domingo, 16 de maio de 2010

O Passeio Público

Pintura de Leonel Marques Pereira, O Rei D. Fernando no Passeio Público (1856, Palácio Nacional da Pena, Sintra).
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«Ideia do marquês de Pombal que em 1764 se adiantara manifestamente aos desejos da cidade, o Passeio ficou deserto de público durante três gerações (...).
Logo em 34, mal acabara a guerra civil, o Passeio foi objecto de cuidados: estudaram-se modificações, alargamentos, procurou-se desimpedi-lo de barracas que se tinham construído nas suas imediações - e, sobretudo, sempre debaixo da orientação do arquitecto municipal Malaquias Ferreira Leal, substituíram-se os seus muros de poiais, de velha quinta provinciana, que Reinaldo Manuel traçara, por cortinas de grades, como as das Tulherias, inauguradas em Abril de 40. Um lago com grande repuxo, um obelisco, estátuas de figuras marinhas, de sereias e de tritões, outras duas representando o Tejo, de Alexandre Gomes, e que tinham sido feitas perto de 1780 para o um grande chafariz barroco (...).
«Fui ao Passeio ver o repuxo / Fiquei admirado com tamanho luxo», cantarolava-se já - mas quem o lançou definitivamente nos hábitos citadinos foi o rei D. Fernando (...).
(...) o local, iluminado a gás, em grandes festejos, em 51, com o seu coreto e os seus concertos, as suas exposições de flores, o seu vaivém mundano, ia representar um papel de relevo na crónica lisboeta durante o romantismo (...).
Em 63 um «Guia do viajante» assegurava que o Passeio «era frequentado pela melhor sociedade da capital que nos dias aprazíveis da Primavera e do Estio aí vai gozar o balsâmico aroma das flores e os melodiosos sons de uma música marcial» - mas desde 59 que a sua vida estava ameaçada; a ideia de romper uma grande avenida que o substituísse e ultrapassasse, correndo, por S. Sebastião, até ao Campo Pequeno, ou até ao Campo Grande, ia ganhando corpo e provocando polémicas. (...) As obras de demolição começaram porém 79, inexoravelmente, e em 82 desapareceram os gradeamentos que definiam o velho jardim sentimental».
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José-Augusto França (1990).

2 comentários:

ana disse...

Muito interessante!
Já não vou há muito tempo ao Palácio da Pena. tenho saudades dos passeios em Sintra.

Vi esta pintura mas já não me lembrava. O texto é delicioso!
Obrigada.

Margarida Elias disse...

E a Pena é obra de D. Fernando. Também tenho saudades de ir a Sintra.:)