Um dos meus sítios preferidos, onde regressei no dia dos meus anos. As fotografias são sobretudo minhas, algumas serão da minha mãe. O excertos de texto são da Tese de Doutoramento de Ana Assis Pacheco (2013).
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«Percorre-se de carro uma estrada que parece interminável para uma pessoa pouco
habituada a ver árvores, árvores e apenas árvores.
E quando se chega ao lugar não se avista nenhuma construção.
Quando se avança a pé até ao convento ele continua sem aparecer.
Está escondido».
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«Ali, descansamos e olhamos o silêncio, na água quieta.
Ali, percebemos que estamos num claustro.
Mas não estamos no claustro convencional, pois não há nenhuma galeria a circundá-lo e a fechá-lo, aqui é apenas a natureza e algumas construções que envolvem e delimitam um terreiro, criando um espaço, semelhante a um claustro».
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«A humildade arquitectónica deve ser entendida pelo facto de o convento da serra de Sintra, ter pertencido a uma província franciscana da Estrita Observância, que era a Província de Santa Maria da Arrábida e que se reflectiu na arquitectura vernacular, económica e mínima. A dimensão reduzida das micro-celas, com portas mais baixas que qualquer adulto, com apenas 1,10mts, obrigava a baixar a cabeça, gesto penitente e entrada para cela, verdadeiramente recolhida».
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«Naõ ha na Clausura interior mais que hum dormitorio, o qual tem quarenta palmos de comprido, e tres de largo, em tal fórma, que encontrando-se nelle os Religiosos, para hum passar, precisamente se recolhe o outro para alguma das cellas. Saõ estas taõ estreitas, que ordinariamente os seus habitadores dormem encolhidos, e alguns mandaraõ abrir na rocha, que lhes serve de parede, buracos para accomodarem os pès: as portas tem cinco palmos de alto, e palmo e meyo de largo; as paredes que as dividem, saõ de vimes tecidos com barro, e palha; o forro de tudo he de cortiça, e esta nas portas està pegada em grades de tosca madeira» - Frei António da Piedade, Espelho de penitentes e chronica da província de Santa Maria da Arrabida (1728).
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«Um dos primeiros habitadores deste convento foi o poeta frei Agostinho da Cruz (1540- 1619), que aqui fez o noviciado e viveu durante longos 40 anos, retirando-se para o convento de Santa Maria da Arrábida, quando já ia nos 65 anos». Dele, é este poema:
«No monte, no valle
tenho onde me esconda;
sem ter com quem falle,
nem quem me responda.»
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Ana Assis Pacheco, 2013.
Construção de um mundo interior, Arquitectura franciscana em Portugal, Índia e Brasil (sécs. XVI-XVII). Universidade de Coimbra (Tese de Doutoramento). Capítulo, sobre os Capuchos, online in
https://www.academia.edu.