quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Columbano em Paris, entre 1881 e 1883 - um itinerário à volta de Montparnasse

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Entre Janeiro de 1881 e Setembro de 1883, Columbano Bordalo Pinheiro viveu em Paris, na companhia da sua irmã Maria Augusta, para completar os estudos de pintura realizados na Academia de Belas Artes de Lisboa. Sem bolsa oficial do Estado (que perdera para Artur Loureiro e Adolfo Greno), teve o apoio de uma bolsa oferecida por D. Fernando de Coburgo, por intermédio da Condessa d’ Edla.
Os dois irmãos começaram por viver em quartos de estudantes, no bairro Montparnasse, não longe do Jardim do Luxemburgo. Posteriormente, alugaram um apartamento na Rue Bréa (n.º 11) e um atelier na Rue Delambre (n.º 30), local onde o artista terá pintado o quadro Concerto de Amadores.
D. Fernando entregara a Columbano uma carta de recomendação para o pintor Carolus-Duran, para que este viesse a ser seu mestre de pintura. Este abrira, cerca de 1874, um atelier no Boulevard du Montparnasse, onde recebia alunos, na sua maioria ingleses e americanos – entre eles estando John Singer Sargent. É incerto se Columbano chegou a frequentar o atelier desse artista. Segundo as suas palavras, e testemunhos de quem o conheceu, preferiu visitar museus (sobretudo o Louvre) e ateliers livres, sendo para isso auxiliado por Artur Loureiro que o levou a «calcorrear exposições, botequins de artistas e aulas de pintura» (ALDEMIRA, 1941). No entanto, é de crer que, pelo menos inicialmente, passou pelo atelier de Carolus-Duran, pois quando expôs o quadro Concerto de Amadores no Salon de Paris (1882), apresentou-se como seu discípulo. O pintor contava, anos depois, a Jaime Batalha Reis, que esteve em Paris «uns dois annos e meio, trabalhando e estudando sempre, em liberdade, tendo frequentado apenas, por algumas semanas em companhia de Artur Loureiro, um ateliê livre de que era empresario um Italiano Colarossi». A Academia Colarossi fora fundada pelo escultor italiano Filippo Colarossi, tendo funcionado na Rue de la Grande Chaumière. Era uma escola particular e atelier livre, que tinha alunos estrangeiros. Seguindo o relato de Columbano, nesse «atelier trabalhei juntamente com pintores de varios paizes, sobretudo americanos, ingleses e franceses. (...) eu, com o meu feitio sempre pouco comunicativo, não logrei saber-lhes os nomes». Columbano ainda referia que teve «como professor Gustave Courtois, Raphael Collin e diziam que Bastien Lepage, mas esse nunca eu tive a honra de conhecer».

Columbano Bordalo Pinheiro, Árvores do Jardim do Luxemburgo (1881, Museu do Chiado - Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa)

A correspondência do artista com os amigos e familiares dá testemunho do seu isolamento. Logo no início da estada em Paris, o pintor escreveu a Alberto de Oliveira, queixando-se da situação em que se encontrava, tendo como resposta que era normal o estado do seu ânimo, «dado por natureza à melancolia e á saudade de poeta...». Tal como descreveu o pintor à irmã Amélia: «A unica coisa que me distrahe é o trabalho». Não conhecia franceses e tinha poucos apoios, entre os quais o de Guilherme de Azevedo, que era correspondente em Paris da Gazeta de Notícias.
A realidade, porém, deve ter sofrido alterações, sobretudo depois da chegada de Mariano Pina a Paris, em meados de 1882. Os dois faziam parte de um grupo que se reunia no Café Bas-Rhin, no Boulevard de St. Michel, que incluía o engenheiro Raúl Mesnier, os pintores António Ramalho e Artur Loureiro, Guilherme de Azevedo, Rafael Bordalo Pinheiro e Trigueiros de Martel.
Mariano Pina, que então vivia na capital francesa, trabalhando como correspondente da Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro (em substituição de Guilherme de Azevedo, que, entretanto, falecera), contava numa carta, para Rafael, que Columbano estava bem, tendo o costume ir todas as noites a casa do jornalista. Pina mencionava que encontrara um amigo comum, o “Monsieur Luque” e acrescentava: «(…) vou apresentar-lhe teu irmão um dia d’estes ao Café de la Paix. O Columbano quer (…) conhecê-lo e quer mesmo por intervenção d’elle aproximar-se do Domingo [Francisco Domingo Marques] e do Madrazo [Raimundo de Madrazo y Garreta] (…)».
Em Setembro de 1883 o pintor voltou para Lisboa, terminada a pensão fornecida pela Condessa d’ Edla. Gervásio Lobato julgava que ele era um «pintor de muito talento», que só vinha a Lisboa visitar os amigos, voltando em breve para Paris, de forma a completar os seus estudos. Contudo, o pintor só iria regressar, já não como estudante, em 1889.
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Luís Varela Aldemira, Columbano, Ensaio Biográfico e Crítico, Lisboa, Livraria Portugal, 1941, p. 29; Margarida Elias, Columbano no seu Tempo (1857-1929), Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2011 (Tese de Doutoramento).

4 comentários:

APS disse...

Agradeço e gostei muito do seu poste que me deu muito a conhecer a fase parisiense de Columbano.
Boa tarde.

Margarida Elias disse...

APS - Andava para fazer este poste há algum tempo . hoje enchi-me de paciência :-) Boa tarde e obrigada!

MR disse...

Gostei muito. O Café Bas-Rhin já me apareceu algures... Acho que ficava perto da Sorbonne.
A Margarida já fez este itinerário? Um dos últimos que fiz foi o de António Nobre. Ou terá sido o de Mário Sá Carneiro?
Bom dia!

Margarida Elias disse...

MR - Já não vou a Paris há 20 anos... Deve ser um belo itinerário - este ou o que fez. Bom dia!