Cerca de 1910, Georges Victor-Hugo (1868-1925) pintou Dora vue de dos (Museu d'Orsay, Paris). Esta obra faz-me lembrar outras em que as mulheres são representadas vistas de costas, não se vendo o seu rosto, o que, na prática, é a negação do retrato (no sentido tradicional). Não são, portanto, retratos, mas exercícios de pintura feitos a partir de um modelo.
No blogue The Blue Lantern , Jane Librizzi fala acerca deste tema na pintura, a propósito da obra de Vihelm Hammershoi (1864-1916), Hvile - Repouso (1905, Museu d'Orsay, Paris), dizendo que «the convention of posing a (female) model with her back to the viewer was well established by the time Hammershoi used it».
Já me referi a essa pintura no meu blogue, mas aqui fica de novo:
Para ser sincera, desconheço quem começou esta tradição, mas o assunto interessa-me.
Carolus-Duran (1837-1917) também o interpretou no quadro Study of Lilia (1887, National Gallery of Art, Washington):
E aqui fica outro exemplo, um pouco diferente, pintado por Columbano (1857-1929), em 1924:
Carolus-Duran (1837-1917) também o interpretou no quadro Study of Lilia (1887, National Gallery of Art, Washington):
E aqui fica outro exemplo, um pouco diferente, pintado por Columbano (1857-1929), em 1924:
Neste caso a senhora mal se vê, pois está escondida no fundo do quadro e imersa na mais densa penumbra.
Todas estas obras têm em comum o intimismo proporcionado pela figura de costas para o espectador, interpretada de maneiras diferentes consoante os interesses de cada artista.
A propósito deste tema, achei interessante a frase citada no mesmo blogue The Blue Lantern, ainda no âmbito da pintura de Hammershoi:
«We live life forward but understand it backward.»
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Soren Kierkegaard.
8 comentários:
Gosto muito deste exercício de pintura porque deixa sempre no ar o mistério...
Como é que será o olhar destas mulheres?
Porque escondem o rosto?
No entanto, a beleza impera na tela e o tema toca-me, não provoca indiferença muito pelo contrário atrai-me.
Boa noite, Margarida.
Bjs :)
Um post muito interessante e intrigante. Nunca tinha pensado neste tema. E agora, fiquei intrigada.
Bom Dia, Margarida! :-)
Ana: tem tazão, são muheres sem rosto, mas nem por isso menos belas. Bj e bom dia!
Sandra: É mesmo intrigante. Não só é desconcertante a figura virada de costas para o espectador, como não sei quem teve primeiro esta ideia. Os quadros anteriores ao século XX que vi com mulheres de costas eram de nus, o que tem uma leitura muito diferente...
Bj e bom dia!
P.S. Aqui está muita chuva e vento. E aí, na Holanda?
P.S. Por acaso notei (agora) que a "Primavera de Stabiae" está quase de costas e vestida.
Hoje esteve sol, Margarida! Tao bem que soube! Claro que ja estavamos todos na rua que nem coelhos. Mal abre um bocadinho, deixamos tudo e vamos para a rua. Os horarios aqui sao diferentes dos Portugueses. Entra-se a 8 h/9h (mais normal as 8h) e sai-se as 16h/17h (mais normal as 16h), as 18h janta-se, as 19h30, as criancas ja dormem (juro!) e o resto e para descansar.
Que venha o sol, depois de um 2010 tao cinzento. O melhor ano foi 2008. Que Primavera gloriosa!
Pois... devia definitivamente mudar-me para a Holanda. Ia dar-me bem com esses horários. Aqui não há nada de sol. É tanto o vento que mete medo. Bj!
É uma perspectiva que sai do âmbito das nossas expectativas. Estamos de facto mais habituados à perspectiva mais frontal. Mas são lindíssimas, sem dúvida, a Margarida fez uma selecção de excelência.
Sara: Ando à procura de mais... E obrigada!
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