Rogier Van der Weyden, Madonna e São Lucas (c. 1435, Museum of Fine Arts, Boston).
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Conta a lenda que São Lucas retratou a Virgem, na sua presença, razão pela qual este Santo é considerado como o patrono dos pintores. O quadro São Lucas desenhando a Virgem, do pintor flamengo Rogier Van der Weyden, foi provavelmente realizado para a Guilda de São Lucas de Bruxelas. Representa o momento em que o Santo está a retratar a Virgem, com Jesus ao colo, enquanto lhe dá de mamar. Este facto é relevante, pois, no final da época medieval, a iconografia de Nossa Senhora a dar de mamar tinha uma forte carga devocional, conotada com a ideia de ser ela a interecessora privilegiada entre Deus e os homens. Ao representar a Virgem e São Lucas como mediadores (sendo o Evangelista o intercessor entre a Virgem e a humanidade), Van der Weyden também surge como um mediador entre as figuras sagradas e o espectador / crente. Deste modo, se valoriza o papel do artista como alguém que tem a capacidade de transmitir o divino através da sua obra.
Um aspecto que deve ser salientado acerca desta pintura é a sua proximidade compositiva com a Madonna com o Chanceler Rolin de Van Eyck (1435, Museu do Louvre, Paris). Van der Weyden espelha horizontalmente a pintura de Van Eyck, dando maior humanidade à figura de Maria. Tanto na pintura de Van Eyck como na de Weyden há uma grande riqueza de detalhes, o que era comum na pintura flamenga deste tempo. Estes detalhes descrevem com naturalidade as figuras e o espaço, o que transmite credibilidade ao espaço, tornando-o num prolongamento do espaço do espectador. Esse prolongamento é acrescido não só pela perspectiva que se abre na nossa direcção, como pela contemporaneidade dos trajos e objectos, relativamente à época em que a obra foi realizada. Deste modo, o espectador quatrocentista podia sentir-se como uma testemunha presencial do acontecimento.
Os detalhes têm ainda uma outra importância que é a de aumentar a carga narrativa e simbólica, permitindo vários níveis de leitura. AVirgem é figurada num trono adamascado, o que acentua o seu carácter majestático e a sua importância neste grupo de figuras. À direita de São Lucas está um touro, que é símbolo deste Evangelista no Tetramorfo. As figuras estão representados num interior, mas este abre-se para uma varanda, um hortus conclusus, que simboliza a própria virgindade de Maria. Para lá dessa varanda temos uma paisagem onde se podem ver casas ladeando um rio, que acentua a profundidade do espaço perspectivado. Junto do muro da varanda, no centro da composição, estão duas figuras de costas, que poderão ser lidas como São Joaquim e Santa Ana, pais da Virgem.
Dentro deste esquema compositivo, o espectador vai caminhando com o olhar pelos diversos espaços, desde o lugar onde se apresenta o momento do retrato, passando pela varanda, por um pátio do lado esquerdo - onde circulam diversas figuras numa actividade quotidiana -, o rio, visulmente fechado pelas montanhas, que o separam do céu. Daqui o nosso olhar tende a subir e a alcançar uma janela em círculo, que nos trás de volta ao espaço interior, onde São Lucas retrata a Virgem.
Os detalhes têm ainda uma outra importância que é a de aumentar a carga narrativa e simbólica, permitindo vários níveis de leitura. AVirgem é figurada num trono adamascado, o que acentua o seu carácter majestático e a sua importância neste grupo de figuras. À direita de São Lucas está um touro, que é símbolo deste Evangelista no Tetramorfo. As figuras estão representados num interior, mas este abre-se para uma varanda, um hortus conclusus, que simboliza a própria virgindade de Maria. Para lá dessa varanda temos uma paisagem onde se podem ver casas ladeando um rio, que acentua a profundidade do espaço perspectivado. Junto do muro da varanda, no centro da composição, estão duas figuras de costas, que poderão ser lidas como São Joaquim e Santa Ana, pais da Virgem.
Dentro deste esquema compositivo, o espectador vai caminhando com o olhar pelos diversos espaços, desde o lugar onde se apresenta o momento do retrato, passando pela varanda, por um pátio do lado esquerdo - onde circulam diversas figuras numa actividade quotidiana -, o rio, visulmente fechado pelas montanhas, que o separam do céu. Daqui o nosso olhar tende a subir e a alcançar uma janela em círculo, que nos trás de volta ao espaço interior, onde São Lucas retrata a Virgem.
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Links: Wikipedia, Web Gallery of Art e Annette de Vries in Historians of Netherlandish Art (2006).
4 comentários:
E ao que tudo indica, São lucas a conheceu apenas após a morte de jesus.
"São Lucas, medico de almas e de homens" o livro que me fez apaixonar pela terapêutica da cura.
bjs nossos
Nunca li - deve ser interessante. Bjs!
Margarida,
Adorei a tela e a explicação.
Parabéns pela escolha.
Também não conheço o livro das Amigas Vurdóns, deve ser interessante.
Beijinho.:)
Obrigada Ana. Se descobrir o livro depois conte-me. Bjs!
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