Em leilões recentes, que tenho acompanhado sobretudo pelo blogue Arte em Números, tem surgido bastante pintura portuguesa do Naturalismo e, dentro desse grupo geracional e estético, algumas obras de Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929). Algumas delas foram para mim uma boa descoberta, porque quando realizei a minha tese de Douramento iniciei um catálogo raisonné da obra deste artista, mas faltavam-me muitas peças do puzzle, que agora vou completando. Entre as pinturas que agora surgiram destaco primeiro, por motivos cronológicos, mas também por gosto pessoal, esta Cena de interior (Link).
Trata-se de uma pintura que eu conhecia apenas de uma reprodução em gravura, publicada em O Ocidente, em 15 de Agosto de 1880, com o título de O Avô (Link).
Esta obra é provavelmente de 1880, pelo estilo que é muito semelhante ao de outras obras contemporâneas (por exemplo o Convite à valsa, CMAG). Em 1880, foi apresentada na Sociedade Promotora das Belas Artes e numa exposição com António Ramalho, realizada na Associação de Jornalistas e Escritores.
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Outra pintura que veio a leilão foi uma aguarela figurando uma Paisagem com duas figuras e cães (Link), sendo este um trabalho que está ligado à actividade de Columbano nas artes decorativas. Pelo menos desde 1880 que Columbano se dedicou às artes decorativas, nomeadamente por razões de ordem económica. Em 1892, escreveu ao amigo Batalha Reis:
«Pede-me notícia dos meus trabalhos? Eu pouco tenho feito. A epoca está desgraçada! Appareceu-me João Burnay a encomendar-me trabalhos para a casa que ele tem no Seixal, mas não os quer, enquanto não tiver vencido uma questão de dinheiros, que está muito duvidosa. (…) O pior é que estou sem trabalho e sem dinheiro! N'um destes momentos d'ocio e de penúria, descobri uma coisa que pode talvez, não direi enriquecer-me, mas remediar-me, descobri a maneira fácil de fazer tecido no genero dos Gobelins. Já comecei a tecer com lans, uma cabeça de satyro, e vejo que me dá o efeito da mais fina tapessaria. Se isto me der o resultado, que espero, poderei educar gente, a fazer esta especie de tecido, e será uma indústria a tratar, não lhe parece?»
Como escrevi na minha tese, não sei onde se encontra a peça descrita na carta, mas no Museu do Chiado, guarda-se um bordado datado de 1893, assinado por Columbano e Maria Augusta Bordalo Pinheiro. Dentro de um estilo que faz lembrar as imagens da Renascença, vemos dois homens com cães, numa cena de caça. Existem algumas semelhanças entre esta composição e os cartões para tapeçaria feitos por Jean-Paul Laurens (1838-1921), para a Manufacture de Gobelins. A aguarela que esteve em leilão era muito provavelmente o cartão de Columbano que deu origem ao bordado de 1893.
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A terceira obra que vou referir é o Retrato de Artur Lessa (1896 - Link). Esta pintura pertenceu à Colecção Dr. Chaves de Almeida e foi exposta em 1897, em Lisboa e no Porto. Trata-se de um retrato característico do estilo de Columbano, fazendo sobressair o rosto de um fundo escuro, que realça a profundidade do olhar. Faz lembrar outro retrato do mesmo ano, de Raul Brandão (Museu do Chiado - MNAC), que também foi exposto em Lisboa, em 1897.
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Por fim, fica o Retrato de Senhora (1903 - Link), obra que terá sido exposta na Sociedade Nacional de Belas Artes em 1903, provavelmente com o título Pensativa.
4 comentários:
Muito interessante Margarida.
Gostei muito de reler o seu contributo.
Beijinho e boa semana.:))
Obrigada Ana! Bjns!
Realmente o Columbano pintava muito bem. É um caso à parte na pintura portuguesa
O Columbano foi realmente um excelente pintor. Bom Domingo!
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