Nathalie Fornès, Les mains de sculpteur - Terre
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Não desfazendo
Nada do que existe
nos cai do céu na cabeça.
Nem a chuva, embora pareça:
até ela estava cá em baixo a existir
antes de ser chuva e cair!
Mais ou menos perfeito ou imperfeito,
tudo o que existe foi feito
e, antes de ser feito, desfeito.
Com água, luz e vento
a Terra se foi fazendo;
o distante Sol está ardendo
há milhões de anos e morrendo.
O lavrador deitou à terra a semente,
o operário fez a enxada e a charrua,
o cantor canta no palco, o actor actua,
o inventor inventa o inexistente.
Foi feita a cama,
feito o pijama,
com fogo e esforço
se fez o almoço.
Quem faz agora este alvoroço
toda a tarde a brincar e a correr
enchendo de alegria a casa inteira?
Oh, que é feito do tempo da brincadeira
em que não havia nada que fazer?
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Manuel António Pina (2005)
4 comentários:
Bonita escultura!
Gostei do poema, que não conhecia.
Respondendo à última questão: penso que se pode inverter a situação, ou seja, arranjar tempos de brincadeira, de criatividade e nada para fazer, desde que cedo, habituemos as crianças a um uso moderado do computador e da TV, de forma a dar-lhes tempo e espaço para desenvolver outros prazeres: parque, bicicleta, piqueniques, ar livre. Moderação, parece-me a palavra-chave. E desafios: o que fazer com estes restos assim-assim, etc. Ou simplesmente, nada fazer, deitar simplesmente na relva do parque, ao sol, depois de uma corrida e fechar os olhos.... O nada para fazer faz tanta falta... para aprender a apreciar, a pensar, a escutar-se, a ser criativo...
Beijinho. :-)
Tens razão Sandra! Muitos beijinhos!
Também gostei muito da escultura e casa muito bem com o poema de Manuel António Pina.
Beijinho. :))
Obrigada Ana! Beijinhos!
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