quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Paris I - «Origem dos cafés em França»

Etablissement de la nouvelle Philosophie. Notre berceau fut un caffé - Café Procope, Paris: men and women chatting over drinks. Aquatint. Wellcome Collection. Public Domain Mark. Source: Wellcome Collection.
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«Há perto de 180 annos, um armenio por nome Pascal, que veio a França na comitiva de Soleymâo-pachá, embaixador da Porta ao monarcha Luiz XIV, arvorou na feira de Saint-Germain um barraca, diante da qual a multidão se detinha embasbacada. Pascal vendia por um preço correspondente pouco mais ou menos a 30 réis uma chavena de infusão de café. Era isto então novidade tamanha que só os mais ousados se deliberavam a saborear o liquido desconhecido, a respeito do qual se referiram historias incriveis, que a credulidade publica acolhia sem reparo. Quando se viu que o café não envenenava, nem fazia perder o uso da rasão, nem perturbava qualquer das faculdades do espirito ou do corpo, foi se resolvendo a gente a pouco e pouco, e não tardou a concorrencia a encher a barraca do armenio, cujo nome em breve se tornou popular.
Satisfeito com tão bom êxito, fechada a feira de Saint-Germain, o mesmo homem abriu em Paris o primeiro café permanente no caes d’Ecole. Frequental-o foi por algum tempo moda: mas prompto acabou e Pascal deixou Paris passando a Londres. Outro armenio, chamado Maliban, tratou então de reanimar o enthusiasmo publico a favor do café. O segundo estabelecimento, sito na rua de Mazarin, teve com pouca diferença a sorte do primeiro; porém, não tardou a haver competência: fundaram-se dois cafés simultaneamente, um na ponte de Norte-Dame [sic], outro na rua de St. André des Arts, e ao mesmo tempo um coxo andava de casa em casa, de loja em loja, vendendo café que elle mesmo preparava á vista dos consumidores, por preço de um vintem a chavena incluido o assucar.
Um siciliano, chamado Procopio, teve o telento que até alli faltára aos seus predecessores. Entendeu que os francezes não podiam consumir o café como os orientaes, solitarios, e concebeu o pensamento de crear primeiro que tudo um local de reunião, elegante e aconchegado, onde o prazer de saborear o novo licor fosse tão somente um prazer accessorio. Depois de tentar primeiro ensaio na feira de Saint-Germain, como o seu antecessor Pascal, abriu na rua des Fossés-Sain Germain defronte do teatro francez o celebre estabelecimento que ainda hoje existe com o nome de Café-Procope. Desde então enraizou-se o uso do café em França: no tempo de Luiz XV já se contavam em Paris mais de 600 botequins; e as províncias, imitando a capital, consideraram-se na necessidade de possuir tambem estabelecimentos do mesmo genero».
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in Revista Universal Lisbonense, N.º 30, 4 de Aril de 1852 359-360.
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P.S. - Pergunta que me fica: sem café (e Procópio) teria existido Revolução Francesa em 1789?

2 comentários:

APS disse...

Muito interessantes estas origens, por terras de França, que eu desconhecia - obrigado!
Bom dia.

MR disse...

Vou gostar desta série. Gosto imenso de cafés.
Quanto á sua pergunta: sabe-se lá!...
Bom dia!, com um ☕