terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Fantasia sobre Fausto

Pintura de Mariano Fortuny, Fantasia sobre Fausto.
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Esta obra, tal como outras da mesma época, inscreve-se na tradição burguesa da prática musical. Era costume entre as classes cultivadas o hábito tocarem música em família, chegando a criar reuniões para formar um público. Toda a pintura do tempo vai utilizar o tema do piano, ligando-o com relações de intimidade, de cumplicidade com aqueles que lhe dão uso.
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Texto de Margarida Elias.
Bibliografia: Jean-Jacques Levêque, Fantin-Latour.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O Silêncio II

Pintura de Fantin-Latour, White cup and Saucer (1864, Fitzwilliam Museum, London).
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«(...) Une nature morte n'est jamais qu'une mélodie du monde visible. Elle pose le problème du silence dans le monde de la peinture (...).»

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Jean-Jacques Lévêque.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A beleza interior






Pintura de Hendrick Avercamp, Paisagem de Invermo (Szépmüvészeti Múzeum, Budapest).
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«Se o artista é o sacerdote da "beleza", esta deve ser procurada, segundo o princípio do valor interior (...). A "beleza" só pode ser medida pela escala da Grandeza e da Necessidade Interior (...).
É belo o que procede de uma necessidade interior da alma. É belo o que é belo interiormente.»
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Kandinsky.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Eu hei-de dar ao Menino

Presépio de Machado de Castro, Sagrada Família (ca.1770-80, Museu de Aveiro).

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Eu hei-de dar ao Menino
Uma fitinha pró chapéu;
E ele também me há-de dar
Um lugarzinho no céu.

Olhei para o céu,
Estava estrelado.
Vi o Deus Menino
Em palhas deitado.
Em palhas deitado,
Em palhas estendido,
Filho duma rosa,
Dum cravo nascido!

No seio da Virgem Maria
Encarnou a divina graça;
Entrou e saiu por ela
Como o sol pela vidraça.

Arre, burriquito,
Vamos a Belém,
Ver o Deus Menino
Que a Senhora tem;
Que a Senhora tem,
Que a Senhora adora.
Arre, burriquito
Vamos lá embora.
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Canção de Natal.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Presépio

Pintura de Murillo, Sagrada Família com São João Baptista.
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O objecto do culto, da admiração, do entusiasmo, do enlêvo dos pequenos do meu tempo era o velho presépio, tão ingénuo, tão profundamente infantil, tão cheio de coisas risonhas, pitorescas, festivas, inesperadas.
Era uma grande montanha de musgo, salpicada de fontes, de cascatas, de pequenos lagos, serpenteada de estradas em ziguezague e de ribeiros atravessados de pontes rústicas.
Em baixo, num pequeno tabernáculo, cercado de luzes, estava o divino bambino, louro, papudinho, rosado como um morango, sorrindo nas palhas do seu rústico berço, ao bafo quente da benigna natureza representada pela vaca trabalhadora e pacífica e pela mulinha de olhar suave e terno. A Santa Família contemplava em êxtase de amor o delicioso recém-nascido, enquanto os pastores, de joelhos, lhe ofereciam os seus presentes, (...).
A grande estrela de papel dourado, suspensa do teto (...), guiava os três magos, que vinham a cavalo (...). Melchior trazia o ouro, Baltasar a mirra, e Gaspar vinha muito bom com o seu incenso (...).
Atrás dêles seguia a cristandade em pêso que se figurava descendo do mais alto monte em direcção ao tabernáculo. Nessa imensa romagem do mais encantador anacronismo, que variedade de efeitos e de contrastes! que contentamento! que alegria! que paz de alma! que inocência! que bondade!
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Ramalho Ortigão.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Little Drummer Boy

Pintura de Sandro Botticelli, A Virgem e o Menino com dois Anjos e o Jovem São João Baptista (1465-1470, Galleria dell'Accademia, Florença).

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Come they told me, pa rum pum pum pum

A new born King to see, pa rum pum pum pum

Our finest gifts we bring, pa rum pum pum pum

To lay before the King, pa rum pum pum pum, rum pum pum pum, rum pum pum pum,

So to honor Him, pa rum pum pum pum,

When we come.


Little Baby, pa rum pum pum pum
I am a poor boy too, pa rum pum pum pum

I have no gift to bring, pa rum pum pum pum

That's fit to give the King, pa rum pum pum pum, rum pum pum pum, rum pum pum pum,

Shall I play for you, pa rum pum pum pum,

On my drum?


Mary nodded, pa rum pum pum pum

The ox and lamb kept time, pa rum pum pum pum

I played my drum for Him, pa rum pum pum pum

I played my best for Him, pa rum pum pum pum, rum pum pum pum, rum pum pum pum,

Then He smiled at me, pa rum pum pum pum

Me and my drum.
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sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Ave Maria

Pintura de Rubens.
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Ave Maria
Gratia plena
Maria, gratia plena
Maria, gratia plena
Ave, ave dominus
Dominus tecum
Benedicta tu in mulieribus
Et benedictus
Et benedictus fructus ventris
Ventris tuae, Jesus.
Ave Maria, gratia plena
Maria, gratia plena
Maria, gratia plena
Ave, ave dominus
Dominus tecum
Ave Maria
Mater Dei
Ora pro nobis peccatoribus
Ora pro nobis
Ora, ora pro nobis peccatoribus
Nunc et in hora mortis
Et in hora mortis nostrae
Et in hora mortis nostrae
Et in hora mortis nostrae
Ave Maria
Ave Maria, gratia plena
Maria, gratia plena
Maria, gratia plena
Ave, ave dominus
Dominus tecum
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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Adoração dos Magos (Adeste Fidelis)

Pintura de Carlo Maratta, Adoração dos Magos (numa Grinalda) (Museu do Hermitage, São Petersburgo).
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Adeste Fideles
Laeti triumphantes
Venite, venite in Bethlehem
Natum videte
Regem angelorum
Venite adoremus
Dominum
Cantet nunc io
Chorus angelorum
Cantet nunc aula caelestium
Gloria, gloria
In excelsis Deo
Venite adoremus
Dominum
Ergo qui natus
Die hodierna Jesu,
tibi sit gloria
Patris aeterni
Verbum caro factus
Venite adoremus
Dominum
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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Pussycat Pussycat poem

"Pussycat pussycat, where have you been?"
"I've been up to London to visit the Queen."
"Pussycat pussycat, what did you dare?"
"I frightened a little mouse under her chair"
"MEOWW!"
-<>-

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Twinkle twinkle little star


Twinkle twinkle little star, how I wonder what you are?
Up above the world so high , like a diamond in the sky
When the blazing sun is gone, when he nothing shines upon,
Then you show your little light, twinkle, twinkle all the night.
Then the traveller in the dark, thanks you for your tiny spark,
He could not see which way to go, if you did not twinkle so.
In the dark blue sky you keep, and often through my curtains peep,
For you never shut your eye, 'till the sun is in the sky.
As your bright and tiny spark lights the traveller in the dark,
Though I know not what you are - twinkle, twinkle little star.
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Clear Weather After Snow at Kameyama

Pintura de Hiroshige, Clear Weather After Snow at Kameyama - Hoeido series, station 47: Kameyama (1831-1834, Hood Museum of Art, Hanover -E.U.A.).
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Of winter's lifeless world each tree
Now seems a perfect part;
Yet each one holds summer's secret
Deep down within its heart.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Hokusai

Gravura de Hokusai, Hibiscus and Sparrow (c. 1832, Museu Nacional das Artes Asiáticas-Guimet, Paris).
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At seventy-three I learned a little about the real structure of animals, plants, birds, fishes and insects. Consequently when I am eighty I'll have made more progress. At ninety I'll have penetrated the mystery of things. At a hundred I shall have reached something marvellous, but when I am a hundred and ten everything I do, the smallest dot, will be alive.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O Espelho

Pintura de Sir Edward Burne-Jones, O Espelho de Vénus (1875, Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa).
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Ó meu espelho d'aço! Muito Amigo
Que me diz as verdades francamente,
me vê doente, quando estou doente,
E sã, se sã me mostro ao seu postigo;
-
Voz que repette aquilo que eu lhe digo,
E muda, quando mudo de repente,
Olhar que me desenha Claramente,
Do meu sentir o mais fiel abrigo:
-
Mas tu, preferido Amôr! O espelho d'alma
Que reflecte a minha pura e calma -
Embaciou-te a luz d'outra paixão:
-
E hoje, se o meu olhar no teu confundo,
vejo a íris negra d'esse mar profundo
E n'ella os traços meus procuro em vão!
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Soneto de 1916, assinado «Azul»
in Espólio de Columbano Bordalo Pinheiro.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Woodpecker

Tapeçaria de William Morris, Woodpecker (1885, William Morris Gallery, Walthamstow).
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O movimento Arts and Crafts foi criado por William Morris por volta de 1860. Este artista, que iniciou a sua actividade como pintor, ligado ao grupo Pré-rafaelita, interessou-se pela «arte utilitária», nomeadamente pela arquitectura doméstica e decoração de interiores. Foi também escritor e publicista, tornando-se progressivamente num «educador do gosto». A sua influência espalhou-se pela Europa e pela América, tendo sido importante para o advento da Arte Nova.
William Morris formou, em 1861, um agrupamento de artistas que pretendia ser um «grupo operativo dinâmico» com um «programa de produções»: uma empresa que pudesse, a longo prazo, competir com a indústria tanto no plano da qualidade como dos preços. Foi a Morris, Marshall, Faulker & C., especializada no equipamento e nas decorações. A empresa foi dissolvida em 1874, mas abriu pouco depois, reformada e somente ligada a Morris, o qual se rodeou dessa vez de colaboradores mais especializados. O sucesso das suas ideias levou a que, em pouco tempo, se fundassem outras sociedades e organizações com objectivos similares que contribuíram para a revalorização das artes decorativas, as quais são genericamente incluídas no termo Arts and Crafts Movement.
A obra de Morris foi bastante influenciada pelo pensamento de Ruskin. Nascera num enquadramento social e artístico específico, caracterizado pela pouca preocupação com a qualidade das peças produzidas industrialmente, num esquema produtivo em que se desvalorizava o papel criativo. Morris desejava uma sociedade melhor, onde as máquinas não se sobrepusessem ao homem, sendo a sua utilização reduzida e restringida ao estritamente necessário para facilitar a execução dos produtos. Morris defendia o trabalho artesanal e as artes populares. Era a sua intenção que deixasse de haver uma distinção entre artistas e operários, passando ambos a colaborar activamente na realização dos objectos, num espírito idêntico ao das guildas medievais. Conforme as suas palavras: «o artesão (...) deve reencontrar-se com o artista e trabalhar lado a lado com ele».
Morris era «um apóstolo da simplicidade». De acordo com as suas ideias «a arquitectura e o mobiliário deviam ser desenhados em harmonia com a natureza dos materiais e processos de trabalho usados; a decoração das superfícies devia ser plana, nunca ilusiva». A forma dos objectos devia acompanhar a qualidade na execução, sendo a decoração correspondente à «expressão do prazer do homem no trabalho bem feito».
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Texto de Margarida Elias.
Bibliografia abreviada:
Giulio Carlo Argan, 1998; Gabriele Fahr-Becker, 2000; William Hardy, 1996; H. W. Jansen, 1992; William Morris, ed. 2003; Michel Thomas, 1985.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Amendoeiras em flor

Pintura de Van Gogh, Amendoeiras em Flor (1890, Museu Van Gogh, Amesterdão).
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My dear Theo,
I'm in a fever of work since the trees are in blossom ...
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Van Gogh, 1888.

sábado, 22 de novembro de 2008

Quillebeuf, Mouth of the Seine

Pintura de Turner (Museu Gulbenkian, Lisboa).
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(...) every nation, perhaps every generation, has in all probability some peculiar gift, some particular character of mind, enabling it to do something different from, or something in some sort better than, what has been before done (...), the greatest minds of existing nations, if exerted with the same industry, passion, and honest aim as those of past time, have a chance in their particular walk of doing something as great, or, taking advantage of former example into account, even greater and better (...).
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John Ruskin, 1900.
In C. Harrison, P. Wood e J. Gaiger, Art in Theory 1815-1900, Blackwell Publishers, 1998.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Nenúfares

Pintura de Monet, Nenúfares (1903).
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( ...) meu único mérito consiste no facto de eu me sujeitar ao instinto; foi graças a estas forças reencontradas e predominantemente intuitivas e secretas que consegui identificar-me com a criação dissolvendo-me nela (...).
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Claude Monet, citado por Karin Sagner-Düchting.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Tem cabeça, mãos, pés e coração

Pintura de Paul Klee, Tem Cabeça, Mãos, Pés e Coração.
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Outrora, descreviam-se coisas que se podiam ver neste mundo; coisas de que gostávamos ou que teríamos gostado de ver. Agora, a realidade das coisas visíveis torna-se evidente e manifesta-se, assim, a convicção de que o visível é apenas um exemplo isolado, em relação à totalidade do universo e que existem ainda muitas verdades em estado latente. Os objectos parecem, num sentido lato e múltiplo, contradizer muitas vezes as experiências racionais de ontem. É preciso lutarmos pela substancialização do ocasional.
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Paul Klee (1920).

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A Arte

Pintura de Kandinsky.
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A pintura é uma arte, e a arte, no seu conjunto, não é uma criação sem objectivos que se estilhace no vazio. É uma força cuja finalidade deve desenvolver e apurar a alma humana (...). É a única linguagem capaz de comunicar com a alma, a única que a pode compreender. (...)
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Kandinsky.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Carnation, Lily, Lily, Rose

Pintura de Sargent, Carnation, Lily, Lily, Rose (1885-1886, Tate Gallery, Londres).
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Ye Shepherds Tell Me
Ye Shep-herds tell me, tell me have you seen, have you seen
My Flora pass this way?
In shape and feature beauty's queen.
In pastoral, in pastoral array
Shepherds tell me, tell me have you seen, have you seen
My Flora pass this way?
Have you seen, tell me Shepherds have you seen, tell me have you seen
My Flora pass this way.
A wreath around her head, around her head she wore
Carnation, lilly, lilly, rose;
And in her hand a crook she bore,
And sweets her breath compose.
Shepherds tell me, tell me have you seen, have you seen
My Flora pass this way?
Have you seen, tell me Shepherds have you seen, tell me have you seen
My Flora pass this way.
The beauteous, the beauteous wreath that decks, that decks her head,
Forms her description, her description true.
Hands lily white,
Lips crimson red, and cheeks of rosy, rosy hue.
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domingo, 16 de novembro de 2008

Paris na Segunda Metade do Século XIX

Pintura de Caillebotte, Rua de Paris (1877, The Art Institute of Chicago, Chicago).
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Gustave Caillebotte (1848-1894) foi aluno de Bonnat e da Escola de Belas-Artes de Paris. Em 1873, conheceu Monet e Renoir, participando nas exposições do grupo impressionista desde 1876 até 1882. Entre outros temas, notabilizou-se pela representação de Paris renovada.
Quando Napoleão III chegou ao poder, Paris não obedecia a qualquer regra urbanística, desenvolvendo-se de forma anárquica. Foi Georges Haussmann que deu à cidade uma nova configuração. Nomeado Perfeito do Sena, entre 1853 e 1869, ocupou-se dos trabalhos de embelezamento e saneamento da cidade. A demolição de bairros permitiu-lhe criar artérias rectilíneas, gares, parques, bem como um sistema de esgotos e abastecimento de água.
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Texto de Margarida Elias.
Baseado no ABCedário do Impressionismo.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

As Mãos

Escultura de Auguste Rodin, A Mão de Deus (1896, Museu Rodin, Paris - Photo : E. & P. Hesmerg).
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A mão exprime ideias de actividade, ao mesmo tempo que de poder e de domínio. A mão esquerda de Deus é tradicionalmente ligada à justiça e a mão direita à misericórdia. Segundo Grégoire de Nysse, as mãos do homem estão relacionadas com o conhecimento, a visão e a linguagem. A mão separa o homem dos animais, e serve para diferenciar os objectos que ela toca e modela.
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Baseado em Jean Chevalier e Alain Gheerbrant.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Definição de Pintura

Pintura de Zurbarán, Natureza Morta com Laranjas, Limões e uma Rosa (1633, Norton Simon Museum of Art, Pasadena).
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We should remember that a picture - before being a war horse, a nude woman, or telling some other story - is essentially a flat surface covered with colours arranged in a particular pattern.
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Maurice Denis (1890).

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A Criação do Homem

Pintura de Michelangelo (1510, Capela Sistina).
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A criação simbolisa o fim do caos para a entrada no universo de uma certa forma, de uma ordem, de uma hierarquia.
O acto da criação no sentido lato é a energia, que organiza os primeiros dados informes; a criação é o efeito dessa energia.
Depois do acto criador, distinguem-se geralmente duas formas, uma imanente na matéria, que é a própria matéria participando da energia criadora e tendendo espontaneamente para formas sempre diferenciadas; a outra transcendente, a energia criadora que prossegue a sua obra e a sustém na existência, concebendo o mundo como uma criação contínua.
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Baseado em Jean Chevalier e Alain Gheerbrant.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Ecce Agnus Dei

Pintura de Josefa de Óbidos, Cordeiro Pascal (c. 1660-1670, Museu Regional de Évora).
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Josefa de Ayala é um dos poucos exemplos de artistas femininas na pintura ibérica do Século XVII. Nasceu em Sevilha ca. de 1630, filha do pintor Baltazar Gomes Figueira. Essa cidade era na época um dos mais importantes centros artísticos da península. Em 1636, vieram para Portugal, instalando-se em Óbidos, onde Josefa morreu em 1684. Provavelmente conheceu a obra de Zurbarán, que a inspirou nos quadros figurando o Agnus Dei. Mesmo que não a tenha conhecido directamente, as composições de Zurbarán eram copiadas por outros artistas, sendo bastante divulgadas nos meios artísticos de seiscentos. Contudo, Josefa embelezou a austera composição do pintor espanhol com uma coroa de flores e de frutos, assim como era costume na pintura flamenga da época - tal como se pode ver neste quadro presente em Évora. O tema do Agnus Dei estava muito em voga e era muitas vezes associado à «Adoração dos Pastores», onde o cordeiro de patas atadas pronto para o sacrifício tornava-se um emblema de Cristo Redentor. Aliás, no quadro de Évora, as uvas e as espigas de trigo, presentes na grinalda envolvente, são uma alusão eucarística que reforça a mensagem religiosa da legenda: «occisus ab origine mundi», aludindo à morte de Cristo como sacrifício. Entre as várias flores, conotadas com virtudes cristãs, as rosas silvestres são símbolos da Virgem, da Natividade e da vinda do Messias. Pintados de modo naturalista, dentro do estilo tenebrista que dominava a pintura barroca, sobretudo nas naturezas-mortas, estas obras transmitem mais do que aquilo que os olhos podem ver. A sua simplicidade aparente esconde significados simbólicos e mensagens religiosas, que eram fáceis de ler nos meios culturais do seu tempo.
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Texto de Margarida Elias.
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Autores a consultar sobre este assunto: Edward J. Sullivan; Matias Diaz Padron; Julian Gallego; Vítor Serrão; Luís de Moura Sobral; Ana Hatherly.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A Anunciação

Pintura de Simone Martini, A Anunciação (1333, Galleria degli Uffizi, Florença).
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A festa da Anunciação coincide com a chegada da Primavera, celebrada a 25 de Março, nove meses antes do Natal. Foi introduzida na liturgia pelo Concílio de Toledo em 656. A Anunciação corresponde à figuração do momento em que o arcanjo Gabriel anuncia à Virgem Maria que ela será mãe de Deus. O anjo disse-lhe: «Salve, agraciada; o Senhor é contigo, bendita és tu entre as mulheres». A Virgem ficou perturbada e para sossegá-la o anjo explicou: «Descerá sobre ti o Espírito Santo...». Por fim, Maria responde: «Eis aqui a serva do Senhor». (Lucas 1, 27-38). Em muitas figurações da Anunciação há uma divisão entre o espaço da Virgem e o do anjo. O espaço da Virgem é fechado / interior, enquanto o do anjo é aberto / exterior. De acordo com Didi-Huberman, trata-se de um espaço insólito / ambíguo, transposto mas intacto, onde cada signo de abertura é quebrado por um signo de clausura. A paisagem, do lado do anjo, remete para o Jardim do Paraíso, perdido na altura da Queda e que será retomado pelo homem através de Cristo.

Pintura de Jorge Afonso, Anunciação (c. 1510, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa).
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A representação da Anunciação é muitas vezes carregada de símbolos, sobretudo na pintura nórdica, ou na portuguesa de influência flamenga. O anjo Gabriel é o mensageiro do Senhor. A pomba figura o Espírito Santo que descerá sobre Maria. Esta está a ler a Bíblia. As flores de Lis, muitas vezes presentes, são sinal de pureza, assim como a veste branca de Gabriel. As colunas simbolizam a árvore da vida, a relação entre o céu e a terra, a vitória e a imortalidade, a presença de Deus. A concha que se vê sobre Maria indica a atenção à palavra, mas também, pela ligação à água, a gestação e a fertilidade.
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Texto de Margarida Elias.
Bibliografia: Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, Dictionnaire des Symboles, Paris, Robert Laffont & Jupiter, 1982; Georges Didi-Huberman, Fra Angelico, Paris, Flammarion, 1995; Nicole Lemaître, Marie-Thérese Quinson e Véronique Sot, Dicionário do Cristianismo, Correio da Manhã, 2004.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

São Jerónimo

Pintura de Albrecht Dürer, São Jerónimo (1521, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa).
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São Jerónimo foi um dos Doutores da Igreja, tradutor da Bíblia para latim. No Renascimento era o patrono dos Humanistas, admirado por Erasmo de Roterdão. Dürer fez várias representações de São Jerónimo desde uma gravura de 1492. O quadro que se encontra no Museu Nacional de Arte Antiga foi pintado em 1521, numa viagem de Dürer aos Países Baixos, e foi oferecido a um português da feitoria de Antuérpia, de nome Rodrigo Fernandes de Almada. O tema era muito popular em Antuérpia, facto que estava ligado à renovação dos estudos bíblicos, concretizada em 1516 com a publicação dos textos de São Jerónimo com comentários de Erasmo. Quentin Metsys, que conhecia o humanista, pintou cerca de 1515 um São Jerónimo, introduzindo uma nova versão na representação do Santo. Essa nova versão foi recriada por Dürer no quadro que se encontra no Museu de Arte Antiga. Para fazer este quadro, Dürer fez alguns estudos, entre os quais um retrato de um homem de 93 anos, o qual foi o modelo de São Jerónimo. Neste trabalho podemos ver o Santo no seu estúdio, sentado a uma secretária, enquanto medita sobre uma passagem da Bíblia. Atrás dele está uma parede onde sobressai um Crucifixo. O Santo encontra-se numa pose que repete a da Melancolia, uma famosa gravura de Dürer de 1514. Importa notar que o humor melancólico era associado aos homens de génio e, nomeadamente, aos teólogos. Por outro lado, ele aponta para uma caveira, sinal de vanitas, enquanto olha para o espectador. Deste modo, Dürer coloca o Santo a convidar os cristãos à meditação, lembrando-lhe que as coisas terrenas são efémeras.
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Texto de Margarida Elias.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Virgem em Glória


Pintura de Jean Hey - Maítre de Moulins, A Virgem em Glória rodeada por Anjos (1489-99, Notre Dame, Moulins).
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A Virgem Maria é representada na arte como uma jovem banhada de luz solar, os pés sobre um crescente da Lua e a cabeça encimada por uma coroa de estrelas. Na Idade Média, o simbolismo da «luz de Deus», ligada à natureza divina de Maria, é sublinhado pela identificação com a «estrela da manhã». Ela é a expressão maior do amor e da harmonia universais. Nesta representação da Coroação de Maria ela tem o Menino ao colo, sublinhando o seu papel como mãe de Deus. Em torno deles está uma auréola circular com diversas cores, sinal distintivo das suas naturezas divinas. À sua volta estão os anjos, dois deles colocando a coroa sobre a cabeça da Virgem, dignificando-a como a rainha dos Céus.
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Texto de Margarida Elias, baseado em Matilde Battistini.

sábado, 1 de novembro de 2008

A Ocasião


Escola de Andrea Mantegna, Occasio and Poenitentia (ca. 1500, Castelo Ducal, Mântua).
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Representada sob os traços de uma jovem mulher com a face escondida por longos cabelos, com a cabeça careca atrás, e equilibrada sobre uma esfera que rebola. A ocasião representa o momento propício para agir e realizar os seus desejos. A habilidade do ser humano consiste em apanhá-la pelos cabelos antes que a jovem se afaste para sempre.
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Matilde Battistini.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A máscara do medo

Pintura de Paul Klee, A máscara do medo (1932, The Museum of Modern Art, Nova Iorque).
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Fear is the main source of superstition, and one of the main sources of cruelty. To conquer fear is the beginning of wisdom.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Trouillebert

Pintura de Trouillebert, Construction of an Elevated Railway: Bridge over the Cours de Vincennes (1888, Cleveland Museum of Art, Ohio).
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Paul Désiré Trouillebert (1829-1900), aluno de Ernest Hébert and Charles-François Jalabert, iniciou a sua carreira no Salon de 1865, exibindo um retrato. Continuou a pintar retratos até cerca de 1881, quando se começou a concentrar nas paisagens. Recebeu alguma atenção quando uma das suas pinturas na colecção do escritor Alexandre Dumas foi vendida como sendo um Corot (q.v.). Trouillebert pintou uma grande variedade de assuntos, incluindo cenas de género, retratos, nus e paisagens.

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Cleveland Museum of Art.

sábado, 25 de outubro de 2008

O instante e a eternidade

Pintura de Bartolomé Esteban Murillo, Duas Mulheres à Janela (1670, National Gallery of Art, Washington).
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Le tableau et la sculpture arrêtent le temps, ils font croire à l'éternité d'un sourire ou d'une détresse, ils retiennent une existence à l'instant où déjà elle se retire.
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Catherine Chalier.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Desenhos de crianças



Desenho do Tiago.
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Children also have artistic ability, and there is wisdom in there having it! The more helpless they are, the more instructive are the examples they furnish us; and they must be preserved free of corruption from an early age.
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Paul Klee.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Avó Irene


Desenho de Margarida Elias (2004).
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É de longe, que sabemos ver as pessôas e as cousas. De perto, são os olhos que vêem. De longe, é a alma que vê.
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Teixeira de Pascoaes (1924).

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A Boémia

Pintura de Fantin-Latour, Un Coin de Table (1872, Museu d'Orsay, Paris).
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Aos vinte anos é preciso que alguém seja estroina nem sempre para que o Mundo progrida, mas ao menos para que o mundo se agite. Para se ser ponderado, correcto e imóvel, há tempo de sobra na velhice.
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Ramalho Ortigão,
Citado por Maria João Ortigão de Oliveira.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A Moleirinha

Fotografia de Margarida Elias (Ribamar, Torres Vedras).

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Pela estrada plana, toque, toque, toque
Guia o jumentinho uma velhinha errante
Como vão ligeiros, ambos a reboque,
Antes que anoiteça, toque, toque, toque
A velhinha atrás, o jumentinho adiante!...
Toque, toque, a velha vai para o moinho,

Tem oitenta anos, bem bonito rol!...
E contudo alegre como um passarinho,
Toque, toque, e fresca como o branco linho,
De manhã nas relvas a corar ao sol.
Vai sem cabeçada, em liberdade franca,
O jerico ruço duma linda cor;
Nunca foi ferrado, nunca usou retranca,
Tange-o, toque, toque, moleirinha branca
Com o galho verde duma giesta em flor.
Vendo esta velhita, encarquilhada e benta,

Toque, toque, toque, que recordação!
Minha avó ceguinha se me representa...
Tinha eu seis anos, tinha ela oitenta,
Quem me fez o berço fez-lhe o seu caixão!...
Toque, toque, toque, lindo burriquito,

Para as minhas filhas quem mo dera a mim!
Nada mais gracioso, nada mais bonito!
Quando a virgem pura foi para o Egipto,
Com certeza ia num burrico assim.
Toque, toque, é tarde, moleirinha santa!

Nascem as estrelas, vivas, em cardume...
Toque, toque, toque, e quando o galo canta,
Logo a moleirinha, toque, se levanta,
Pra vestir os netos, pra acender o lume...
Toque, toque, toque, como se espaneja,

Lindo o jumentinho pela estrada chã!
Tão ingénuo e humilde, dá-me, salvo seja,
Dá-me até vontade de o levar à igreja,
Baptizar-lhe a alma, prà fazer cristã!
Toque, toque, toque, e a moleirinha antiga,

Toda, toda branca, vai numa frescata...
Foi enfarinhada, sorridente amiga,
Pela mó da azenha com farinha triga,
Pelos anjos loiros com luar de prata!
Toque, toque, como o burriquito avança!
Que prazer d'outrora para os olhos meus!
Minha avó contou-me quando fui criança,
Que era assim tal qual a jumentinha mansa
Que adorou nas palhas o menino Deus...
Toque, toque, é noite... ouvem-se ao longe os sinos,
Moleirinha branca, branca de luar!...
Toque, toque, e os astros abrem diamantinos,
Como estremunhados querubins divinos,
Os olhitos meigos para a ver passar...
Toque, toque, e vendo sideral tesoiro,
Entre os milhões d'astros o luar sem véu,
O burrico pensa:
Quanto milho loiro!
Quem será que mói estas farinhas d'oiro
Com a mó de jaspe que anda além no Céu!
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Guerra Junqueiro
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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Como uma interpretação errada de duas abreviaturas pode levar a uma errada resposta:

Certa ocasião uma família inglesa foi passar as férias à Alemanha.
No decorrer de um dos habituais passeios, os membros da referida família repararam numa pequena casa de campo que lhes pareceu muito apropriada para passar as férias de verão. Informados de quem fosse o proprietário e vindo a saber que se tratava de um Pastor protestante, pediram que lhes mostrassem a pequena propriedade. A casa, tanto pela sua comodidade, como pela sua óptima situação, agradou muito aos visitantes ingleses, que resolveram alugá-la para a próxima estação.
Regressados a Inglaterra, discutiram muito acerca da planta da casa, quando de repente, falando sobre a utilização a dar às diversas divisões, a senhora se lembrou de não ter visto o W.C..
Confirmando o sentido prático dos ingleses, a senhora escreveu imediatamente, para obter pormenores, tendo a sua carta sido formulada da maneira seguinte:
«Gentil Pastor:
Sou um dos membros da família que à pouco tempo o visitou com o fim de alugar a sua propriedade no próximo Verão, e visto todos nós havermos esquecido um detalhe importante, muito agradecíamos que nos informasse em que local se encontra o W.C..»
O Pastor, não compreendendo o significado das abreviaturas W.C., e julgando tratar-se da capela da seita inglesa "White Chapel", respondeu nos termos seguintes:
«Gentil senhora:
Recebi a sua carta e tenho prazer de comunicar-lhe que o local a que se refere fica a 12 kilómetros da casa.
Isto é muito cómodo sobretudo se se tem o hábito de ir lá frequentemente.
Neste caso, é preferível levar de comer para ficar lá todo o dia. Alguns vão a pé, outros de bicicleta. Há lugar para 400 pessoas sentadas e 100 de pé. O ar é condicionado para evitar os inconvenientes da aglomeração.
Os assentos são de veludo e recomenda-se o chegar cedo para apanhar lugar sentado. As crianças sentam-se ao lado dos adultos e todos cantam em coro. À entrada é fornecido um papel a cada pessoa, mas se alguém chegar depois da distribuição, pode usar o papel do parceiro do lado.
Tal papel deverá ser restituído para poder ser utilizado durante todo o mês. Existem amplificadores de som. Tudo o que se recolhe é para as crianças pobres da região. Fotógrafos especiais tiram fotografias para os jornais da cidade, de modo que todos possam ver pessoas no cumprimento de um dever tão humano».

sábado, 18 de outubro de 2008

O elogio da paisagem


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Je pense que l' infortune m'a obligé de me réfugier sous la voûte du ciel et les ombrages épais, et me placer le mieux possible pour assister aux concerts des oiseaux. Auprès de cela, de ces quiétudes, que sont les petites tempêtes indurables que fabriquent les hommes? Vive les pluies d'étoiles du mois de juillet et les jolies fleurettes dans les prés!
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Corot.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A formiguinha do pé preso


Era uma vez uma formiga que andava na neve, entregue aos seus afazeres. A dado momento, a formiga ficou com uma pata presa na neve e, por mais esforços que fizesse, não conseguia libertá-la.
A formiga virou-se para a neve e pediu-lhe:
- Ó neve, tu és tão forte que o meu pé prendes. Liberta o meu pezinho.
A neve respondeu-lhe:
- Não posso. Mais forte do que eu é o sol que me derrete.
A formiga virou-se para o sol e pediu-lhe:
- Ó sol, tu és tão forte que derretes a neve que o meu pé prende. Liberta o meu pezinho.
O sol respondeu-lhe:
- Não posso. Mais forte do que eu é a nuvem que me tapa.
A formiga virou-se para a nuvem e pediu-lhe:- Ó nuvem, tu és tão forte que tapas o sol que derrete a neve que o meu pé prende. Liberta o meu pezinho.
A nuvem respondeu-lhe:
- Não posso. Mais forte do que eu é o vento que me empurra.
A formiga virou-se para o vento e pediu-lhe:
- Ó vento, tu és tão forte que empurras a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende. Liberta o meu pezinho.O vento respondeu-lhe:
- Não posso. Mais forte do que eu é a parede que me impede.
A formiga virou-se para a parede e pediu-lhe:
- Ó parede, tu és tão forte que impedes o vento que empurra a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende. Liberta o meu pezinho.
A parede respondeu-lhe:- Não posso. Mais forte do que eu é o rato que me fura.
A formiga virou-se para o rato e pediu-lhe:
- Ó rato, tu és tão forte que furas a parede que impede o vento que empurra a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende. Liberta o meu pezinho.
O rato respondeu-lhe:
- Não posso. Mais forte do que eu é o gato que me papa.
A formiga virou-se para o gato e pediu-lhe:
- Ó gato, tu és tão forte que papas o rato que fura a parede que impede o vento que empurra a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende. Liberta o meu pezinho.
O gato respondeu-lhe:- Não posso. Mais forte do que eu é o cão que me morde.
A formiga virou-se para o cão e pediu-lhe:
- Ó cão, tu és tão forte que mordes no gato que papa o rato que fura a parede que impede o vento que empurra a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende. Liberta o meu pezinho.
O cão respondeu-lhe:
- Não posso. Mais forte do que eu é o pau que me bate.
A formiga virou-se para o pau e pediu-lhe:
- Ó pau, tu és tão forte que bates no cão que morde no gato que papa o rato que fura a parede que impede o vento que empurra a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende. Liberta o meu pezinho.O pau respondeu-lhe:
- Não posso. Mais forte do que eu é o fogo que me queima.
A formiga virou-se para o fogo e pediu-lhe:
- Ó fogo, tu és tão forte que queimas o pau que bate no cão que morde no gato que papa o rato que fura a parede que impede o vento que empurra a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende. Liberta o meu pezinho.O fogo respondeu-lhe:
- Não posso. Mais forte do que eu é a água que me apaga.
A formiga virou-se para a água e pediu-lhe:
- Ó água, tu és tão forte que apagas o fogo que queima o pau que bate no cão que morde no gato que papa o rato que fura a parede que impede o vento que empurra a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende. Liberta o meu pezinho.A água respondeu-lhe:
- Não posso. Mais forte do que eu é o homem que me bebe.
A formiga virou-se para o homem e pediu-lhe:
- Ó homem, tu és tão forte que bebes a água que apaga o fogo que queima o pau que bate no cão que morde no gato que papa o rato que fura a parede que impede o vento que empurra a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende. Liberta o meu pezinho.O homem respondeu-lhe:
- Não posso. Mais forte do que eu é Deus que me governa.
A formiga virou-se então para Deus e pediu-lhe:
- Ó Deus, tu és tão forte que governas o homem que bebe a água que apaga o fogo que queima o pau que bate no cão que morde no gato que papa o rato que fura a parede que impede o vento que empurra a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende. Liberta o meu pezinho.
Deus, que tudo pode, libertou o pezinho da formiga. Esta agradeceu e foi toda contente para casa.

http://amateriadotempo.blogspot.com/2006/06/formiga-com-o-p-preso-na-neve.html

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Exposição de 1900



A entrada em 1900 foi celebrada com a Exposição Universal de Paris, na qual Portugal também participou, sendo o pavilhão português da autoria do arquitecto Ventura Terra. A Exposição decorreu entre 14 de Abril e 12 de Novembro, tendo sido inaugurado no dia 26 de Maio o pavilhão de Portugal .
Este cartão de expositor pertenceu ao meu bisavô, João da Cruz David e Silva. A família Mattos e Silva provém do casamento, em 28 de Janeiro de 1893, na Igreja do Coração de Jesus, em Lisboa, de João da Cruz David e Silva e de Emília Adelaide de Oliveira Mattos. João da Cruz David e Silva (Pedrógão Pequeno, 1863-1942) foi comerciante, industrial e vereador substituto da C.M. de Lisboa. Vinha de uma antiga família de proprietários e pequena nobreza rural, sendo os David – que até ao século XVIII se grafava da Vide – descendentes de Guilherme Arnauth (ou Arnau) de “ Rivo”, Mordomo ou Vedor - Mor da rainha Dona Filipa de Lancaster.
Cf. blogue Três Gerações

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Santa Teresa de Avila

Escultura de Bernini, Extâse de Santa Teresa (1647-1652, Igreja de Santa Maria da Vitória, Roma ).
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Esta obra de Bernini apresenta o momento chave da vida de Santa Teresa, segundo o qual, em êxtase, ela terá visto um serafim trespassar o seu coração com uma flecha de fogo. O conjunto escultórico apresenta uma construção tipicamente barroca pela expressividade e gestualidade de Santa Teresa, pelo movimento das formas e ainda pelo jogo ilusório que coloca os membros da família Cornaro a assistir ao milagre como se estivessem nos camarotes de um teatro, associando também o espctador a essa posição privilegiada.
Gian Lorenzo Bernini (1598-1680), um dos fundadores do Barroco, foi escultor, arquitecto, urbanista e pintor. Desde 1624 que trabalhou para as autoridades pontifícias. A sua oficina era um dos centros da cultura romana do séc. XVII, com um grande número de encomendas.
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Texto de Margarida Elias.
Bibliografia:
Sandro Sproccati (Dir.), Guia de História da Arte.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Nossa Senhora das Mercês

Em 621 os visigodos tornaram-se senhores de toda a Espanha. Em 711 vieram os árabes que os repeliram para as montanhas das Astúrias e conquistaram quase toda a Península. Foram precisos seis séculos para os expulsar. Durante este período foram levados para África grande número de cristãos. Os que abraçavam o islamismo eram tratados como homens livres; os outros eram vendidos como escravos. Para os libertar era necessário pagar o resgate. Como nem todas as famílias tinham posses para libertar seus familiares, S. Pedro Nolasco fundou, em 1218 a Ordem das Mercês ou da Redenção dos Cativos. A própria Virgem, numa aparição, incitou a isso. Pedro contou a sua visão a S. Raimundo de Penhaforte e ao rei Jaime I, de Aragão. Os três conseguiram pôr em prática o projecto. Graças ao seu heroísmo e à generosidade dos cristãos, a obra foi fecunda em resultados e só terminou com o desaparecimento da pirataria. Dizia o Breviário romano que "foi com o fim de agradecer a Deus e à Santíssima Virgem os benefício de tal Instituição que se estabeleceu a festa de Nossa Senhora das Mercês". O nome feminino, Mercedes, vem deste título especial da Virgem Maria.
Festa: 24 de Setembro.
http://www.ecclesia.pt/santos/setembro/24.htm

sábado, 11 de outubro de 2008

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Serra de Sintra

Fotografia de Margarida Elias (Sintra, Palácio da Pena e Castelo dos Mouros).
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Oh! Em que variegado labirinto de montes e vales surge agora o glorioso Éden de Sintra! (…) qual a pena ou pincel que reproduzir pode metade sequer das suas belezas (…)? Húmidos rochedos, coroados lá no alto por conventos suspensos; sobreiros seculares a revestir escarpas hirsutas; musgos de montanha enegrecidos pelas soalheiras; vales profundos em que à sombra gotejam arbustos (…). Trepar depois a senda tortuosa e voltar de quando em quando a cabeça à medida que subimos…Cresce a altura da fraga, e as graças crescem.
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Lord Byron.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Lagoa do Fogo

Fotografia de Margarida Elias.
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Subindo ao cume dos montes, fica-se esmagado na solidão imensa. Rodeando a ilha, mar e só mar…
É assim a paisagem açoreana: terra, mar e céu…
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O Branco

Fotografia de Margarida Elias, Encumeada (Madeira).
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Este universo é de tal modo elevado, que dele não nos chega qualquer som. Apenas um grande silêncio se estende até ao infinito, como uma fria muralha, impenetrável e indestrutível. Na nossa alma, o branco actua como o silêncio absoluto. (…) Este silêncio não está morto, antes transborda de possibilidades vivas. O branco soa como um silêncio que de súbito pudesse ser entendido. É um “nada” anterior ao nascimento, a qualquer começo. Talvez a Terra, na sua época glaciar, soasse assim, branca e fria.
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Kandinsky.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Rosário - Rosa - Rosácea

Vitral da Catedral de Notre-Dame (Paris).
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Rosário
Fios de pérolas sobre um fio, do qual fala a Blagavad Gità. O fio é o Atmâ sobre o qual todas as coisas estão enfiadas, a saber todos os mundos, todos os estados de manifestação. Atmâ, o Espírito universal, liga os mundos entre si; é também o sopro que lhes dá vida.

Rosa
É a flor simbólica mais usada no Ocidente. Designa uma perfeição acabada, uma realização sem defeitos. Simboliza o vaso da vida, a alma, o coração, o amor. Na iconografia cristã corresponde ao Graal, a transfiguração das gotas do sangue de Cristo ou mesmo as próprias chagas de Cristo. Pode ser a rosa celeste da redenção. A rosácea gótica e a rosa-dos-ventos marcam a passagem do simbolismo da rosa para o da roda.
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Baseado em Jean Chevalier e Alain Cheerbrant.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

As árvores

Fotografia de Margarida Elias (Castelo de São Jorge, Lisboa).
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Uma árvore! Pintar a grande macieira do meu quintal!... Mas só eu que a adoro e que às vezes, sòzinho, a abraço, é que, se soubesse, a poderia pintar. A minha macieira é uma pessoa: tem a sua feição, carácter: de Inverno, nua e trágica, conversa com estas ásperas ventanias do mar largo; na Primavera, cheiinha de flor, tem galhos que enternecem. E às vezes de Inverno, de tonta, acontece (se é tão velha!) deitar um ramo, um único, onde as flores pousam de leve como borboletas - e todas as crianças que passam ao pé do muro se põem a rir para ela!...
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Raul Brandão, 1895.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Baleia

Foi uma das experiências mais gratificantes das minhas viagens.
Numa visita aos Açores, a São Miguel, fui com o meu pai num passeio de barco para ver baleias. Afastámos-nos bastante da costa e nada... Quando o guia estava quase a desistir surgiram duas baleias, uma delas ainda bebé, que se aproximou do barco e até dava para lhe tocar. Quando voltávamos, passou por nós um grupo de golfinhos. Vi-os dar saltos e piruetas. Passaram junto do nosso barco e eu pude ver que dentro de água as barrigas deles ganhavam cores fluorescentes.
Acho que tive muita sorte em poder ter assistido a este espectáculo da natureza!

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O Anjo

Pintura de Turner, The Angel, Standing in the Sun (1846, Tate Gallery, Londres).
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E vi um anjo forte, bradando com grande voz: Quem é digno de abrir o livro e de desatar os seus selos?
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Apocalipse (5, 2)