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Bruno Latour, no seu ensaio Jamais fomos modernos, refere que o «tempo que o calendário marca situa claramente os
acontecimentos em relação a uma série regular de datas mas a historicidade
situa os mesmos acontecimentos em relação à sua intensidade». Esta é uma verdade, que ele associa a uma observação de Nietzche, segundo a qual «os modernos têm a
doença da história. Querem guardar tudo, datar tudo, porque pensam ter rompido
definitivamente com seu passado. Quanto mais revoluções eles acumulam, mais
eles conservam, quanto mais capitalizam, mais colocam no museu». Latour pergunta: «Estaremos
realmente tão distantes de nosso passado quanto desejamos crer?». Na realidade, como ele verifica, o «passado
permanece, ou mesmo retorna. E esta ressurgência é incompreensível para os
modernos. Tratam-na então como o retorno do que foi recalcado. Fazem dela um
arcaísmo». Para os "modernos" tudo «aquilo que não avança no ritmo do progresso é
considerado (...) como arcaico, irracional ou conservador». Contudo, Latour ainda pergunta: «Há algum país que não seja uma “terra de contrastes”?».
Latour propõe uma nova maneira de encarar a temporalidade: «Suponhamos, por exemplo, que nós reagrupamos os elementos contemporâneos ao longo de uma espiral e não mais de uma linha. Certamente temos um futuro e um passado, mas o futuro se parece com um círculo em expansão em todas as direcções, e o passado não se encontra ultrapassado, mas retomado, repetido, envolvido, protegido, recombinado, reinterpretado e refeito (...). Em um quadro deste tipo, nossas acções são enfim reconhecidas como politemporais». E, de facto, citando Clio de Péguy e Michel Serres «somos trocadores e misturadores de tempo». Não somos tradicionais, pois a «idéia de uma tradição estável é uma ilusão da qual os antropólogos há muito nos livraram. Todas as tradições imutáveis mudaram anteontem». A questão a ponderar é que «nunca avançamos nem recuamos. Sempre selecionamos ativamente elementos pertencentes a tempos diferentes. (...) É a seleção que faz o tempo, e não o tempo que faz a seleção. (...) É a ligação entre os seres que constitui o tempo». Nesta nova noção do tempo há ainda uma outra questão a reter, já sgerida por Serres, em 1989: «A história não é mais simplesmente a história dos homens, mas também a das coisas naturais».
Latour propõe uma nova maneira de encarar a temporalidade: «Suponhamos, por exemplo, que nós reagrupamos os elementos contemporâneos ao longo de uma espiral e não mais de uma linha. Certamente temos um futuro e um passado, mas o futuro se parece com um círculo em expansão em todas as direcções, e o passado não se encontra ultrapassado, mas retomado, repetido, envolvido, protegido, recombinado, reinterpretado e refeito (...). Em um quadro deste tipo, nossas acções são enfim reconhecidas como politemporais». E, de facto, citando Clio de Péguy e Michel Serres «somos trocadores e misturadores de tempo». Não somos tradicionais, pois a «idéia de uma tradição estável é uma ilusão da qual os antropólogos há muito nos livraram. Todas as tradições imutáveis mudaram anteontem». A questão a ponderar é que «nunca avançamos nem recuamos. Sempre selecionamos ativamente elementos pertencentes a tempos diferentes. (...) É a seleção que faz o tempo, e não o tempo que faz a seleção. (...) É a ligação entre os seres que constitui o tempo». Nesta nova noção do tempo há ainda uma outra questão a reter, já sgerida por Serres, em 1989: «A história não é mais simplesmente a história dos homens, mas também a das coisas naturais».
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Bruno Latour (1991).
4 comentários:
Muito denso, Margarida.
O Tempo, este devorador, quase sempre nos apavora. Você tratou do tema com muita serenidade. E me fez lembrar das posições de Bergson (defensor da duração, ou da continuidade do tempo) e de Roupnel (que queria o tempo descontínuo, feito de instantes). Ainda busco uma síntese para esse debate. Aqui e agora (como gostaria Roupnel que eu dissesse) penso que a duração de Bergson, ou a tradição ou o passado são fragmentos de tempo que se cristalizam num espaço fantástico chamado Imaginário (pessoal ou coletivo).
Eu só tenho a agradecer pela exuberância de seu texto. E pela bela imagem (!) que o acompanha. Gostei muito.
Abraço.
Gilson.
Ia me esquecendo: ficou muito bonito o Memórias e Imagens de roupa nova.
Abraço.
Gilson.
Gilson: Gostei muito do seu ponto de vista. O tema do tempo interesa-me muito, sobre múltiplos pontos de vista. Obrigada pelo seu contributo e pelo elogio!
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