terça-feira, 11 de setembro de 2018

Em memória de João Matos e Silva (meu tio) que faria hoje anos

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Fica aqui uma pequena selecção dos seus poemas:
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Momento XV (1968)

Revejo-me num espelho sem contorno,
Sem nada.
O mar silencioso dá-me sempre igual
Uma alma inacabada.
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Corrente (1972)

Uma corrente é sempre uma constante.
Imensidade ligada de infinito.
esta corrente me prende e perpetua.
Inserto nesse espaço eu sou um elo
da corrente que em mim se continua.
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Quando o tempo vier (1976)

Quando o tempo vier
que seja apenas mar.
Que se abram em flor
os rios rasgando o vento.
Quando o tempo vier
(que venha breve)
saiba dizer amor
em vez de guerra
saiba querer
a serra
em vez de mar.
E venha a tempestade
para ficar.
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Palavras de Palavras 4 (1986)

Como as palavras se excedem
nas palavras
o silêncio recolhe-se nos lábios.
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Círculos (1987)

Em círculos concêntricos secantes
se lança se relança se ultrapassa
em dança e contradança que não cessa
este estar vivo assim que a morte
espreita este estar morto assim
que a vida passa em círculos
e espirais concêntricos excêntricos
deixando do que foi memória escassa.
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(In)verso (1997)

Dizemos as palavras rigorosas
nos instantes concretos rigorosos
e somos tantas vezes - em tantas vozes
- o inverso do verso que escrevemos.
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Noivado (2003)

Estão de branco as salinas
e noivam assim puras
com a terra.
O mar na despedida
da emoção
tece de espuma grinaldas
deixadas por pudor
sobre as areias.

2 comentários:

MR disse...

Uma boa seleção e uma bela homenagem.
Boa semana!

APS disse...

Associo-me, com pesar, à evocação e homenagem.