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Não aprecio política e fujo das notícias como o diabo da cruz. Cresci numa época em que era normal ver o telejornal à hora do jantar, mas não consigo obrigar os meus filhos a isso. Porquê? Por inúmeras razões, sendo que as principais prendem-se com o tipo de jornalismo que se faz hoje em dia.
Quando eu era pequena, o telejornal demorava cerca de 30 minutos e tinha uma sequência lógica. Começava com as notícias políticas e económicas do país, passava para as notícias internacionais, depois ia para o desporto e factos culturais. No fim, apareciam as reportagens brilhantes do Fernando Pessa, que terminavam com o «E esta, hein?»
Não se viam mortes horríveis, nem jornalistas a entrevistaram uma pessoa com a casa em chamas e a perguntarem-lhe: «como é que se sente?» A última vez que acho que vi o telejornal com atenção foi quando um jornalista, à hora do jantar, se lembrou de dizer: «as seguintes imagens podem chocar algumas pessoas». E depois tive o "prazer" de ver, enquanto jantava, uma pessoa a auto-imolar-se. Acho imoral, Assim como acho amoral que se coloquem as notícias do futebol ao mesmo nível que a dos refugiados sírios, ou outra desgraça qualquer, isto enquanto se conta a história de um divórcio de celebridades. Não consigo obrigar ninguém, incluindo eu própria, a passar por esta provação.
Dito isto, dirijo-me à questão que motivou este "post", tão incaracterístico deste blogue. Se há coisa que me põe os "nervos em franja" é o facto de certas pessoas aceitarem tudo o que fazem os governos conservadores de direita e, muitas vezes, aplaudirem. Vem um governo de esquerda, e ainda antes de este ter feito alguma coisa, subitamente, desata tudo a reivindicar. E reivindicam mesmo contra as leis que antes tinham aplaudido!
Acho normal as pessoas mudarem de ideias. Eu tenho poucas certezas e arrepiam-me as pessoas que só têm certezas. Mas não acho normal uma pessoa mudar de ideias consoante os governos que estão à frente e cheira-me a oportunismo. Parece-me que as pessoas perante um governo conservador acham que têm de aceitar tudo de orelhas baixas. Mas, perante um governo mais liberal, sentem-se no direito de protestar por qualquer coisa, alto e bom som. E dão-se ao luxo de atribuir culpas a quem não tem culpa.
Não sei o que disse António Costa (porque não vejo notícias), mas vi uma pessoa a queixar-se de que os filhos estão demasiado tempo na escola. Ora, quem inventou que os pais deviam estar 40 horas / semana no trabalho foi o governo anterior. Se as crianças não tiverem avós que tomem conta delas, obviamente que têm de ficar na escola ou no ATL. E nem sequer é 40 horas. É mais 1 hora por dia, contando que os pais depois de deixarem e antes de irem buscar as crianças, têm de se deslocar e não possuem o dom do tele-transporte.
Graças, talvez, à minha formação em História, tenho o hábito de saber atribuir o seu a seu dono. Sou tão capaz de criticar um governo de esquerda como um de direita. Apesar de ser de esquerda, se alguém de direita fez alguma coisa boa, sou capaz de a aplaudir. Se alguém de esquerda fez alguma coisa de que discordo, sou capaz de a criticar. Tenho os meus valores e as minhas ideias, muitas dúvidas. Quando mudo de ideias, tenho a humidade de o admitir, mesmo que me custe no orgulho. Aliás, uma das poucas certezas que tenho é de que não existem pessoas perfeitamente boas, nem perfeitamente más, em qualquer quadrante político, social ou religioso. Talvez por isso, não consigo aderir a nenhum partido político actual.
E sempre detestei este esquema português de obrigar os pais a estarem horas sem fim no trabalho quando têm crianças pequenas, que ficam horas sem fim na escola. Aliás, acho que devia haver uma carga menor de horário para famílias com crianças pequenas (por exemplo com menos de 12 anos), assim como para pessoas que têm a seu cargo pessoas idosas e/ou doentes. Seria mais justo, seria mais lógico.
Tenho dito.