e que deveriam chamá-lo de João. Porém, por não ter acreditado na mensagem de Gabriel, São Zacarias ficou mudo até o nascimento de seu filho. Os seus parentes quiseram então dar-lhe o nome do pai, mas este, sem poder falar, escreveu: «Seu nome é João» e sua voz voltou.

O nascimento de São João Batista, festejado no dia de 24 de junho, ocorre três meses depois da celebração da Anunciação, em 25 de março, e seis meses antes do Natal, que celebra o nascimento de Jesus. A explicação mais provável do motivo pelo qual a festa se realiza em 24 de junho (e não a 25) está no modo de contagem romano, que procedia de trás para frente, a partir das "calendas" (primeiro dia) do mês seguinte. O Natal era "o oitavo dia das calendas de janeiro" (Octavo Kalendas Januarii). Consequentemente, o nascimento de São João foi colocado no "oitavo dia antes das calendas de Julho". Porém, como junho tinha apenas 30 dias, a festa ficou no dia 24 de junho.

O Dia de São João é um dos mais antigos festivais do cristianismo, já aparecendo no concílio de Agde, em 506 d.C.. O significado da festa caindo por volta do solstício de Verão é considerado como significativo, relembrando as palavras do próprio João Batista sobre Jesus: «É necessário que ele cresça, e que eu diminua».

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In Wikipedia e ver também o Google Art Project.

sábado, 23 de junho de 2012

Celebrando o Verão


Barend Cornelis Koekkoek, Summer Wooded Landscape with a Castle (1851, in Gandalf's Gallery).
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«Spring flew swiftly by, and summer came; and if the village had been beautiful at first, it was now in the full glow and luxuriance of its richness. The great trees, which had looked shrunken and bare in the earlier months, had now burst into strong life and health; and stretching forth their green arms over the thirsty ground, converted open and naked spots into choice nooks, where was a deep and pleasant shade from which to look upon the wide prospect, steeped in sunshine, which lay stretched out beyond. The earth had donned her mantle of brightest green; and shed her richest perfumes abroad. It was the prime and vigour of the year; all things were glad and flourishing».
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Charles Dickens, Oliver Twist (in The Dutchess).

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Simplicidade


Charles Courtney Curran, Lotus Lilies (1888, Terra Foundation for American Art).
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Isaac Levitan, Water Lillies (1895)
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«Simplicity of life, even the barest, is not a misery, but the very foundation of refinement; a sanded floor and whitewashed walls and the green trees, and flowery meads, and living waters outside; or a grimy palace amid the same with a regiment of housemaids always working to smear the dirt together so that it may be unnoticed; which, think you, is the most refined, the most fit for a gentleman of those two dwellings?» 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Dando as boas vindas ao Verão!

Edward Robert Hughes, Midsummer Eve (1908).
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«Summer, every single moment is worth it's weight in gold
Summer, it's like the world's best story and it's waiting to be told».
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Dan Povenmire e Jeff "Swampy" Marsh, Phineas and Ferb.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Natureza e vida

Silva Porto, Paisagem (c. 1875-1879).
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«There is no wealth but life. Life, including all its powers of love, of joy, and of admiration. That country is the richest which nourishes the greatest numbers of noble and happy human beings; that man is richest, who, having perfected the functions of his own life to the utmost, has also the widest helpful influence, both personal, and by means of his possessions, over the lives of others».
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John Ruskin (1860).

terça-feira, 19 de junho de 2012

Os caminhos e a viagem


Asher Brown Durand, The beeches (1845, uploaded by Gandalf Gallery)
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«The journey is the reward».
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Chinese Proverb.

domingo, 17 de junho de 2012

Alpedrinha

José Serra da Mota, A serra (Alpedrinha) (1927, MNAC).
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Luciano Santos, Campos de Alpedrinha (1939, MNAC).
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 José Barata Moura, Pelourinho de Alpedrinha (1978, Museu Francisco Tavares Proença Júnior).
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Nunca fui a Alpedrinha, mas os meus antepassados eram de lá.
O meu avô, José de Campos Rodrigues, era filho de José Maria Campos, por sua vez filho de Joana Rita Pais (do Amaral), que nasceu em Alpedrinha, em 1841. O avô dela, José Pedro Paes do Amaral, era também dessa terra e era filho de Leonardo Paes do Amaral, nascido em 1730, em Fundões (Viseu), e que se estabeleceu em Alpedrinha porque casou com uma alpetrinense (informações transmitidas por Lídia Campos Rodrigues).
Gosto muito de conhecer os meus antepassados e talvez um dia visite Alpedrinha. Para já ficam as pinturas que encontrei no Matriznet e uma citação que vem a propósito:

«The past is not dead, it is living in us, and will be alive in the future which we are now helping to make.» 
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sábado, 16 de junho de 2012

Paisagem e natureza

 
Karin Jurrick, Four o four.
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«The observation of nature is part of an artist's life, it enlarges his form [and] knowledge, keeps him fresh and from working only by formula, and feeds inspiration».
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quarta-feira, 13 de junho de 2012

Santo António

Santo António (séc. XVII-XVIII, Museu Nacional de Arte Antiga)
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«Nasceu em Lisboa, no primeiro século da nossa nacionalidade, tendo falecido em Pádua em 1231. Foi certamente o primeiro e mais importante autor da pré-escolástica franciscana no espaço europeu, tendo recebido a sua formação cultural nas escolas e mosteiros portugueses, nomeadamente em Santa Cruz de Coimbra, num quadro muito marcado pelo pensamento de Santo Agostinho.
(...)
Uma das marcas relevantes da espiritualidade franciscana, que de algum modo se pressente no Santo português, é o entendimento do mundo do homem no quadro de uma interioridade que não o fecha sobre si próprio, estimulando um movimento de abertura e de relação solidária a tudo o que o cerca, no âmbito de um já muito vincado optimismo na valorização da criação como obra de Deus. (...)
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Excerto do texto de Pedro Calafate sobre «Sto. António de Lisboa».

terça-feira, 12 de junho de 2012

Arte e realidade


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«Tout art est un effort pour reproduire en perfectionnant. L’art primitif essayait d’embellir la réalité; il la faussait souvent; l’art moderne essaie de l’approfondir.».
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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Paisagem e detalhes


Lev Kamenev, Landscape (1861, uploaded por Gandalfgallery).
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«Notre esprit se réjouit davantage quand nous voyon en peinture des pays charmants, des ports, des scènes de pêche, de chasse, des nageurs et les jeux des gens de la campagne, des prés fleuris et les frondaisons des arbres».
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Alberti,
citado por Daniel Arasse (1996)


domingo, 10 de junho de 2012

Tricentenário de Camões em 1880

«Na Igreja das Chagas» e «Trinta Anos depois», ilustração de Columbano Bordalo Pinheiro e poema de Gonçalves Crespo, in O Ocidente, 10 de Junho de 1880.
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«A celebração do terceiro centenário de Camões (…) ficaria em todo o caso assignalado como uma data memorável e como um documento que ennobrece a geração que soube inspirar-se n’um alto sentimento de justiça para honrar o nome que symbolisa a idéa da nacionalidade com as suas tradições gloriosas e as suas aspirações futuras. 
Ella ajuda a insufflar na consciência popular a porção d’ideal que lhe falta n’este momento histórico (…). 
N’este momento Vasco da Gama e o seu cantor repousam ambos a par sob as abobadas dos Jeronymos – que é a epopêa da gloria d’ambos traduzida em pedra (…). 
O tricentenário de Camões vem reatar o fio da solidariedade nacional e fazer-nos compreender o valor da nossa força, dando-nos ao mesmo tempo a compreensão dos nossos destinos, ensinando ao povo como é que, pela eloquencia sublime dos «Lusiadas», entramos hoje na corrente do espirito europeu». 
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Caricaturas de Rafael Bordalo Pinheiro, in O António Maria, 10 de Junho de 1880.

sábado, 9 de junho de 2012

Flores

 William Herbert Allen, Portrait of a Girl amongst Lilies
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Lilla Cabot Perry, Cherry blossoms (1911).
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Elisabeth Sonrel, Our Lady of the Cow Parsley (de Old Paint).
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«I know a little garden close
Set thick with lily and red rose,
Where I would wander if I might
From dewy dawn to dewy night.
And have one with me wandering.»
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sexta-feira, 8 de junho de 2012

Naturalismo


Paysanne démêlant de la laine (1870 e 1875, Fondation E. G. Bürhrle).
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«(...) naturalismo significa um olhar para o presente, um voltar de costas à História».
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Robert L. Herbert (2002),
citado por Raquel Henriques da Silva (2010).

quinta-feira, 7 de junho de 2012

A Custódia de Belém




Gil Vicente, Custódia de Belém (1506, MNAA).
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Em ligação com o Prosimetron, no Dia de Corpo de Deus, deixo registada uma das mais belas obras de arte portuguesas, juntamente com um excerto de um texto de Brito Rebelo, de 1880, disponível na Hemeroteca Digital:

«Vasco da Gama na sua segunda viagem á India, impoz respeito ao regulo de Quiloa em Africa e d’elles recebeu como primeiras pareas mil e quinhentas maticaes de ouro, que continuariam a ser pagos anualmente. Recebido esse tributo pelo rei D. Manuel, resolveu este offertal-o ao rei dos reis, segundo a expressão consagrada. 
Para esse fim incumbiu a Gil Vicente, ourives de sua irmã, a notável rainha D. Leonor, viúva de D. João II, a feitura de uma custodia. Gosava o artista de merecida reputação na sua arte (…). 
Outro homem notável na arte que era ao mesmo tempo um tanto poeta, escriptor correcto, musico e desenhador, foi o autor do plano. Era este, Garcia de Resende. (…) 
A custodia dos Jeronymos em Belem (…) é uma peça de ouro que pesa aproximadamente trinta e dois marcos (…). 
Distinguem-se n’ella três partes: o pé, o corpo e a cúpula. O pé (…) compõe-se de uma base de uma figura proximamente hexagonal (…). 
Sobre o pé ergue-se o corpo da custodia (…). De cada lado levantam-se duas altas peças, sobremontados por baldaquins graciosos, nos quaes nichos se deparam varias estatuetas de anjos tocando instrumentos. 
Entre estas peças, logo na base, e onde o corpo da custodia assenta sobre o pé, veem-se ajoelhados (…) os apóstolos (…). Por sobre eles (…) vê-se a luneta, à qual serve de corôa uma espécie de docel, ornado superiormente de serafins, e que está colocado por baixo da cúpula. 
Esta (…) é encimada por uma elegante cruz. Dentro d’ella e na parte mais elevada descobre-se um busto coroado (…) representando o Padre Eterno, e em outro compartimento inferior a este, suspensa do alto, (…) uma pomba (…), symbolo do Espirito Santo. 
(…) 
Tudo é admirável n’este artefacto, mas nada se compara ao grupo dos apóstolos que é surpreendente (…). 
(…) 
A inscripção ao pé da custodia diz-nos a data da sua construção: O muito alto principe e poderoso Senhor Rei Dom Manuel I a mandou fazer do ouro I das páreas de Quiloa. Aquabou e CCCCCVI (…). 
É sabido que a custodia figurou na Exposição universal de Pariz de 1867, na secção retrospectiva da arte. Alli causou a mais extraordinária surpresa (…).
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Brito Rebelo, «A Custódia do Convento dos Jerónimos» in Ocidente, Ano III, nº 64, 65 e ss. Lisboa: 1880.

Corot e o detalhe



Jean-Baptiste-Camille-Corot,  Campagne de Naples (1840-45) e Bateau près d'une rivière (c.1862, Fondation Collection E. G. Bührle Zurique).
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Corot é um dos meus pintores preferidos e uma das razões porque fico fascinada com as suas obras é pela maneira como pintava a folhagem das árvores, que dava uma sensação onírica às suas paisagens. Há uns anos, no Museu Gulbenkian, cheguei a ficar emocionada, de uma forma inexplicável, perante uma pequena pintura de Corot. Por um lado esta questão remete-me para um texto de James Elkins sobre «Pictures and Tears: A history of people who have cried in front of paintings», que trata da emoção que podemos ter perante uma obra de arte. Contudo, o texto de Elkins refere-se a situações mais objectivas, onde os motivos da emoção são explicáveis. No meu caso, contudo, é apenas um detalhe que corresponde à maneira como Corot representava a folhagem das árvores, uma espécie de segunda assinatura do artista nas suas obras. Daqui transito para o livro de Daniel Arasse, intitulado Le Détail, onde, a dado momento, ele diz: «(...) il est bon de revenir à une question laissée en suspens: au ras du tableau, que cherche son spectateur et qu'y trouve-t-il? Qu'est-ce qui le pousse ainsi à se rapprocher de la peinture, à y faire le détail? Et que se passe-t-il quand, soudainement ou progressivement, le spectateur s'attache au détail ou quand un détail l'apelle?»

terça-feira, 5 de junho de 2012

Ecologia e Naturalismo

John Constable, Wivenhoe Park, Essex (1816, Gandalf's Gallery).
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John Constable escreveu: «Still, I should paint my own places best; painting is but another word for feeling». A propósito deste pintor deverá falar-se de Romantismo, mas também de Naturalismo, movimento artístico oitocentista que se pode ligar a uma nova percepção da importância da natureza, que apenas começava a ser ameaçada pelo avanço da industrialização e da urbanização.
Em 2010, Raquel Henriques da Silva asseverava que «(…) há que referir também que a reivindicação do amor pelo campo, através de paisagens e gentes identificáveis, foi, no século XIX uma espécie de anti-cultura que se opunha ao crescimento imparável das cidades, com o seu cortejo de novas chagas sociais. Aquilo que, durante grande parte do século XX, foi considerado uma prática nostálgica e conservadora (porque se entendia que era nas cidades que o progresso se encontrava) pode hoje ser valorizado como uma ecologia, crítica da pujante economia capitalista para a qual a vida camponesa, bem como os seus valores, deveriam ser submetidos às exigências do mercado».

domingo, 3 de junho de 2012

Santíssima Trindade

séc. XIV-XV, Museu de Évora
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séc. XV - MNAA
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1450-1500, MNAA
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Entre as temáticas abordadas pela escultura portuguesa Medieval e Moderna, uma das que mais me impressiona é a da Santíssima Trindade. Gosto sobretudo das esculturas com a figura entronizada de Deus, tendo junto de si Cristo Crucificado e uma pomba que evoca o Espírito Santo. Devo recordar que na pintura há exemplos notáveis, nomeadamente no Renascimento italiano e com Masaccio (1401-1428) (1425, Santa Maria Novella, Florença). Das esculturas que se encontram em Portugal, retirei alguma informação do site da Matriznet. A primeira, proveniente do Convento de São Domingos, transmite a memória do Cristo Pantocrator, dominante nos ciclos narrativos dos tímpanos e portais românicos. Em contraste com a figura rígida do Pai, o Filho tem o corpo levemente curvado, que representa a posição natural do corpo sacrificado e abandonado na hora da morte - o que se coaduna com a uma humanização de Cristo, característica da cultura Gótica. A segunda é uma placa de alabastro esculpida em baixo-relevo representando a Santíssima Trindade, proveniente de Nothingam (Inglaterra). Nesta, infelizmente, a pomba, símbolo do Espírito Santo e que completaria o conjunto, está hoje perdida. Destaca-se a posição das mãos de Deus, em benção, que se diferenciam das mãos nas esculturas portuguesas, em que está a segurar a Cruz. A terceira é um exemplar que foi executado em Coimbra, que era nesta época um importante centro de produção escultórica. Desta última aprecio sobretudo a expressão de bonomia de Deus que é significativa de uma oficina regional, em que os escultores tinham uma maior liberdade na interpretação dos esquemas iconográficos.
Sobre este assunto há alguma bibliografia, que eu própra não conheço, mas que quero conhecer, nomeadamente o texto de Sérgio Guimarães de Andrade (1946-1999), «Santíssima Trindade», in O Sentido das Imagens. Escultura e Arte em Portugal 1300-1500, Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga, 2000.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

No Dia da Criança

Karin Jurick, Sunshine scribbles.
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Poesia 
é brincar com as palavras 
como se brinca 
com bola, papagaio, pião. 
Só que 
bola, papagaio, pião, 
de tanto brincar 
se gastam. 
As palavras não: 
quanto mais se brinca 
com elas, 
mais novas ficam. 
Como a água do rio 
Que é água sempre nova. 
Como cada dia 
que é sempre um novo dia. 
Vamos brincar de poesia? 
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