quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Natureza morta - o problema do assunto

Clara Peeters, Still Life with Cheeses, Artichoke, and Cherries (c.1625, Los Angeles County Museum of Art - via Gandalf's Gallery )
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Em teoria, a história da verdadeira natureza morta começa somente quando um objecto, ou uma reunião de objectos, é apresentado/a num quadro de cavalete e, deste ponto de vista, a história do género só pode ter início cerca de 1600, na Itália e nos Países Baixos. É, no entanto, mais válido, considerar que uma figuração pictural feita de objectos, qualquer que seja a sua técnica, com ou sem significado simbólico, no momento em que é uma obra de arte, é uma natureza morta. Nem o carácter de ilusionismo, nem a função decorativa, nem o facto de comportar um conteúdo espiritual, impede de considerar as naturezas mortas anteriores a 1600 num mesmo plano artístico, que as que se realizaram até aos nossos dias.
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Ao observar-se os assuntos que usualmente se podem ver em todas as pinturas, pode-se notar que se dividem, em linhas gerais, em três categorias: o homem e os temas a ele ligados; a natureza e toda a vida que ela comporta; e as coisas, os objectos sem vida, ou de uma vida vegetal precária, cuja imobilidade faz assimilar às coisas inanimadas. Na maior parte das vezes, os pintores reuniram estes motivos ou combinaram alguns deles, mas também acontece serem apresentados separadamente.
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Georgia O’Keefe, Large Dark Red Leaves on White (1925 - via Still life quick heart)
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A natureza morta é composta por objectos artificiais ou naturais que o homem se apropria para seu uso ou prazer; frequentemente mais pequenos que nós e ao alcance da nossa mão. Se bem que associados ao sentido da visão, pelo facto de ser uma pintura, fazem apelo a todos os sentidos. Os objectos escolhidos para a natureza morta estão relacionados com valores particulares: íntimos, domésticos, gostativos, artísticos. Ligam-se a determinadas vocações profissionais, ao luxo e decoração, mas também à recusa, aos símbolos de vanita, lembrando a efemeridade das coisas terrenas.
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Sheila Tolley, Autumn Still Life (1995 - via Still life quick heart)
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Uma natureza morta é o exemplo máximo, em arte, de algo que se pode dispor, modificar e ordenar livremente, sendo por isso conectada com a liberdade artística. É o sentimento que guia a imaginação do artista e que determina a escolha e a disposição dos objectos. Apesar desses objectos pertencerem à vida quotidiana, as naturezas mortas tendem a apresentar-se como intemporais e sem localização precisa. 
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Uma pedra representada numa paisagem não tem a mesma carga emotiva que a mesma pedra isolada sobre uma mesa. Ao operar esta separação, o artista empreende uma escolha intelectual e poética, que quebra a unidade do mundo e tira o objecto inanimado do conjunto orgânico que lhe conferia um sentido natural. O pintor aborda o objecto com o seu temperamento, o que se traduz num diferente tratamento consoante a sua sensibilidade e interesses pessoais, intelectuais, espirituais e artísticos.
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Bibliografia:
Meyer Schapiro, Style, Artiste et Societé, Paris, Gallimard, 1982.
Charles Sterling, La Nature Morte: de l'Antiquité à nos Jours, Paris, Pierre Tisné, 1952.

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