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Muralha do Castelo de Sesimbra (Fot. Margarida Elias, 2017)
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«Caminho atrás do parapeito, ao longo da parte superior de uma muralha de fortificação (castelo, etc.). Por extensão, também se designa assim a própria muralha ameada».
- Tesouros Artísticos de Portugal, p. 645.
Desconheço se alguém já fez esta análise, mas há uns tempos veio-me à mente relacionar um livro do Bruno Latour com a arte. O que ele diz é:
«A hipótese deste ensaio (...) é que a palavra “moderno” designa dois conjuntos de práticas totalmente diferentes que, para permanecerem eficazes, devem permanecer distintas, mas que recentemente deixaram de sê-lo. O primeiro conjunto de práticas cria, por “tradução”, misturas entre gêneros de seres completamente novos, híbridos de natureza e cultura. O segundo cria, por “purificação”, duas zonas ontológicas inteiramente distintas, a dos humanos, de um lado, e dos não-humanos, de outro. (...)». - Bruno Latour, Jamais fomos modernos. Ensaio de Antropologia Simétrica, Rio de Janeiro, Editora 34, 1994 (1.ª ed. Paris, La Découverte, 1991), p. 16.
Na minha interpretação, ele parte do princípio que o pensamento moderno nasceu da vontade de separar os vários campos do saber. Por isso, ele também afirma:
«(...) A espiritualidade foi reinventada, isto é, a transcendência do Deus todo-poderoso no foro íntimo sem que Ele interviesse em nada no foro exterior. Uma religião totalmente individual e espiritual permitia criticar tanto a dominação da ciência quanto a da sociedade, sem com isto obrigar Deus a intervir em uma ou na outra. Tornava-se possível, para os modernos, serem ao mesmo tempo laicos e piedosos» (p. 39).
O livro dele coloca a questão se alguma vez essa separação, entre a natureza objectiva e a sociedade livre, foi efectivamente feita, porque existem, sobretudo actualmente, seres híbridos, que não correspondem exactamente a nenhum campo, onde o «sistema de purificação» falha.
Mas, o que me levou a pensar de novo neste livro é se a progressiva separação dos géneros na arte, que se produziu sobretudo desde a Idade Moderna (Renascimento) não é fruto da mesma vontade de purificação. De facto, tanto o retrato, como a paisagem, a natureza-morta, a pintura animalista, a pintura de costumes, de história e religiosa, e todos os subgéneros associados a cada uma delas, parecem ser fruto do mesmo desejo de separar os objectos de análise e os temas. Resta saber (e penso que sim), se também aqui a purificação falhou, o que conduziu a misturas de géneros. E basta pensar, por exemplo, na paisagem, que antes do séc. XIX estava quase sempre associada a significados religiosos ou simbólicos - sendo raras as excepções.
«We hold these truths to be self-evident: that all men are created equal; that they are endowed by their Creator with certain unalienable rights; that among these are life, liberty, and the pursuit of happiness.»
Vittore Carpaccio, Prudência (c. 1500, High Museum of Art, Atlanta)
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«La référence au miroir était constante au Moyen Age pour designer l'activité intellectuelle : tout livre était un miroir (speculum). Loin de s'affaibblir, la valeur du symbole s'est enrichie à la Renaissance: pour le néo-platonisme qui identifie la lumière et l'esprit, le miroir fournit une image inépuisable de la connaissance et de la conscience. Elle a d'autant plus de prix que les données de l'optique sont considérées avec la plus grande attention».
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André Chastel, Art et Humanisme à Florence au Temps de Laurent le Magnifique, Paris, Presses Universitaires de France, 1982 (1.ª ed. 1959), p. 320.
Pintura reproduzida n' O António Maria, de 20 de Abril de 1895, a propósito da exposição que este artista fez, com Teixeira Lopes, na Galeria "Liborio" (que era na Avenida da Liberdade, no número 46).
P.S. Não vou fazer spoilers, porque esta imagem é da 2.ª temporada, e a série já vai na 7.ª - vi ontem o final da 2.ª temporada, que está a repetir na RTP, enquanto vejo a 7.ª, noutro canal.
«La creación continúa incesantemente a través de los medios de comunicación del hombre. Pero el hombre no crea... Descubre. Los que buscan las leyes de la Naturaleza como un apoyo para sus nuevas obras colaboran con el creador. Copiadores no colaboran. Debido a esto, la originalidad consiste en regresar al origen.»
«Na concepção teológica judaico-cristã, o Outono ou Crepúsculo está a Oeste; o Inverno ou Meia-Noite está a Norte; o Amanhecer ou Alva da Primavera, a Este; finalmente o Verão ou Meio-Dia, a Sul».
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Vítor Manuel Adrião, Lisboa Insólita e Secreta, Jonglez, 2010, p. 16.